A lama que corre no rio Paraopeba deve chegar ao rio São Francisco. Contaminação por rejeitos de minérios pode provocar escassez hídrica.

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Rio Paraopeba sofre com lamaçal despejado por barragem que estourou.
Já são 34 mortos vítimas da tragédia em Brumadinho (MG). Na última sexta-feira (25), a barragem da mina do Córrego do Feijão, operada pela Vale, rompeu e liberou cerca de 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro no rio Paraopeba. Agora outra barragem está em risco. Apesar de não ser tóxica, a lama tem efeito imediato no sistema hídrico da região, já que diminui a quantidade de oxigênio disponível e arrasa com qualquer possibilidade de vida da fauna e flora aquática. A dimensão do impacto ambiental em Brumadinho e arredores, contudo, ainda é difícil de se calcular. De acordo com o biólogo Hugo Fernandes-Ferreira, doutor em Zoologia, há a esperança de que o nível de lama seja diluído próximo à região da barragem de Três Marias, que liga o Paraopeba ao rio São Francisco. Para Márcia Hirota, diretora-executiva da organização SOS Mata Atlântica, a maior preocupação é que os rejeitos de minério causem um desequilíbrio no São Francisco provocando a sua escassez hídrica.
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Veja o que se sabe até agora sobre os danos ambientais do rompimento da barragem.

A lama é tóxica?

A lama não é toxica sob o ponto de vista químico. Os rejeitos da mineração são resultados do processamento que separa o minério de ferro bruto de suas impurezas, que não têm valor comercial. Esse “resto” contém partículas de minério, sílica e derivados de amônia. A quantidade de rejeitos de minério diminui o oxigênio disponível na água do rio Paraopeba e mata a fauna e a flora aquática. À medida que a lama avança, ela não só contamina o rio, mas todo o sistema hídrico da região e os solos.

Qual o caminho que a lama está percorrendo?

A lama segue em direção ao reservatório de Três Marias, ponto que marca o encontro do rio Paraopeba com o rio São Francisco, o principal rio que abastece o Nordeste. Estima-se que a lama percorra até 200 km de área. Ela está descendo a Serra dos Dois Irmãos, que é rica em Mata Atlântica. Ao longo do trajeto, a lama aumenta em 100% a mortandade dos animais aquáticos.

O que acontecerá quando a lama chegar ao rio São Francisco?

Ainda não é possível prever. Pode ser que ocorra a diluição dessa lama e, ao alcançar o reservatório, o impacto será menor na fauna e flora aquática.

É possível calcular os impactos ambientais do rompimento da barragem?

Ainda não é possível mensurar a devastação ambiental. O que se pode afirmar é que nada sobrevive com pouco oxigênio disponível no rio e isso afeta não só os animais aquáticos, mas todo o entorno das regiões de margens.

O que dizem os ambientalistas

De acordo com Marcia Hirota, da organização SOS Mata Atlântica, o desastre em Brumadinho (MG) atinge uma área importante da vegetação no País. “O que vemos com essa tragédia é o comprometimento do funcionamento não só da floresta, mas também dos serviços ambientais para as pessoas que vivem nesse região”, declarou em entrevista à GloboNews. A principal preocupação é com a qualidade hídrica. De acordo com a especialista, a bacia do rio Paraopeba era de qualidade regular a boa. O rompimento da barragem pode afetar a qualidade da água para consumo na região e para outras atividades. “A nossa maior preocupação é o impacto dos rejeitos no rio São Francisco. É uma ameaça e a nossa maior preocupação, porque contribui para a escassez hídrica”, explicou. Para a ONG WWF Brasil, toda a vida ao redor do rio Paraopeba deve ser atingida: “as populações que vivem ao redor da barragem, os trabalhadores da empresa que estavam no local durante o rompimento e toda a natureza ao redor do rio, um dos afluentes do São Francisco, maior bacia hidrográfica do país”. Em nota, o Greenpeace Brasil afirmou que a sociedade brasileira não pode continuar sendo atingida por tragédias como essas. “Até hoje, 3 anos após a onda de lama que destruiu a bacia do Rio Doce, as pessoas afetadas não só ainda lutam na Justiça para serem devidamente compensadas e o ecossistema, restaurado, como continuam sendo afetadas por problemas de saúde e prejuízos econômicos”, diz o comunicado.

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva usou as suas redes sociais para fortalecer a campanha #NãoÉAcidenteÉCrime.

“Os alertas vêm sendo feitos pelos órgãos ambientais, pelo Ministério Público e as empresas não tomam providência, ficam aguardando o momento em que o crime vai se concretizar enquanto aferem dividendos em prejuízo da vida das pessoas, do patrimônio social, cultural e ambiental da sociedade brasileira”, escreveu.

Fonte | Huffpost Brasil

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