Dieta Rica em Gordura: Impacto na Sinalização do Eixo Microbiota-Intestino-Cérebro e Ansiedade

Dieta Rica em Gordura: Impacto na Sinalização do Eixo Microbiota-Intestino-Cérebro e Ansiedade

Para se aprofundar nas relações intrincadas entre obesidade, dieta rica em gordura, ansiedade e a microbiota intestinal, pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto realizaram um estudo com 24 ratos ao longo de 9 semanas.

Os pesquisadores dividiram os ratos em dois grupos:

  1. 12 ratos alimentados com uma dieta contendo 11% de suas calorias diárias de gordura
    • Dieta Controle: Composta por 62% de carboidratos, 20% de proteínas e 18% de gorduras (sendo 6% de gordura saturada, 6% de gordura monoinsaturada e 6% de gordura poli-insaturada).
  2. 12 ratos alimentados com uma dieta rica em gordura contendo 45% de suas calorias diárias de gordura
    • Dieta Rica em Gordura (DH): Composta por 40% de carboidratos, 20% de proteínas e 40% de gorduras (sendo 20% de gordura saturada, 10% de gordura monoinsaturada e 10% de gordura poli-insaturada).

Análise dos dados: Amostras fecais semanais foram coletadas para analisar as mudanças na microbiota intestinal, e testes comportamentais foram conduzidos no final do estudo. Os pesquisadores também mediram semanalmente as mudanças na composição corporal relacionadas às dietas, incluindo peso corporal final, ganho de peso e adiposidade. Os resultados indicaram:

Efeitos na Composição Corporal e Microbiota Intestinal:

  • Ratos alimentados com dieta rica em gordura apresentaram maior ganho de peso e gordura corporal em comparação com o grupo controle.
  • A dieta rica em gordura reduziu a diversidade da microbiota intestinal dos ratos, o que pode estar relacionado a uma saúde intestinal menos favorável.
  • Observou-se um aumento da proporção de bactérias Firmicutes em relação a Bacteroidetes no intestino dos ratos alimentados com dieta rica em gordura. Essa alteração na microbiota intestinal é frequentemente associada à obesidade.
  • Alterações na Sinalização da Serotonina:
  • O grupo alimentado com dieta rica em gordura exibiu maior expressão de genes relacionados à produção de serotonina no núcleo do rafe dorsal do tronco cerebral, uma região do cérebro associada ao estresse e à ansiedade.
  • Embora a serotonina seja frequentemente considerada um neurotransmissor ligado à felicidade, alguns neurônios serotoninérgicos podem, quando ativados, desencadear respostas comportamentais temporárias de medo ou ansiedade.
  • O grupo submetido à dieta hiperlipídica apresentou comportamentos relacionados à ansiedade em ratos testados no Labirinto em Cruz Elevado (EPM).
  1. Implicações para a Saúde Mental:
  • Os resultados sugerem que a obesidade induzida por dieta rica em gordura aumentou a neuroinflamação em regiões do cérebro que controlam as respostas comportamentais relacionadas à ansiedade.
  • Uma dieta rica em gordura pode alterar a microbiota intestinal e a sinalização no eixo intestino-cérebro, contribuindo para mudanças que promovem a ansiedade.
  • Uma dieta rica em gordura pode reduzir a diversidade da microbiota intestinal, levando a uma comunidade microbiana menos complexa que pode prejudicar a capacidade do intestino de manter um ambiente equilibrado.
  • O desequilíbrio na microbiota intestinal pode resultar em aumento da permeabilidade intestinal, inflamação sistêmica e sinalização alterada da serotonina.
  • Essas alterações podem desencadear ou piorar condições de saúde mental como ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e depressão.

O Papel do Eixo Microbiota-Intestino-Cérebro na Relação entre Obesidade e Ansiedade

O eixo microbiota-intestino-cérebro e o sistema serotoninérgico representam uma via de comunicação importante, especialmente para a produção de serotonina, um neurotransmissor essencial para a regulação do humor e ansiedade. A microbiota intestinal influencia a produção e a função da serotonina através da síntese de seu precursor, o triptofano, e da modulação de receptores e transportadores serotoninérgicos.

A disbiose intestinal — uma condição em que a microbiota apresenta um desequilíbrio prejudicial na diversidade e na composição bacteriana — induz inflamação e neuroinflamação, altera a sinalização serotoninérgica do cérebro e aumenta as respostas comportamentais similares à ansiedade.

Essas descobertas em ratos podem ser aplicáveis a humanos?

Sim. Especialistas recomendam apoiar a microbiota intestinal e as vias de sinalização através de uma alimentação saudável e redução da ingestão de alimentos ricos em gordura saturada e altamente processados. Uma dieta rica em gorduras saturadas e pobre em fibras e nutrientes pode reduzir a diversidade bacteriana e alterar o equilíbrio das bactérias intestinais, semelhante aos efeitos observados em ratos.

Estudos em humanos têm mostrado que intervenções dietéticas podem modular a microbiota intestinal, melhorar os níveis de serotonina e impactar positivamente na saúde mental.

 Recomendações:

Aumentar o consumo de:

  • Alimentos ricos em ômega-3: peixes gordurosos, sementes de linhaça, chia, abóbora e nozes.
  • Alimentos fermentados: iogurte natural, kefir, chucrute, missô e tempeh.
  • Alimentos prebióticos: alho, cebola, alho-poró, aspargos, banana e aveia.
  • Folhas verdes escuras: espinafre, couve, acelga, rúcula e couve.
  • Frutas vermelhas: mirtilos, morangos, framboesas e amoras.
  • Água: 35 ml por kg de peso corporal ao dia.
  • Fibras: mínimo de 25 g ao dia.

Reduzir/evitar:

  • Alimentos ricos em gordura trans e saturada.
  • Alimentos processados e ultraprocessados.
  • Frituras, carnes gordurosas e carboidratos refinados.

Considerações finais: Desta forma, os indivíduos podem apoiar a diversidade microbiana, melhorar a sinalização do eixo intestino-cérebro, reduzir a inflamação e melhorar o humor, além de reduzir os níveis de ansiedade e prevenir a depressão.

Escrita por:

Adriana Stavro – Nutricionista Mestre pelo Centro Universitário São Camilo 

Curso de formação em Medicina do Estilo de Vida pela Universidade de Harvard Medical School

Especialista em Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) pelo Hospital Israelita Albert Einstein 

Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional pelo Instituto Valéria Pascoal (VP) Pós-graduada EM Fitoterapia pela Courses4U.

Instagram – @adrianastavronutri – Mais informações https://lattes.cnpq.br/

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