Tecnologias associadas às boas práticas no campo mostram que não só é possível conservar ao mesmo tempo em que se produz, mas que a sobrevivência da atividade depende disso. As pressões internacionais sobre a agropecuária para o desenvolvimento de cadeias mais responsáveis ambientalmente, e o reconhecimento do setor para a segurança alimentar global, tornam fundamental e urgente o diálogo acerca de novos usos da terra no Brasil. Para contribuir e estimular a construção de um novo paradigma do uso do solo no país, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), no âmbito do projeto CONSERV, apresenta a série ” Garantindo o futuro na prática”. São cinco textos sobre técnicas de intensificação da produção agropecuária e de políticas públicas voltadas à terra que trazem mais lucratividade e auxiliam na regulação do clima. No Brasil, a agropecuária (áreas de pasto e áreas agrícolas) ocupa 30% da superfície territorial, ou 231 milhões de hectares, segundo o MapBiomas. Esse é o tamanho da responsabilidade em buscar alternativas para continuar a produzir sem abrir novas áreas. Com investimento e tecnologia, o Brasil é capaz de aumentar sua produção, e, assim, responder às necessidades presentes e futuras do mercado global de commodities agropecuárias e das exigências por conservação ambiental. Um artigo científico elaborado por pesquisadores do IPAM e do Woodwell Climate Research Center aponta que com crédito dirigido, fiscalização e assistência técnica em regiões prioritárias, a produção agropecuária na Amazônia pode mais do que dobrar, liberando áreas para outras atividades. Intensificar para produzir e conservarprimeiro texto da série mostra de que forma práticas de intensificação da pecuária, como o sistema de rotação de pasto, confinamento e semiconfinamento, podem aumentar o lucro da produção em até 36%, conforme demonstra um relatório do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) publicado em 2015. O melhoramento genético do rebanho é o segundo tema a ser abordado na série. “Ao invés de ter dez vacas que produzem cinco litros de leite por dia, posso ter o mesmo número de vacas, com o mesmo custo fixo e mão de obra, que produzam dez litros ao dia”, afirmou o diretor executivo e sócio-fundador da Pecsa (Pecuária Sustentável da Amazônia), Vando Telles de Oliveira. O terceiro texto fala sobre técnicas de intensificação do uso do solo que favorecem o plantio ao reter mais água e carbono na terra, como os sistemas de safra e safrinha, plantio direto, integração lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta. “Não há sustentabilidade se você tira mais do solo do que você devolve e se aquele cultivo produz seca ao invés de produzir água”, ressaltou a pesquisadora do IPAM Ludmilla Rattis. Já o quarto tema, “controle biológico de pragas”, aponta como os bioprodutos podem ser tão efetivos e custar o mesmo que os defensivos químicos disponíveis no mercado, além de agregar valor ao produto final. “O produtor evita que os alimentos contenham resíduos químicos, desde os vegetais até os derivados do leite, como queijo, manteiga, etc.”, explicou o pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Fernando Hercos Valicente. O quinto e último texto da série elenca os benefícios que a regularização ambiental pode trazer ao produtor que cumpre a lei. A adequação da propriedade possibilita acesso a linhas de crédito e a oportunidades a partir da valorização dos ativos ambientais, além de evitar prejuízos para a produção. “A regularização agrega valor ao nosso produto e deve ser vista como uma oportunidade de atingir mercados diferenciados, que pagam mais”, diz o pecuarista Mauro Lúcio de Castro Costa. De olho no futuro A evolução do agronegócio exige, além da intensificação, mais eficiência no uso de insumos e recursos naturais, práticas de baixo carbono e incentivos para manter as vegetações nativas além do percentual previsto no Código Florestal, que varia de 20% a 80% de acordo com o bioma onde se encontra o imóvel rural. Para contribuir com esse último caminho, em 2020, o IPAM colocou em execução um mecanismo privado e de adesão voluntária no estado de Mato Grosso. O CONSERV é um programa focado em grandes e médios produtores rurais que escolheram manter suas matas e que, em troca, recebem aportes periódicos. A iniciativa é uma forma de reconhecer os produtores envolvidos em atividades de conservação, além do que é requirido por lei, e um dos passos para mudar o paradigma e mostrar que é possível conciliar produção e conservação – um cenário no qual a floresta é poupada e o produtor continua a lucrar. Via | Assessoria
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