Polícia Civil indicou que os profissionais responsáveis pelo procedimento estético devem responder criminalmente por homicídio culposo; Ministério Público aguarda recebimento da denúncia para investigação.

A diarista Ana Perpétua Bochnia, mãe da vendedora Keitiane Eliza da Silva, de 27 anos, contou nesta sexta-feira (13) que o sonho da filha era fazer a cirurgia plástica que a vitimou no dia 14 de abril de 2021 em uma clínica em Cuiabá.

Os médicos responsáveis pelo procedimento — o cirurgião plástico Alexandre Rezende Veloso e os anestesistas Cristhiano Camargo Prado e Klayne Moura Teixeira de Souza — foram indiciados por homicídio culposo, após conclusão do inquérito policial confeccionado pelo delegado Bruno de Morais Carvalho, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no início do mês. A denúncia foi encaminhada ao Ministério Público.

Em nota, o Valore Day Hospital informou que o procedimento cirúrgico realizado na paciente Keitiane atendeu a todas as normas e protocolos exigidos pelo hospital, e que o procedimento foi realizado sem nenhuma intercorrência.

“O corpo clínico é aberto para médicos credenciados no hospital e regulares com o CRM. O Valore Day Hospital prestou todo suporte necessário à paciente e equipe médica que a atendeu e na sequência deu apoio à família da paciente. Em quase 4 anos de funcionamento, foram realizadas cerca de 8 mil cirurgias das mais diversas especialidades, sem intercorrências graves”, disse.

O g1 tenta contato com a defesa dos profissionais da saúde envolvidos no caso. O Conselho Regional de Medicina (CRM) foi procurado pela reportagem, mas sem retorno até a última atualização desta reportagem.

“Ela morreu em busca de um sonho. Eu quero justiça, porque é uma dor irreparável. Enquanto eu respirar, vou sentir essa dor. A saudade aumenta e a gente segue em busca de justiça”, afirmou a mãe.

De acordo com os advogados da família, o inquérito concluiu que houve negligência dos médicos na realização dos procedimentos que culminaram na morte da paciente e a equipe médica não observou as recomendações do Conselho Regional de Medicina (CRM/MT) que, naquele momento, orientava a suspensão de cirurgias eletivas em razão da escassez de vagas de UTI pela superlotação das unidades de saúde pelos pacientes infectados com o coronavírus.

Sala de cirurgia do Valore Day Hospital — Foto: Valore Day Hospital/Divulgação

Sala de cirurgia do Valore Day Hospital — Foto: Valore Day Hospital/Divulgação

Relembre o caso

O procedimento cirúrgico começou às 7h30 com horário previsto de término às 15h30, no dia 13 de abril de 2021, segundo os advogados que representam a famíla da vítima. Quando Keitiane voltou ao quarto, começou a sentir dores, calafrios, indisposição, calor e sede. Esses sintomas foram repassados aos médicos e enfermeiros, ainda conforme a defesa.

Por volta das 23h50 do mesmo dia, a paciente teve a primeira parada cardíaca e passou pelo processo de reanimação, conforme os advogados. Porém, o quadro de saúde piorou e os médicos foram chamados durante a madrugada para verificar a causa de uma hemorragia.

Por conta da lotação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em razão de pacientes com Covid-19, no auge da pandemia, a equipe não encontrou uma vaga para internação rapidamente. Keitiane morreu cerca de 30 minutos depois de dar entrada no Hospital Santa Rosa, conforme os advogados.

Covid

Keitiane havia sido diagnosticad com Covid-19 há menos de um mês da morte. O resultado do exame saiu no dia 22 de março, quando ela já estava com a cirurgia marcada, e foi submetida ao procedimento cirúrgico 22 dias após a confirmação da doença, apontam os advogados.

“Considerando que ela apresentou sintomas da Covid-19, especialmente o acometimento pulmonar, deveria se aguardar pelo menos 6 semanas entre a data do diagnóstico da Covid até a realização da cirurgia. Esse lapso temporal não foi respeitado, portanto os médicos assumiram totalmente o risco ao realizar o procedimento em um cenário totalmente desfavorável”.

À época, a assessoria do médico responsável Alexandre Veloso disse que ele se recusou a fazer a cirurgia quando ela testou positivo. Contudo, ao apresentar novos exames em que mostravam que estava curada da doença, o procedimento estético foi remarcado.

Via | G1   Fotos | Bruno Oliveira e Arquivo pessoal
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