Empregos do futuro: estudo inédito propõe caminhos para uma transição justa de baixo carbono com inclusão produtiva no Brasil

Empregos do futuro: estudo inédito propõe caminhos para uma transição justa de baixo carbono com inclusão produtiva no Brasil

Lançada pela Agenda Pública, em parceria com a Fundação Grupo Volkswagen, tese detalha impactos da transição verde e digital em diferentes territórios e perfis populacionais 

O Brasil pode criar 7,1 milhões de empregos verdes até 2030 e 15 milhões até 2050 com a transição para uma economia de baixo carbono. É o que revela a tese Empregos do Futuro no Brasil: Transição Justa para Economias de Baixo Carbono, lançada pela Agenda Pública em parceria com a Fundação Grupo Volkswagen. O estudo analisa os impactos da descarbonização e da transformação digital no mercado de trabalho e aponta medidas para ampliar a mobilidade social a partir da inclusão produtiva.

A tese parte de uma ideia central: a transição para a economia de baixo carbono não é apenas uma pauta ambiental, é uma agenda de desenvolvimento socioeconômico capaz de reestruturar cadeias produtivas e ampliar a mobilidade social, se for bem conduzida. O estudo identifica vetores de geração de emprego em áreas como energias renováveis, economia circular, design sustentável, bioplásticos, construção sustentável, bioeconomia, restauração ecológica, agricultura regenerativa, veículos elétricos e mobilidade com baixas emissões, tratamento e reuso de água e esgoto, acompanhadas da modernização das políticas locais de desenvolvimento econômico.

Todos têm potencial para gerar novas oportunidades, trazer mais competitividade, absorver mão de obra, qualificar postos de trabalho e impulsionar inclusão produtiva e resiliência local, especialmente em territórios com economias baseadas em atividades carbono-intensivas, como óleo e gás, químico, siderurgia e mineração, cimento, papel e celulose, mobilidade ou agro praticado no modelo tradicional.

De acordo com Sergio Andrade, diretor executivo da Agenda Pública e coordenador geral da pesquisa, “modernizar as políticas estaduais e municipais de desenvolvimento econômico é uma urgência estratégica. A transição para economias de baixo carbono não pode ser conduzida com instrumentos do passado. É preciso construir políticas que promovam reconversão produtiva, atraiam investimentos sustentáveis e criem empregos de qualidade alinhados às vocações dos territórios. Nossa pesquisa mostra que os municípios mais expostos à descarbonização também podem ser os grandes protagonistas da nova economia — desde que tenham capacidade institucional, acesso a financiamento e políticas de qualificação adequadas. É nesse horizonte que a Plataforma de Transição Justa atua”.

“A transição só gerará impacto social se vier acompanhada de investimentos estruturantes. Muitos dos locais com maior potencial de crescimento concentram juventudes fora da escola e baixos níveis de infraestrutura, o que exige ação coordenada entre diferentes setores”, complementa Vitor Hugo Neia, diretor-geral da Fundação Grupo Volkswagen.

Diagnóstico territorial da transição

Para comparar realidades tão distintas, a pesquisa desenvolveu o Índice de Capacidade de Transição Sustentável Municipal (ICTSM). O índice integra dois conjuntos de evidências: Vulnerabilidade Socioeconômica (informalidade, renda, escolaridade e capacidade fiscal) e Capacidade Adaptativa (qualificação da força de trabalho, infraestrutura educacional e industrial, ativos de P&D e inovação e mobilização institucional). O índice varia de 0 a 1 e classifica os municípios em perfis como resiliente, emergente, em atenção e crítico, indicando onde é preciso agir primeiro.

A mensuração da capacidade de transição observa cinco dimensões do mercado de trabalho local. Em primeiro lugar está o capital humano, que considera a densidade de profissionais com ensino médio, superior e o volume de matrículas em cursos técnicos. Soma-se a isso a dimensão da inovação e tecnologia, medida pela presença de profissionais dedicados à pesquisa e desenvolvimento. A diversificação econômica, avaliada pelo índice de concentração setorial, e a capacidade fiscal, identificada pela receita própria per capita dos municípios, também integram a equação.

Por fim, tem-se o dinamismo empresarial, calculado a partir da quantidade de microempreendedores individuais por habitante. A união desses indicadores permite estimar preparo formativo, absorção tecnológica e resiliência econômica dos territórios.

Cadeias e territórios estratégicos

A análise setorial e territorial da tese envolve oito estados e mostra como os impactos e oportunidades da transição variam de acordo com a dependência econômica de cada região. No Rio de Janeiro, a forte vinculação ao petróleo e ao gás exige diversificação com destaque para energia offshore e requalificação profissional. Na Bahia e em Pernambuco, polos como Camaçari e Suape podem se tornar laboratórios da indústria verde explorando cadeias de hidrogênio, química circular e biotecnologia desde que juventudes e comunidades locais tenham acesso às novas oportunidades.

Em São Paulo, a cadeia automotiva coloca o estado na dianteira da reconversão para veículos elétricos e manufatura digital. O risco está na velocidade de adaptação, que depende de investimentos em inovação, qualificação e atração de fornecedores globais. No Mato Grosso, a forte dependência da agropecuária extensiva mostra a urgência da diversificação produtiva. Em contrapartida, o grande contingente de jovens representa um ativo estratégico desde que apoiado por formação técnica e políticas de inovação.

