Na maior metrópole da Amazônia, empresas ganham suporte para avançar nas estratégias de sustentabilidade com investimentos na bioeconomia
A agenda ESG, guiada por critérios ambientais, sociais e de governança corporativa, ganha impulso no Polo Industrial de Manaus (PIM), no coração da maior floresta tropical do planeta. Do setor eletroeletrônico aos fabricantes de motocicletas, é crescente o número de empresas que buscam aproximação com startups, incubadoras de inovação, universidades e institutos tecnológicos da região para investimentos em soluções voltadas a reduzir impactos ao meio ambiente e desenvolver as cadeias produtivas da floresta, na perspectiva dos compromissos e metas empresariais de sustentabilidade. O termômetro desse movimento está nos resultados do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), política pública que mobiliza para o setor recursos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) obrigatórios por lei como contrapartida dos benefícios fiscais da Zona Franca de Manaus. Atuando desde 2019, com investimento de R$ 36 milhões em 34 projetos já concluídos ou em desenvolvimento até outubro de 2022, o programa tem o papel de promover o encontro entre a oferta e a demanda por investimento em inovação no campo da bioeconomia. Além de viabilizar o repasse desses recursos e contribuir na modelagem de bionegócios para chegada ao mercado, a estratégia possui um diferencial que ganha espaço: o suporte às empresas do PIM em suas estratégias ESG. “É uma chance para empresas que queiram associar suas ações socioambientais à visibilidade da Amazônia, com contribuição para manter a floresta em pé e uma nova economia no interior na Amazônia”, afirma Paulo Simonetti, líder de captação e relacionamento com o investidor do PPBio. Ele explica: “ao orientar recursos das indústrias   em novos negócios e produtos sustentáveis na Amazônia, fortalecemos a inclusão produtiva de comunidades que muitas vezes estão em situação de vulnerabilidade social e, por isso, podem entrar em atividades ilegais, como garimpo e desmatamento”. Encurtando caminhos No mundo, sob olhares de clientes e mercado financeiro, a agenda ESG está redirecionando o capital para atividades mais resilientes e sustentáveis, com previsão de atrair investimentos de cerca de US$ 53 trilhões até 2025, segundo estimativa da Bloomberg. Os riscos da mudança climática aos negócios e bem-estar no planeta são os principais indutores desse fluxo de recursos que abre novas frentes econômicas para países como o Brasil. Nesse cenário de desafios e oportunidades, ressalta Simonetti, as empresas do PIM ocupam posição estratégica diante da busca pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. O PPBio se propõe a fazer a aproximação entre as empresas que operam na Amazônia e a realidade ESG da região, trazendo oportunidades de negócio e desenvolvimento sustentável. “Identificamos no banco de projetos aqueles mais adequados aos objetivos da empresa ou articulamos a elaboração de novos, sob demanda”, afirma Simonetti. As possibilidades são variadas: vão desde tecnologias específicas para demandas internas até novos biosinsumos da Amazônia com inclusão socioprodutiva, bem como a destinação adequada de resíduos. “Nossa proposta é encurtar o caminho e diminuir o esforço das empresas investidoras em desenvolver projetos robustos de ESG na Amazônia”, completa. O objetivo, segundo Simonetti, é “construir um projeto que faça sentido para cada empresa e, também, para a Amazônia”. Para o diretor de inovação em bioeconomia do Idesam, Carlos Gabriel Koury, as oportunidades apresentadas no banco de projetos e os arranjos que o PPbio tem fomentado auxiliam as empresas do PIM a atender mais rapidamente seus compromissos ESG. “Há oportunidades concretas e perenes para que as empresas atinjam suas metas da área ambiental, social e até mesmo de governança”, diz o diretor. Isso permite às empresas cumprirem mais rapidamente seus compromissos nos diferentes níveis ESG: no interno, entre fornecedores e prestadores de serviços) e no seu ambiente (Amazônia), com a chancela dos 18 anos de atuação do Idesam na Amazônia. Nova matriz econômica A Zona Franca de Manaus reúne cerca de 450 empresas, com 103 mil empregos e faturamento total ao redor de R$ 158 bilhões em 2021, com destaque para o setor eletroeletrônico – fabricantes de celulares, televisores, computadores e componentes em geral. Segundo pesquisadores, ao concentrar grande parte do Produto Interno Bruto (PIB) da região e atrair populações para a capital amazonense, as indústrias do PIM contribuíram indiretamente ao longo das décadas para reduzir a pressão de atividades econômicas que degradam a floresta, no Amazonas. Atualmente, diante da demanda ambiental e social, ganha força o objetivo de valorizar o uso sustentável dos recursos naturais da Amazônia, com a busca do desenvolvimento de novos eixos produtivos e maior diversificação econômica, por meio de políticas públicas e dos recursos oriundos do faturamento das empresas. Dessa forma, segundo analistas, o desempenho produtivo das indústrias do PIM é chave importante para a injeção de capital na bioeconomia. Na Zona Franca de Manaus, principalmente no âmbito da Lei de Informática, há a obrigatoriedade do repasse de um percentual do faturamento para projetos de P&D. No campo da bioeconomia, o PPBio prevê diferentes modalidades de investimento – desde o aporte para soluções destinadas