Um longo ritual carregado de simbolismos, costumes e riqueza cultural continua vivo entre os indígenas da etnia Bóe Bororo da Aldeia Tadarimana, que fica localizada cerca de 40 km do centro de Rondonópolis. O funeral bororo, tido como o mais importante ritual desse povo indígena, foi registrado em imagens e poderá ser eternizado para novas gerações a partir de um detalhado acompanhamento feito pelo fotógrafo César Augusto, em um trabalho para a Secretaria Municipal de Cultura.

Ao todo, o funeral Bóe Bororo estende-se entre 60 e 90 dias, tempo em que César Augusto esteve na Aldeia Tadarimana, associando os registros do ritual indígena com suas atividades laborais na cidade. Nesse período, ele captou a singularidade de todas as etapas desse funeral, composto por quatro fases: o primeiro enterro, a exumação, a ornamentação dos ossos, e o sepultamento final.

Em uma visão antropológica, César Augusto atesta que o funeral Bóe Bororo é muito rico e, para cobrir esse ritual, deixou de lado os conceitos de não-índio e incorporou o olhar indígena, sendo necessário sua convivência com os próprios índios durante o período dos rituais, quando ele teve que fazer pinturas corporais, adotar hábitos alimentares e aprender cumprimentos e gestos. “É a concretização de um sonho que sempre tinha. É uma felicidade enorme poder registrar os povos originários e poder eternizar sua cultura para futuras gerações”, ressaltou.

O fotógrafo discorre que, através das imagens, foi captado cada momento do funeral, desde a chegada do corpo do índio na aldeia, sendo colocado e envolto em esteiras. O corpo é enterrado inicialmente em uma cova rasa, sendo regado com água duas vezes ao dia. Periodicamente, os índios realizam cantos e danças. Mais à frente, o corpo é desenterrado, tem os ossos lavados e ornamentados com urucum e penas de aves, sendo por fim carregado à casa em luto e, posteriormente, levado para ser enterrado definitivamente em um cemitério tradicional Bóe Bororo.

O primeiro sepultamento é feito dentro da aldeia, na frente do Báito, a casa sagrada ou de ritual. O último sepultamento é realizado no cemitério da aldeia. “O momento mais marcante para mim foi a cerimônia de chegada daquele que partiu, dentro do Báito, após o processo de lavagem e enfeite dos ossos”, externa o fotógrafo, explicando que muitas cerimônias são marcadas pelo sentimento de dor intensa entre os indígenas. “Traduzindo pra nossa cultura, entendi que todo esse ritual é o preparo para que o espírito possa descansar em paz”, diz.

Esse rico acervo fotográfico do funeral vai estar disponível no arquivo da Secretaria Municipal de Cultura. “O funeral é uma das características mais singulares do povo Bóe Bororo, onde eles têm um tempo de velação do corpo, composto por várias ações. É muito rico culturalmente, em estética e em simbolismo… Como os Bóe Bororos são povos originários da nossa região nada mais justo que a Secretaria ter esse acervo, até para pesquisas futuras de estudantes e pesquisadores”, justificou o técnico em assuntos culturais da Secretaria Municipal de Cultura, José Roberto.

O fotógrafo César Augusto teve a autorização do cacique Cícero Kuduropa para a realização desse trabalho, a quem agradece o apoio recebido, assim como ao ex-cacique Marcelo Kuguiepa, ao chefe de cultura da Aldeia Tadarimana, Bosco Arquimedes, e ainda à Secretaria Municipal de Cultura de Rondonópolis.

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Via | Assessoria   Fotos | César Augusto

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