Outubro Rosa alerta sobre prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. O mês de outubro já é conhecido mundialmente por ações afirmativas relacionadas à prevenção e ao diagnóstico precoce da doença. E a psicologia pode contribuir no tratamento da mulher que passa pelo problema, ajudando-a a superar este momento tão difícil.  

A mulher com câncer passa por um misto de sentimentos, como raiva, tristeza, inquietação, ansiedade, angústia e medo. A psicologia, ao reconhecer a complexidade desta situação, atua de maneira multifacetada para ajudá-la. Uma ferramenta útil é identificar e modificar pensamentos que podem intensificar as emoções negativas. Uma mulher pode, por vezes, se pegar pensando coisas como “eu nunca vou melhorar” ou “é culpa minha”, e a terapia ajuda a reestruturar esses pensamentos, buscando um ponto de vista mais adaptativo. 

Outra estratégia de intervenção vai na direção de reconhecer as emoções sem julgamento, ao mesmo tempo em que se busca compromisso com comportamentos que reflitam os valores daquela mulher. Assim, mesmo em meio à adversidade e ao medo, ela pode encontrar forças para, por exemplo, priorizar momentos de qualidade com sua família. Além disso, um psicólogo pode ajudar com habilidades de regulação emocional, que são processos pelos quais a pessoa consegue controlar as emoções que sente, quando elas aparecem e como são expressas.

A família também pode ser uma fonte bem importante de apoio. Algumas maneiras pelas quais a família pode ajudar são as seguintes: 

  • Manter a comunicação aberta e clara. Discutir medos, preocupações e esperanças pode fortalecer os laços familiares. Ouvir e compartilhar sentimentos pode fazer uma grande diferença
  • Executar ou ajudar em tarefas cotidianas, como cozinhar, limpar, fazer compras, cuidar de crianças, e até mesmo auxiliar na administração de medicamentos pode aliviar o fardo sobre a pessoa doente
  • Acompanhar a mulher nas consultas médicas, fazer perguntas e tomar notas. Isso não apenas fornece apoio moral, mas também ajuda a compreender melhor a doença e o tratamento, possibilitando à família ser mais proativa em cuidados e decisões
  • Promover momentos de qualidade juntos, como jantares, jogos ou assistir a um filme juntos, podem proporcionar alívio e uma sensação de normalidade

É importante observar que, eventualmente, a  família pode também precisar de apoio. Participar de grupos de apoio para familiares, conversar com um terapeuta ou simplesmente compartilhar sentimentos com amigos pode ser benéfico.

Lidando com a aparência 

Estamos vivendo na era em que a aparência física é muito cobrada, principalmente pelas mulheres, e a beleza também é afetada pela doença. Sem dúvidas, as mudanças na aparência, como a perda de cabelo, cílios e sobrancelhas, devido à quimioterapia, podem adicionar uma camada extra de sofrimento emocional. Em primeiro lugar, é crucial reconhecer que a tristeza ou a raiva pela perda da própria imagem não é algo superficial ou de pouca importância. 

Dito isso, a psicoterapia pode oferecer um espaço seguro para processar esses sentimentos e ajudar a mulher a encontrar maneiras de cuidar do seu senso de valor e autoestima, independentemente de sua aparência. Além disso, vale observar que existem muitos recursos estéticos disponíveis, desde perucas e lenços até maquiagem especializada para sobrancelhas e cílios. Por fim, lembrar a mulher que o cabelo, cílios e sobrancelhas geralmente voltam após o tratamento pode ajudar na aceitação. 

Após todas essas superações, a mulher ainda tem que lidar com o pós-tratamento, assunto pouco comentado. Apesar do alívio que muitas vezes acompanha o término de um tratamento bem-sucedido, é altamente recomendável que a mulher faça acompanhamento psicológico após o tratamento. Muitas mulheres descrevem o pós-tratamento como uma tentativa de encontrar uma “nova normalidade”. A vida não simplesmente volta ao que era antes do diagnóstico, e a adaptação a essa nova realidade pode ser facilitada com o apoio de um psicólogo. 

Além disso, a possibilidade de a doença voltar é um elemento que traz muito medo e ansiedade, o que pode interferir significativamente na capacidade de desfrutar da vida cotidiana. Por fim, é fundamental que a mulher precise de ajuda para aderir à reabilitação física, adotar um estilo de vida saudável e manter o acompanhamento médico.

Sobre Jan Luiz Leonardi:
Jan Luiz Leonardi possui graduação em Psicologia pela PUC-SP, especialização em Terapia Comportamental pelo Paradigma, formação em Terapia Comportamental Dialética pelo Behavioral Tech, mestrado em Psicologia Experimental pela PUC-SP e doutorado em Psicologia Clínica pela USP. Foi vice-presidente da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC) na gestão 2015-2016 e presidente da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidências (ABPBE) em 2022-2023. É autor de dezenas de artigos científicos e capítulos de livros. Atua como terapeuta, supervisor clínico e mentor de psicólogos, além de coordenar o Clube de Excelência em Psicologia Baseada em Evidências. Divulga conteúdo relacionado à psicologia todos os dias em sua conta no Instagram (@janleonardi). Saiba mais em janleonardi.com.br.

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