Há momentos na vida de todo e qualquer cidadão brasileiro, independentemente da sua condição social e econômica, em que a ocorrência de palavras ou expressões da língua inglesa é algo que não pode ser simplesmente ignorado. Mais do que um código de conduta ditado pelos fenômenos tecnológicos e globalizantes das últimas décadas, essas words e expressions se tornaram uma inevitabilidade do nosso cotidiano. Em outras palavras, um mal necessário, como preferem dizer alguns iluminados. Nesse contato com o idioma bretão, no entanto, alguns atritos linguísticos e filosóficos envolvendo pronúncia, ortografia e ideologia (dentre outros) tendem a contribuir com situações mais ligadas ao constrangimento do que ao desembaraço nas interações entre falantes brasileiros da English language e estrangeiros. Eis um fato recorrente (fruto histórico do nosso comodismo e da nossa inércia cultural) que raramente é levado a sério pelos envolvidos, mas, ao contrário, às vezes é motivo de piada e chacota entre os próprios Brazilian citizens! Um desses exemplos é o propalado QR (quick response) code, sistema inventado em 1994 pela equipe do japonês Masahiro Hara para a empresa Denso Wave, com a intenção inicial de identificar partes dos automóveis. Com o passar dos anos, novas utilidades foram atribuídas a ele. Até o ponto de ele poder ser lido pelas câmeras dos telefones celulares e ser chamado em rede nacional de /kê érre côudi/, mistura bizarra de português e inglês numa mesma construção linguística. Sugestão mais plausível para falantes de português made in Brazil: dizer apenas ‘código’, ‘código de leitura rápida’ ou, respeitando-se a pronúncia do idioma de origem, /kiu ár côud/. Algo simples de ser feito, não? Outro exemplo interessante é o do submersível/submarino Titan, de propriedade da OceanGate Expeditions, que sofreu implosão no Oceano Atlântico não faz muito tempo, matando seus cinco passageiros. Eis aqui duas tragédias: uma da vida real e outra do campo da linguagem. Afinal, como os envolvidos e as autoridades deixaram que tamanho desastre marítimo acontecesse? E por que os meios de comunicação e as redes sociais do país insistiram/insistem na forma aportuguesada da palavra que, explicitamente, deveria ser pronunciada /táitn/? Embora isso possa soar como um preciosismo linguístico da minha parte (afinal, ‘titan’ significa ‘titã’), eu prefiro acreditar que eu ainda posso contar com ao menos um resquício do seu bom senso e da sua tolerância, dear reader. Do contrário, entraremos na seara do vale tudo, máxima esta que, se aplicada/mantida, pode levar à simplificação excessiva dos fatos (linguísticos ou não). Um eufemismo para aquilo que (sabemos?) pode também ser chamado de banalização. P.S.: De modo similar, no Brasil, o modelo de moto produzido pela Honda desde 1994 e o navio britânico que afundou na costa do Canadá em 1912 (e o filme homônimo de 1997) não são pronunciados respeitando-se a sua origem anglo-saxônica. Perguntinha básica: até quando?

Via | JERRY MILL é presidente da ALCAA (Associação Livre de Cultura Anglo-Americana), membro-fundador da Academia Rondonopolitana de Letras (ARL) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis.  Foto | Freepik

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