Santana Batista da Conceição contou que sempre que entrava em salas de aula era como funcionário, apenas para fazer reformas. Agora, começou a realizar um sonho. SoleTRE alfabetiza moradores de Mato Grosso desde 2019.

Para a maioria da população, ler e escrever são hábitos tão comuns quanto respirar, mas para outros nem tanto. Situação que por muitos anos deixou o pedreiro Santana Batista da Conceição, de 60 anos, aflito e inseguro. Mas isso começou a mudar: entrou em uma sala de aula pela primeira vez na semana passada, em Cuiabá.

Conceição é um dos alunos inscritos no projeto SoleTRE, criado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT) em 2019, para alfabetizar jovens e adultos que não tiveram a chance de estudar. Para ele, a iniciativa ofereceu uma nova oportunidade de vida.

“Foi a primeira vez que entrei em uma sala de aula para estudar mesmo. Eu já havia entrado em muitas escolas antes, mas sempre foi para trabalhar como pedreiro, fazendo reformas. Então, eu fiquei bastante emocionado”, contou.

O idoso sabe que a chance de poder aprender a ler e escrever será essencial no dia a dia dele e também na hora de votar.

“Para mim, que sou cidadão e eleitor brasileiro, isso é muito importante, porque agora eu vou poder assinar meu nome e também vou poder andar na rua com mais tranquilidade, já que vou saber ler as placas e saber o nome das ruas”, concluiu.

Importância que ajudou a aposentada Lindaura de Jesus, de 60 anos, a conseguir a sua própria independência. Ela mora com a filha caçula, de 22 anos, e está finalmente conseguindo se locomover pela cidade sozinha.

Ela mora com a filha caçula, de 22 anos e está finalmente conseguindo andar sozinha. — Foto: Amábile Monteiro/g1

Ela mora com a filha caçula, de 22 anos e está finalmente conseguindo andar sozinha. — Foto: Amábile Monteiro/g1

“Eu não sabia nada, nem ler e nem escrever. Aqui eu já consegui aprender a escrever o meu nome, tanto que já assinei nas duas últimas eleições. Antes eu nem conseguia andar sozinha, eu tinha medo de andar de ônibus e ficar perdida, agora já não preciso mais ter medo”, explicou.

Para a professora da turma, Sofia Fernandes Moura de Paula, o trabalho é gratificante.

“Eu me sinto muito bem e feliz por poder levar a eles um pouco de conhecimento. Além de tudo, é muito bom saber que eu estou ensinando alguma coisa e, principalmente, que eles vão aprender, por mais que possa demorar um tempo”, ressaltou.

Na pandemia, como as aulas tiveram que ser paralisadas, a professora ia até a casa dos alunos para ministrar as aulas.

“Eu tentei dar as aulas de forma remota, por celular e tudo, mas como não deu certo, eu achei melhor eu ir diretamente até a casa dos meus alunos. Fiquei um ano indo na casa de uma aluna duas vezes por semana”, falou.

De acordo com o TRE-MT, dos 2,4 milhões de eleitores que votam em Mato Grosso, cerca de 96,5 mil são analfabetos.

O projeto SoleTRE foi criado em 2019, por meio do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT), para alfabetizar eleitores adultos e idosos. — Foto: Amábile Monteiro/g1

O projeto SoleTRE foi criado em 2019, por meio do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT), para alfabetizar eleitores adultos e idosos. — Foto: Amábile Monteiro/g1

SoleTRE

O projeto SoleTRE foi criado em 2019, por meio do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT), para alfabetizar eleitores adultos e idosos.

Segundo a técnica judiciária, Sueli Shimada, desde que o projeto foi criado, 87 eleitores já foram alfabetizados e o objetivo é continuar levando ensino e conhecimento aos que precisam.

“A proposta é inserir o eleitorado analfabeto no contexto eleitoral, seja para passar noções de cidadania ou permitir que eles exerçam o voto de modo consciente. Muitos dos nossos antigos alunos relataram que eram como cegos na multidão, mas que a partir da alfabetização, eles começaram a enxergar o mundo com outros olhos”, contou a técnica.

Via | G1   Fotos | Amábile Monteiro
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