ESTRUTURA
Com duração prevista de quatro anos, o projeto foi estruturado em três eixos complementares e que se fortalecem mutuamente, promovendo: 1) agricultura sustentável e sistemas alimentares ide baixo carbono; 2) conservação por meio do uso sustentável da sociobiodiversidade e do fortalecimento das áreas protegidas; 3) fortalecimento de políticas públicas e privadas e práticas de segurança hídrica e alimentar, manejo sustentável da paisagem e redução da conversão de ecossistemas. “Na prática, o CERES será um grande laboratório socioambiental, identificando e testando soluções com potencial de serem disseminadas para outras localidades além daquelas onde incidiremos diretamente”, explica Carolina Siqueira, Coordenadora de Conservação do WWF-Brasil. “Ao fim do projeto esperamos deixar um legado permanente de desenvolvimento sustentável e inclusivo para o Cerrado”, conclui.
A implementação do projeto a está baseada em uma abordagem integrada da paisagem com plataformas multi-stakeholders, instrumentos de participação social e o aprimoramento de mecanismos técnicos e financeiros de recuperação ambiental. Essas redes disseminarão boas práticas agrícolas, dando mais robustez a cadeias de valor da sociobiodiversidade, com foco e no fortalecimento de políticas e sistemas de gestão de recursos hídricos e fundiários.
O CERES também visa apoiar a redução do desmatamento no Cerrado, o que significa que também haverá interlocução com produtores de maior escala para soluções mais sustentáveis para a ampliação de área produtiva através da reabilitação de áreas degradadas, para reduzir a pressão por mais conversão de vegetação nativa.
O TAMANHO DO DESAFIO
O Cerrado se depara com uma contradição: os próprios recursos ambientais que fundamentam a produtividade agrícola não são valorizados, criando um cenário em que é mais vantajoso no curto prazo converter a terra para uso econômico do que protegê-la. A pressão pela produção de commodities fez com que o bioma se tornasse uma das maiores e mais ativas frentes de desmatamento do mundo. Na última década, o Cerrado sofreu com taxas de desmatamento mais elevadas do que a Amazônia. No acumulado dos últimos 50 anos o Cerrado perdeu mais da metade de sua vegetação original, com sua biodiversidade ameaçada pela perda e fragmentação de habitat.
Embora a expansão da agricultura no Cerrado tenha tido um impacto positivo na economia brasileira nas últimas décadas, os efeitos negativos sobre o meio ambiente e as comunidades locais já são sentidos há muito tempo também. A mudança no uso da terra com conversão para monocultura ou pasto causou fragmentação da paisagem, degradação ambiental e deslocamento e isolamento das comunidades rurais.
As práticas agrícolas de monocultivos diminuem a capacidade de infiltração do solo, causando erosão e aumentando o escoamento das águas pluviais, levando sedimentos e poluentes aos cursos d’água. O assoreamento dos cursos de água agrava a escassez de água durante a estação seca e contribui para inundações durante a estação chuvosa. Várias comunidades locais viram seus cursos d’água secarem ou serem contaminados.
A produção em monocultura também leva à perda de variedades de sementes de culturas tradicionais e à erosão genética. Alterações no ciclo hidrológico já foram atribuídas a uma sequência de anos com extensos incêndios florestais e o desmatamento tem exacerbado a estação seca.
Muitos territórios tradicionais estão rodeados por monoculturas, com quem concorrem no acesso aos recursos naturais dos quais tradicionalmente dependem. Como resultado, além de outros processos como a contaminação do solo e da água, a especulação fundiária e a falta de infraestrutura e de acesso à saúde e educação, a emigração e a venda de terras para fazendeiros maiores se tornou mais comum.
PORQUE O CERRADO
Com mais de 2 milhões de km2, o Cerrado cobre a maior parte do Brasil central e pequenas áreas no Paraguai e na Bolívia. A savana mais biodiversa do mundo abriga 5% da biodiversidade do planeta, com uma alta taxa de endemismo, de cerca de 40%, e fornece conectividade entre os principais biomas da América do Sul, incluindo a floresta amazônica, a Caatinga, o Pantanal e a Mata Atlântica.
A bacia do rio La Plata, que abrange partes do Brasil, Paraguai, Bolívia, Argentina e Uruguai, tem 73% de suas águas oriundas do Cerrado. No caso do Brasil, 70% do território recebe águas do Cerrado. O maior aquífero do mundo, o Guarani, tem suas principais nascentes no Cerrado. O Cerrado nordestino é um elo fundamental no transporte da umidade atmosférica do Atlântico para a Amazônia, de onde segue para regiões mais ao sul no Brasil e para a Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Essa umidade é essencial para consumo humano, agricultura, indústria e energia hidrelétrica. Isso torna o Cerrado vital para a conservação da biodiversidade, abastecimento de água para consumo humano, agricultura, indústria, energia hidrelétrica, redução das emissões de gases de efeito estufa e segurança alimentar e hídrica em escala continental ou mesmo global.
A região do Cerrado produz 70% da produção agrícola do Brasil. Esta agricultura é uma das principais atividades econômicas do país, correspondendo a 44% das exportações do Brasil. Isso torna o Cerrado um ecossistema fundamental para a economia do país. Mas o Cerrado é mais que isso: ele presta serviços ecossistêmicos vitais como o fornecimento de água superficial, subterrânea e atmosférica para grande parte da América do Sul.
Sobre o ISPN
O ISPN é uma organização da sociedade civil sem fins econômicos e desde 1990 atua pelo desenvolvimento com equidade social e equilíbrio ambiental, por meio do fortalecimento de meios de vida sustentáveis e estratégias de adaptação e mitigação às mudanças do clima. A organização acredita que um dos meios para promover a conservação da natureza e enfrentar as desigualdades sociais é o apoio a povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares no desenvolvimento de atividades sustentáveis em paisagens produtivas.
Sobre o WWF-Brasil
O WWF-Brasil é uma organização não-governamental brasileira e sem fins lucrativos que trabalha para mudar a atual trajetória de degradação ambiental e promover um futuro em que sociedade e natureza vivam em harmonia. Criado em 1996, atua em todo Brasil e integra a Rede WWF.(Visited 1 times, 1 visits today)