A Amazônia Oriental, que abrange o Pará e o Maranhão, traz um paradoxo. O território concentra mais de 80 mil jovens, mas sua economia continua centrada em setores de alta emissão como mineração e papel e celulose. O futuro dependerá da capacidade de investir em qualificação, ampliar infraestrutura e usar instrumentos nacionais como a Taxonomia Sustentável Brasileira, a Nova Indústria Brasil e o Plano de Transformação Ecológica para financiar projetos de transição inclusiva.

“A tese reforça que o futuro do trabalho no Brasil depende de como transformamos a transição justa em oportunidades concretas de inclusão produtiva. É essencial que os novos empregos e cadeias produtivas verdes cheguem também às populações historicamente excluídas. Nosso papel é apoiar a construção de caminhos que unam sustentabilidade e geração de renda garantindo que jovens, mulheres e comunidades vulneráveis tenham condições reais de mobilidade social nesse novo cenário”, afirma Neia.

Um dos focos centrais do estudo está nas juventudes negras e periféricas. Dados da publicação mostram que 42% dos jovens negros entre 18 e 24 anos estão fora da escola ou do ensino superior, enquanto entre jovens brancos essa taxa é de 22%. Sem políticas específicas, o risco é que esses públicos continuem à margem dos empregos mais qualificados gerados pela transição.

Recomendações para uma transição justa

A tese recomenda pactos territoriais com metas e financiamento, governança participativa e integração entre políticas industriais, ambientais e sociais. Entre os próximos passos está quantificar impactos socioeconômicos, fortalecer participação social qualificada, alinhar cadeias de valor às metas climáticas e territorializar instrumentos nacionais para acelerar projetos-âncora e requalificação profissional.

“A transição justa não é apenas uma agenda ambiental, mas uma agenda de resiliência econômica. O estudo mostra que o futuro dos territórios depende da capacidade de mobilizar instrumentos de desenvolvimento para diversificar economias locais, reduzir vulnerabilidades e estruturar políticas ancoradas em inteligência produtiva. Os empregos do futuro exigem um novo pacto territorial em torno da modernização econômica”, afirma Andrade

O estudo conclui que não há uma solução única para todos os territórios. Cada estado e município analisado possui desafios e potencialidades próprias, o que exige estratégias personalizadas de transição. Reconhecer essas especificidades, seja no Quadrilátero Ferrífero, nos polos petroquímicos do Nordeste, na agropecuária do Mato Grosso ou na Amazônia Oriental, é o primeiro passo para transformar a agenda de empregos do futuro em motor de desenvolvimento inclusivo, sustentável e duradouro.

Sobre a Plataforma de Transição Justa

A Plataforma de Transição Justa é uma iniciativa que apoia governos locais, empresas e trabalhadores na construção de estratégias para diversificação produtiva e reconversão econômica em territórios com atividades carbono-intensivas. Por meio de inteligência territorial, pesquisas e metodologias aplicadas, a Plataforma estrutura carteiras e escritórios de projetos, instrumentos de desenvolvimento voltados à geração de empregos sustentáveis, ampliação da competitividade regional e fortalecimento da resiliência fiscal. Atua para territorializar políticas nacionais como a Nova Indústria Brasil e o Plano de Transformação Ecológica, promovendo inovação, pactos multissetoriais e desenvolvimento orientado pelas vocações locais. Seu foco é transformar a transição climática em oportunidades concretas de prosperidade regional. Acesse a plataforma para saber mais.

Sobre a Agenda Pública

A Agenda Pública é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que atua para promover desenvolvimento territorial e gerar valor compartilhado, fortalecendo a gestão pública e estratégias econômicas locais. Desde 2009, dedica-se a aprimorar a governança público-privada, formar equipes intersetoriais e implementar soluções inovadoras para aprimorar as capacidades locais tornando-as mais resolutivas, eficientes e centradas nas pessoas. Por meio da colaboração entre governos, empresas e sociedade civil, contribui para a criação e a entrega de políticas públicas eficazes. Seu trabalho combina conhecimento técnico, metodologias inovadoras e articulação entre diferentes setores para enfrentar desafios complexos, transformar territórios e gerar melhorias concretas na vida das pessoas. Para saber mais, acesse o site.

Sobre a Fundação Grupo Volkswagen

Desde 1979, a Fundação Grupo Volkswagen realiza e apoia ações sociais e educacionais com recursos de um fundo constituído pela Volkswagen. Ao longo destes 46 anos, mais de 3 milhões de brasileiras e brasileiros foram beneficiados pelo trabalho da Fundação, que tem como missão estimular a mobilidade social por meio do investimento em iniciativas e organizações que desenvolvem comunidades e fortalecem o protagonismo dos cidadãos. A Fundação atua para incentivar a prosperidade socioeconômica e o desenvolvimento de indivíduos e comunidades, fortalecendo suas potencialidades e colaborando para o acesso equitativo a direitos e oportunidades. Para isso, prioriza os territórios mais vulneráveis nos municípios com unidades de negócio do Grupo Volkswagen no País. Além disso, apoia tecnicamente ações de responsabilidade social de empresas do Grupo Volkswagen no Brasil. Em 2025, o orçamento próprio ultrapassa R$ 17 milhões, investidos principalmente em inclusão produtiva, empregabilidade, empreendedorismo e fortalecimento de capacidades locais. Desta forma, a Fundação espera contribuir para reduzir a pobreza e diminuir as acentuadas desigualdades sociais brasileiras. Para saber mais, acesse o site da instituição.

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