O blog obteve os depoimentos à Polícia Federal dos três funcionários da Vale que na tarde desta quinta-feira (7) deixaram o presídio Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Eles estavam presos desde 29 de janeiro devido ao rompimento da barragem número 1 da Mina do Feijão, em Brumadinho. Todos saíram com as cabeças cobertas por peças de roupa e entraram em carros que os esperavam na frente da cadeia.

Rodrigo Artur Gomes de Melo, Ricardo de Oliveira e Cesar Augusto Paulino Grandchamp prestaram depoimento no último dia 31.

Deles, o que tinha mais informações sobre a situação da barragem era o geólogo Cesar Grandchamp.

Ele explicou o problema ocorrido em junho de 2018, já citado em depoimentos de outros envolvidos na operação da barragem, quando houve aumento na pressão da estrutura durante a colocação de drenos, o que poderia provocar uma erosão no caminho percorrido pela água.

Grandchamp disse que o problema foi resolvido e que, apesar do aumento rápido da pressão durante o incidente, a situação foi resolvida e voltou à normalidade.

Este episódio já havia sido citado por Makoto Namba, funcionário da empresa alemã TÜV SÜD, que auditou a barragem.

Namba foi o responsável pelo laudo de estabilidade dado à barragem em setembro de 2018. Também foi preso e prestou depoimento no dia 1º.

Segundo Namba, ainda durante os estudos, foram apresentadas sugestões à Vale para drenagem do lençol freático e também para aumentar a estabilidade da barragem.

Ele explicou que a burocracia do processo e as discussões sobre qual solução utilizar fizeram com que, ainda em janeiro, a Vale contratasse um prestador de serviço para as obras.

Grandchamp confirmou parte dessas informações. Ele disse ter rejeitado o modelo de drenagem inicialmente proposto pela TÜV SÜD. Depois, a empresa propôs um outro modelo, que ele aceitou, embora não conhecesse.

Por isso, afirmou que solicitou a diversos fornecedores de tecnologias diferentes “soluções para viabilizar a drenagem da barragem”.

Grandchamp disse à Polícia Federal que recebeu ofertas de sete empresas e que “referidas propostas só vieram a conhecimento do declarante apenas no início de janeiro/2019”.

Sobre os e-mails revelados nesta quarta-feira (6) pela TV Globo, que demonstram que dois dias antes do rompimento da barragem funcionários da Vale e da TÜV SÜD já discutiam leituras “discrepantes” de sensores da estrutura, Grandchamp disse não ter conhecimento dos e-mails, mas confirmou a leitura discutida nas mensagens.

Segundo ele, o sensor do tipo piezômetro era automatizado e enviou por e-mail, no dia 10, uma leitura com “anormalidade”.

De acordo com o depoimento, as leituras mostravam que, caso o piezômetro não estivesse com problemas, “seria um sinal de que a barragem estaria com problemas”.

O geólogo contou que a mensagem “dava conta de que estavam analisando qual era o problema”, mas afirmou que “não é normal que uma leitura dessa, feita no dia 10, chegue ao dia 25 sem que alguma avaliação e providência efetiva seja adotada”.

Outros depoimentos

Os outros funcionários da Vale que prestaram depoimento foram o gerente executivo do Complexo Paraopeba, Rodrigo Artur Gomes de Melo, e Ricardo de Oliveira, gerente de Meio Ambiente.

Gomes de Melo afirmou que estava em férias desde 17 e janeiro, que não recebeu os e-mails discutindo a leitura dos sensores e que não tinha informações sobre problemas na barragem.

Ele confirmou ter recebido informações sobre o incidente de junho de 2018, mas disse que os relatos eram de que a situação havia sido resolvida.

Ricardo de Oliveira explicou à Polícia Federal que “estudos que projetavam a direção que a lama iria percorrer após o rompimento da barragem consideravam possível que o rejeito atingisse o refeitório, a sede administrativa e eventuais canteiros de obras próximos a estas construções”.

Versão da Vale

A Vale declarou que está fazendo apurações internas e que constatou que as mensagens ficaram restritas a integrantes do corpo técnico e operacional local da empresa.

Ou seja, segundo a Vale, essas mensagens não foram enviadas para instâncias superiores.

Ainda segundo a empresa, avaliações preliminares indicam que as diferenças apontadas nos piezômetros foram sanadas depois da reconfiguração dos equipamentos, que voltaram à normalidade.

A Vale também afirmou que, nos próximos dias, espera ter uma avaliação completa dos piezômetros, realizada por especialistas externos.

Ainda segundo a Vale, não houve registro de aumento do nível de água no maciço da barragem, mas sim uma redução do nível na seção principal da estrutura.

E que, depois da instalação dos drenos horizontais profundos, foi feita uma inspeção por uma empresa independente. E nenhuma anomalia foi detectada.

A Vale voltou a declarar que tem colaborado ativamente com as autoridades.

E que, por isso, além dos materiais apreendidos, entregou voluntariamente documentos e e-mails ao ministério público e à Polícia Federal.

Fonte | G1

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