Mesmo podendo ter algumas lembranças dolorosas do passado, o contexto em que a menina vive hoje, acolhida por novos pais, faz com que traços já vividos se dissipem para dar lugar à nova realidade.

Quem vê a Gabriela, de nove anos, vaidosa, com laço no cabelo, unhas pintadas de rosa e gloss nos lábios não imagina que há pouco mais de dois anos vivia próximo a uma boca de fumo, no Beco do Candeeiro, em Cuiabá, em um ambiente totalmente insalubre, perigoso e exposta a todos os tipos de riscos. A avó materna a entregou para adoção no ano passado por não querer para a neta o mesmo destino da filha, do genro e dos outros dois netos: envolvimento com drogas, violência, abandono e experiências traumáticas.

Mesmo podendo ter algumas lembranças dolorosas do passado, o contexto em que a menina vive hoje, acolhida por novos pais, faz com que traços já vividos se dissipem para dar lugar à nova realidade, com o quarto novo, os brinquedos favoritos e uma casa onde amor e carinho têm de sobra.

Tudo isso só foi possível após Alex e Elisandra Fortunato se cadastrarem no Projeto Padrinhos, da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja) do Poder Judiciário de Mato Grosso. Depois de algumas tentativas, tanto de apadrinhamento afetivo (quando levavam a criança acolhida dos lares para passar fim de semana e feriado em casa), quanto de apadrinhamento provedor (patrocinando curso para adolescente), Gabriela surgiu na vida deles e foi amor à primeira vista, como define a mãe.

A própria Gabriela tem a consciência e sente o carinho que recebe quando agradece aos pais, Alex e Elisandra Fortunato, ao colocar a mãozinha no coração dos dois, dizendo que foi ali que foi criada. A menina não ia à escola, não sabia ler e escrever. Hoje está sendo alfabetizada, está matriculada em uma escola e recebe aulas particulares em casa.

Carentes de tudo, mas, principalmente do amor de uma família, crianças e adolescentes adotadas tardiamente têm a esperança de realizarem o sonho de terem um lar. E esse será o primeiro Dia das Crianças em que Gabriela vai comemorar com os pais, um dia que, segundo a criança, será de muito passeio e alegria.

A mãe Elisandra conta que quando houve a intenção de adotar uma criança, após sofrer dois abortos espontâneos, a faixa etária pretendida era de zero a três anos, depois zero a cinco anos, mas, posteriormente, ‘abriram a mente’ e perguntaram: por que não uma criança mais velha? Foi quando conheceram Gabriela. Relata, com muita emoção, que fizeram a aproximação com o apadrinhamento afetivo da menina por 45 dias e, logo, o apego e o amor foram tão grandes que fizeram a solicitação da guarda provisória. Agora, aguardam a destituição do poder familiar para entrarem com pedido da guarda definitiva.

Hoje, a vida do casal mudou 100%. O pai, Alex, diz que tudo o que fazem é pensando na filha e no bem-estar dela.

Viver a realidade da adoção tardia e ao mesmo tempo realizar desejo de ser pai e mãe vai muito além de se formar uma família. Tudo isso traz um grande significado para os envolvidos, em especial para a criança que passou por unidades de acolhimentos.

Com a chegada de Gabriela o amor é tanto que Alex e Elisandra esperam pela guarda definitiva da menina para buscarem, por meio de outra adoção, uma irmã para completar a família.

Fonte | G1

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