Suicídio. Os dados são alarmantes! Casos públicos como o de Lucas Santos, 16, filho da cantora Walkyria Santos, aumentam a preocupação das famílias: como identificar os riscos e prevenir o suicídio entre os jovens?

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A psiquiatra Luísa Weber Bisol, professora de Medicina Clínica da Universidade Federal do Ceará (UFC), observa que os números de suicídios têm crescido mais entre os adolescentes e jovens, que são os mais vulneráveis ao problema. “Boa parte dos transtornos mentais iniciam no final da adolescência. O cérebro do adolescente não está completamente maduro, então ele é mais impulsivo, age sem pensar e fica mais suscetível a sofrer com as críticas e desaprovações”, pontua a médica. Por ser uma fase em que a rebeldia, por exemplo, é comum, é indispensável que os pais observem o comportamento de uma forma global. “No adulto, o sinal mais comum é a tristeza, mas o adolescente reage com irritabilidade. Perde o prazer pelas atividades, deixa de vibrar, de se envolver”, lista Luísa.

SINAIS DE ALERTA PARA SUICÍDIO

A psicóloga Carolina Ramos, terapeuta cognitivo comportamental, lista as características de comportamento mais preocupantes entre crianças e adolescentes:
  • Alteração de humor diferente do habitual;
  • Agitação e ansiedade;
  • Irritabilidade sem justificativa aparente;
  • Isolamento de família e amigos;
  • Automutilação;
  • Falas sobre “querer sumir”, “desaparecer”, “ficar sozinho no mundo;
  • Falta de perspectivas ou desejos para o futuro;
  • Tentativa prévia de suicídio.
A psiquiatra Luísa Bisol acrescenta, ainda, que outros sinais de alarme são “piora no rendimento escolar” e alteração de rotina, quando o adolescente “começa a trocar o dia pela noite”.
O jovem que pensa em tirar a vida não vê solução, não acha que o sofrimento vai acabar, que as coisas vão mudar pra melhor. A ideia é acabar com aquilo. É preciso ficar bem alerta.
CAROLINA RAMOS
Psicóloga

REDES SOCIAIS ‘LETAIS’

Em vídeo publicado no Instagram após a morte do filho, Walkyria Santos fez um alerta e um apelo aos pais de adolescentes: “essa internet está doente. Que vocês vigiem”. “Ele postou um vídeo, uma brincadeira com os amigos. Achou que as pessoas iam achar engraçado, mas não acharam. Destilaram ódio, deixando comentários maldosos. Meu filho acabou tirando a vida”, declarou a cantora. A necessidade de aprovação e de pertencimento característica dessa faixa etária se torna fator de risco quando os adolescentes se expõem à internet, como pontua Luísa Bisol. “Pessoalmente, se escuta uma ‘piadinha’, mas na internet se recebe centenas ou milhares. É mais difícil de eles lidarem”, lamenta.
A internet não tem rostos, teoricamente. A pessoa não está frente a frente, então fala o que quer. Essas críticas, os ‘hates’, são muito cruéis, porque a pessoa não postou algo para ser atacada.
CAROLINA RAMOS
Psicóloga
Ambas as profissionais de saúde mental destacam que a população LGBTI+ está ainda mais vulnerável às discriminações. “O conflito com a identidade sexual e de gênero é uma causa importante do suicídio na adolescência. É algo muito visto e falado, mas muito reprimido”, pontua Carolina.

COMO OS PAIS PODEM E DEVEM AGIR?

Três coisas são fundamentais aos pais que identificarem sinais de alerta ligados à saúde mental dos filhos: amparar, respeitar os limites e buscar ajudar profissional. A psiquiatra Luísa Bisol salienta que “às vezes, o limite entre cuidar e invadir o espaço é muito tênue”, mas que é importante os responsáveis “saberem por onde os adolescentes transitam, o que fazem e com quem eles andam”. Já a psicóloga Carolina Ramos reforça que “amparar não é ficar perguntando o que aconteceu, mas ficar próximo, colocar as próprias vulnerabilidades, se mostrar presente. Dizer ‘tô com você pro que precisar’, sem julgar”.
É preciso tirar o mito de que o jovem fala sobre suicídio para chamar atenção. Isso acontece na minoria dos casos. Se ele fala, é preciso ficar alerta.
Buscar auxílio de profissionais da psiquiatria e psicologia também é um passo fundamental para prevenir o suicídio (em qualquer faixa etária) e cuidar da saúde mental. “Porque os pais não vão dar conta da carga emocional nem ter conhecimento de como funciona a regulação emocional”, finaliza a psicóloga.
É preciso também cuidar dos sobreviventes. Familiares que perderam entes queridos dessa forma também estão em risco, porque tendem a se sentir culpados. Mas não são, o suicídio é multifatorial.
LUÍSA WEBER BISOL
Psiquiatra
Via | Diário do Nordeste
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