a reduzir impactos e resolver passivos ambientais internos das empresas até projetos para fora dos muros das fábricas, inclusive por meio da participação societária em bionegócios, com retorno financeiro. No suporte às metas de sustentabilidade na agenda ESG das empresas, o portfólio do PPBio destaca, por exemplo, soluções inovadoras para substituição de insumos de origem não renovável, a gestão de resíduos e o suporte a processo de produção de base comunitária. Os temas do banco de projetos incluem a prospecção da biodiversidade, tecnologias de suporte à produção florestal e negócios de impacto ambiental e social, entre outros. É o caso do software baseado em inteligência artificial, capaz de fazer a identificação botânica da madeira nas serrarias, evitando fraudes associadas ao desmatamento. A inovação, aprovada para receber investimento de R$ 819 mil da Samsung, foi proposta pela Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia com potencial de suporte à produção madeireira, com menor risco de exploração ilegal e predatória. O segmento “bio” e a tecnologia de informação são duas áreas do conhecimento que se encontram em Manaus. Na iniciativa “Elos da Amazônia”, a estratégia do PPBio é selecionar projetos inovadores que solucionem entraves das cadeias produtivas amazônicas, oferecendo às empresas investidoras um cardápio de oportunidades voltadas às diferentes etapas das cadeias produtivas da região, como já ocorreu com as do açaí, óleos vegetais e castanha-do-Brasil. A mais recente chamada de projetos abrange soluções de negócio na restauração florestal, com anúncio dos selecionados previsto para novembro. ‘Caviar’ amazônico Entre as novidades que chegam ao mercado está o “caviar” amazônico, desenvolvido a partir das ovas de peixes regionais, em especial do tambaqui. “O objetivo é valorizar o pescado amazônico, base da alimentação regional”, afirma o biólogo César Oishi, CEO da startup Amanayra. Com investimento da Fox Conn, fabricante de peças para motocicletas na Zona Franca, a inovação passou por etapas de mentoria e modelagem do negócio, e agora se prepara para iniciar a produção comercial e avançar no mercado externo. “Vamos explorar a ‘amazonidade’ do produto, destinado principalmente à finalização de pratos de alta gastronomia e restaurantes de culinária oriental”, revela o novo empresário. Além de aumentar a renda dos produtores, a inovação transforma em produto nobre os resíduos orgânicos descartados no ambiente. Cerca de 70 toneladas mensais de resíduos de tambaqui são geradas por frigoríficos e supermercados de Manaus, sem contar o volume das feiras livres. Do total descartado, entre 15% e 20% referem-se a ovas de peixes. “Do pirarucu à piranha, pesquisamos 18 espécies nativas e identificamos as ovas do tambaqui como de maior potencial, devido à escala da piscicultura e rastreabilidade da matéria-prima”, conta Oishi. Em versões com três cores e sabores, o “caviar” de tambaqui é o único produto feito de ovas de peixe nacional. Os demais do mercado têm origem em espécies de fora. “A ideia surgiu há três anos em conversas entre amigos, mestres e doutores, após pesquisas sobre a piscicultura da Amazônia”, conta o biólogo. O plano inicial é produzir 100 quilos mensais a partir de janeiro, após obter o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), necessário à comercialização. Instalada atualmente na incubadora InBiota Biotech da Amazônia, em Manaus, a startup fatura atualmente com a produção de chips de peixe e snacks proteicos de pirarucu, voltados ao mercado fit e controle de peso, como alternativa às barras doces de proteína. Na visão de Oishi, a oportunidade de inovar e evoluir para o “caviar”, por meio do PPBio, pode inspirar e servir de incentivo a outros empreendedores da Amazônia no desafio de ter visibilidade para acesso a novos recursos financeiros. Segundo ele, ao agregar valor e diminuir resíduos, o negócio ajuda a conservar a floresta em pé e o peixe nos rios. “O projeto pode trazer mais incentivos à piscicultura amazônica e mudar a mentalidade do consumidor sobre a qualidade e benefícios do peixe produzido em cativeiro, com menor dependência de produtos importados de outros estados”, enfatiza. ­­­­­­­­­­­­­­­­___________________________________________________________________ Sobre o PPBio O Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) foi idealizado pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e coordenado pelo IDESAM com o intuito de captar recursos de investimentos obrigatórios em P&D (Lei de Informática) para geração de novos produtos, serviços e negócios para a Bioeconomia Amazônica. Nesse cenário, além de contribuir para soluções ao desenvolvimento sustentável da Amazônia, o programa fornece apoio estratégico à agenda ESG das empresas do Polo Industrial de Manaus. A iniciativa integra os seguintes eixos temáticos: 1) Prospecção de princípios ativos e novos materiais a partir da biodiversidade amazônica; 2) Biologia sintética engenharia metabólica, nano biotecnologia, biomimética e bioinformática; 3) Processos, produtos e serviços destinados aos diversos setores da bioeconomia; 4) Tecnologias de suporte aos sistemas produtivos regionais ambientalmente saudáveis; 5) Tecnologias de biorremediação, tratamento e reaproveitamento de resíduos; 6) Negócios de impacto social e ambiental.
Via | Assessoria   Fotos | Divulgação
Print Friendly, PDF & Email
(Visited 1 times, 1 visits today)