Diagnóstico lançado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Pólis Pesquisa e AVSI Brasil aponta aspectos positivos da mão de obra venezuelana

Nas capitais de Manaus e Boa Vista, no Norte do Brasil, os setores de serviços, agropecuária, e indústria revelam potencial para a contratação de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela com diversos níveis de escolaridade e formações profissionais. Além disso, empregadores desses estados já vêm sendo beneficiados pelo intercâmbio cultural e de conhecimentos trazidos por estes profissionais no dia a dia dos resultados das empresas. Essas são algumas informações trazidas pela pesquisa “Diagnósticos para a promoção da autonomia e integração local de pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas em Roraima e Manaus: setor produtivo e potencialidades”, elaborada pela Pólis Pesquisas e lançada nesta semana pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) em parceria com a AVSI Brasil e apoio do Ministério Público do Trabalho no Amazonas e em Roraima (MPT-AM/RR). Retratadas no diagnóstico, Manaus e Boa Vista sediaram debates sobre a pesquisa com representantes do poder público local, da sociedade civil, do setor privado e pessoas refugiadas. A partir da análise de dados e entrevistas aprofundadas com 20 representantes de diferentes segmentos produtivos de ambas as cidades, a pesquisa é uma importante ferramenta para guiar ações voltadas à integração local da população refugiada e migrante com foco no potencial que estes profissionais já possuem para agregar suas experiências à produtividade do setor privado. “A partir da análise de dados secundários relativos à contribuição de cada segmento econômico com o Valor Adicionado Bruto (VAB) de cada cidade, identificamos os setores produtivos de maior participação na economia para entrevistas em profundidade junto com os seus representantes de classe”, explicou a pesquisadora Bertha Maakaroun, coordenadora da Pólis Pesquisas. Amazonas O diagnóstico revelou que a atividade econômica e a oferta de vagas do Polo Industrial de Manaus (PIM) são importantes para a população que vive no estado do Amazonas e podem incluir pessoas refugiadas que buscam emprego formal em Manaus, conforme o perfil profissional disponível, e adiciona que também os setores de serviços, comércio e construção civil apresentam oportunidades com perfis diversos. “O PIM tem cerca de 100 mil postos de trabalho, enquanto o de serviços e comércio passa de 400 mil. Ambos os setores demandam níveis de escolaridade e capacidades diversas, seja trabalhando na montagem na indústria, em reparos e outros serviços relacionados ao setor, ou em bares, restaurantes e outros ofícios bastante demandados”, destacou Bertha. Roraima No caso de Roraima, apesar da prevalência do setor público e de serviços, o agronegócio, a construção, a indústria de transformação e o setor de turismo devem ser observados pela diversidade de oportunidades ofertadas, muito embora a economia tenha proporções diferentes das de Manaus. “São setores que demandam por diferentes ofícios, os mais recorrentes são eletricistas, técnicos em instalação e manutenção de ar-condicionado, mecânica e manutenção de maquinário pesado empregado no setor agrícola e na indústria da construção”, explica Bertha. Ainda, “profissionais como web designers, produtores de vídeos e conteúdo digital, gestores de redes sociais, que atuem nessas novas plataformas comunicacionais, podem apoiar nas diferentes frentes do comércio como um todo, principalmente depois da pandemia”, completa. Benefícios da contratação de refugiados O diagnóstico também escutou liderenças e representantes de diferentes setores sobre a mão de obra proveniente da Venezuela. Em todos os setores produtivos pesquisados, são percebidos aspectos positivos desta força de trabalho. Os entrevistados avaliaram que as pessoas refugiadas estão dispostas a se deslocarem onde haja oportunidades de trabalho, são esforçadas no aprendizado e execução das tarefas, têm bom relacionamento interpessoal e facilidade em interagir com novos colegas, além de conseguirem trazer novas culturas e capacidade de inovação para o ambiente de trabalho. “Nós, do setor de bares e restaurantes, constatamos essas qualidades também no dia a dia. Agregam valor ao trabalho, ajudam os colegas e colaboram. Nós temos tido experiências muito positivas por nossos associados”, destacou Rogério Cunha, representante da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Oportunidades de melhoria Os empregadores também relataram a necessidade de fortalecimento da proficiência em português para as pessoas refugiadas como ponto a ser aperfeiçoado para facilitar o processo de contratação, considerando que eventuais dificuldades de compreensão daqueles com menor proficiência no idioma são um desafio para o pleno andamento das rotinas de trabalho. Além disso, reforçam a importância de regularização dos documentos para que as oportunidades de trabalho sejam efetivadas, bem como para o acesso a cursos de qualificação que promovam mais conhecimentos sobre as especificidades locais. Nesse sentido, parcerias entre o setor privado e instituições que promovam capacitações podem ajudar a suprir a demanda por mão de obra qualificada que requer apenas este ajuste de conhecimentos técnicos. O ACNUR e seus parceiros no Brasil seguem promovendo atividades voltadas para a integração local de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela e de outras nacionalidades. As ações incluem oferta de cursos de português, qualificação profissional, elaboração de currículos, preparações para entrevistas e encaminhamentos para vagas de emprego condizentes com as formações destes profissionais. “Esta pesquisa deve servir de apoio para que ações importantes sejam potencializadas, com os diversos atores e organizações locais engajadas. Esta participação ativa dos diferentes atores e setores para a integração local da população refugiada e migrante torna possível alcançar êxito nos esforços para a promoção da inclusão socioeconômica e do crescimento da economia local, diversificando as receitas e os resultados do setor privado”, destacou o Representante do ACNUR, Oscar Sánchez Piñeiro. Para a procuradora-chefe do MPT-AM/RR, a pesquisa deve nortear o trabalho conjunto que várias instituições têm integrado para a autossuficiência de pessoas refugiadas e migrantes em Roraima e no Amazonas. “As contribuições desta pesquisa serão fundamentais para que o trabalho desenvolvido pelas diversas organizações voltadas à integração local de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela seja fortalecido e tenha impacto tanto com a absorção de pessoas em empregos dignos, quanto na construção da autonomia em nível local”, conclui.
Via | Assessoria   Foto | ACNUR/Felipe Irnaldo
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