Como a atividade física virou aliada decisiva na luta contra o cigarro

Como a atividade física virou aliada decisiva na luta contra o cigarro

Corrida organizada pela Sociedade Mineira de Pneumologia reforça a importância do movimento no processo de cessação do tabagismo

A batalha contra o tabagismo envolve mais do que força de vontade: é um desafio físico, emocional e comportamental. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2024 o número de fumantes no Brasil cresceu 25% entre homens e 36% entre mulheres, representando um retrocesso de dez anos na luta contra o cigarro. No Brasil, o tabaco é responsável por mais de 174 mil mortes anuais, incluindo 55 mil por câncer, e gera custos superiores a R$153 bilhões ao sistema de saúde. Diante desse cenário, abordagens integradas ganham relevância, e a atividade física desponta como ferramenta poderosa para quem tenta abandonar a dependência da nicotina.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda ao menos 150 minutos semanais de atividade aeróbica, como corrida, caminhada ou pedalada. Esses exercícios estimulam a liberação de endorfinas, substâncias que promovem sensação de bem-estar e ajudam a controlar a ansiedade, um dos principais gatilhos de recaída. Para o fumante em processo de cessação, essa combinação de benefícios fisiológicos e emocionais pode fazer diferença significativa na manutenção do esforço.

Quando ciência e movimento se encontram

Para o pneumologista Daniel Bretas, presidente da Sociedade Mineira de Pneumologia e Cirurgia Torácica, o exercício físico pode ter papel decisivo no abandono do cigarro. “O tabagismo reduz a função pulmonar de maneira progressiva. Quando o paciente começa a se exercitar, mesmo que de forma leve, percebe pequenas melhoras no fôlego e na disposição. Isso cria motivação real. É o corpo respondendo de forma positiva ao processo de cessação”, afirma.

Ele explica que os gatilhos emocionais estão entre os principais responsáveis pelas recaídas. “Grande parte das recaídas tem relação com estresse, irritação ou compulsão. A atividade física funciona como um regulador natural do humor, modulando esses impulsos. O exercício não é só coadjuvante: ele protege o paciente numa fase extremamente crítica”, diz.

Bretas reforça que começar com segurança é fundamental. “O ex-fumante deve iniciar com intensidade compatível com sua capacidade. Às vezes, uma caminhada bem orientada tem mais impacto e segurança do que uma corrida forte. O importante é avançar de forma progressiva e sustentável.”

A importância dessa relação entre saúde pulmonar e movimento está por trás da criação da O2 Run, corrida organizada pela Sociedade Mineira de Pneumologia com o objetivo de conscientizar a população sobre os danos do tabagismo e incentivar hábitos saudáveis. O evento reúne iniciantes e corredores experientes em uma celebração do movimento e da vida sem cigarro. “Uma corrida como a O2 Run tem impacto simbólico enorme. Ela mostra ao paciente que é possível retomar o controle da própria respiração”, afirma o pneumologista.

Da dependência à linha de chegada

Histórias reais ajudam a ilustrar como a atividade física pode transformar trajetórias. O administrador e maratonista Túlio Diniz fumou por quase 30 anos, desde os 14. A virada veio quando decidiu trocar o cigarro por uma rotina estruturada de treinos. “Os primeiros meses sem fumar foram desafiadores, porque o cigarro virou um hábito enraizado no meu dia a dia. Substituir o cigarro por balas e, principalmente, pelo exercício, ajudou a controlar a ansiedade e diminuir gradativamente a vontade de fumar”, conta.

A corrida foi seu principal catalisador. “Quanto mais eu melhorava nos treinos, mais percebia como o cigarro me limitava. A mudança veio em cadeia: alimentação mais saudável, sono melhor, mais fôlego, desempenho maior no trabalho e uma disciplina que eu não tinha antes. Os resultados foram aparecendo e isso me deu muita satisfação.”

Dois anos após abandonar o cigarro, Túlio admite que a vontade ainda surge ocasionalmente, mas hoje sabe como enfrentá-la. “A força está dentro de cada pessoa. É um dia de cada vez. Troque o cigarro por um novo hábito e siga. Se eu consegui, qualquer pessoa consegue.”

O impacto do exercício no abandono do cigarro

Estudos apontam que exercícios regulares podem reduzir em até 30% o impacto cardiovascular provocado pelo tabagismo, fortalecendo o organismo para enfrentar a abstinência. A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) reforça que atividades como caminhada e corrida contribuem para liberar endorfinas e melhorar o bem-estar geral, fatores essenciais para manter o foco e reduzir recaídas.

Segundo Bretas, o maior benefício acontece com a constância. “Em 30 a 60 dias de atividade física frequente, observamos melhora clara da capacidade pulmonar, redução significativa da ansiedade e diminuição dos sintomas de abstinência. É um processo gradual, mas muito consistente”, explica.

A OMS lembra que o sedentarismo é o quarto maior fator de risco para mortes no mundo e está diretamente associado a doenças que também são agravadas pelo tabaco, como câncer, doenças cardíacas e distúrbios respiratórios. Incorporar o movimento ao cotidiano não só ajuda a abandonar o cigarro, mas também reconstrói a saúde após anos de exposição à nicotina.

Ao reunir ciência, incentivo social e histórias de superação, a O2 Run reforça que parar de fumar é difícil, mas torna-se mais possível quando o corpo volta a se mover. Dia após dia, o ex-fumante conquista pequenas vitórias que, somadas, pavimentam uma vida com mais fôlego, mais saúde e mais liberdade.

Serviço:
O2 Run – Corrida pela Saúde Respiratória

Organização: Sociedade Mineira de Pneumologia e Cirurgia Torácica

Data: 14 de dezembro

Local: Lagoa Seca – Belvedere

Percursos:5 km, 10 km e caminhada

Público-alvo: iniciantes, corredores experientes e pessoas em processo de cessação do tabagismo

Inscrições e informações completas: https://www.tbhesportes.com.br/o2run/

Diferenciais do evento: ações de conscientização sobre saúde pulmonar, apoio profissional e integração entre corredores ex-fumantes e público em geral.

Via | Assessoria Foto | Arquivo pessoal Na foto | O maratonista Túlio Diniz na maratona do Rio 2025

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