Já faz um bom tempo, escolas e centros de ensino de inglês existentes no Brasil, com diferentes metodologias ou métodos, adaptados ou copiados, prometem mundos e fundos para crianças, jovens e adultos que, com o passar dos anos, percebem que, de mágicos ou milagrosos, eles não têm nada, a menos que o/a aprendiz arregace as mangas, faça anotações ou revisões constantes e, se não for pedir muito, abra o dicionário e a gramática (de papel ou online) pelo menos de vez em quando. No fim do dito curso, depois de, em média, três ou quatro anos, não duvido que a maioria dos interessados seja capaz de se comunicar razoavelmente na língua-alvo. A questão é que “razoavelmente” é pouco nos dias de hoje. E, para piorar, muitos ex-alunos ainda conseguem se superar quando precisam escrever, ou falar, no mundo real. Daí o surgimento de pérolas como ‘mistakies’, ‘inglish’ e ‘linguage’ (em vez de mistakesEnglish e language), uma pequena amostra que me faz lembrar do Enem e dos erros do nosso português ruim, como já cantou um conhecido filósofo contemporâneo, o Rei da Música Popular Brasileira: Roberto Carlos. Tamanha inadequação no entendimento e no uso da linguagem é apenas um reflexo da ignorância democratizada que assola o país há séculos, estranhamente chancelada pelo diferentes governos, por intermédio de escolas públicas e particulares despreparadas para lidar com as complexidades do setor, o que dá sinal verde para que palavras e expressões (faladas ou escritas) estejam repletas de solecismos, barbarismos, ilogismos, idiotismos, e tantos outros ismos que você consiga elencar, dear reader. Daí, cedo ou tarde, entre o útil e o dispensável, as pessoas, uma vez apanhadas cometendo erros de português, ficam na defensiva, ou perdem o senso do comedimento e da decência, fenômeno este menos comum quando o mesmo acontece no momento em que a impropriedade linguística é cometida numa língua estrangeira, como o inglês, o espanhol e o francês, por exemplo. Aí é ‘sorry’ para lá e para cá… Pelo jeito, a continuar como está, vamos formar alunos mais preocupados em falar inglês com relativa fluência oral, mas pouco focados em aumentar seu vocabulário por intermédio da sua exposição à leitura de textos literários in English ou inclinados a investir seu tempo em exercícios de ortografia e redação de textos de qualidade no idioma bretão. Ou seja, sinceramente, estamos formando semianalfabetos. Gente de todo tipo que quer falar pelos cotovelos, mas que, na hora de transpor algo para o papel ou registrar num arquivo de áudio/vídeo o que sabe ou pensa (com o mínimo de coerência e coesão), é incapaz de convencer a si próprio, seja em que idioma for. O pior é que, volta e meia, esses desatinos linguísticos aparecem também em jornais, revistas, programas de rádio ou TV e, logicamente, na internet. Utilizados por pessoas que, em tese, têm bom nível cultural e uma boa bagagem no que se refere ao uso apropriado tanto do idioma pátrio quanto das palavras e expressões estrangeiras mais corriqueiras. Só que não… O que muitos se esquecem é que a capacidade individual ou coletiva de lidar com as palavras não se aprende apenas na escola ou na faculdade. Outra coisa importante: embora ambos sejam importantes, erros de argumentação costumam ser mais complexos do que erros gramaticais. No fim das contas, ambos colaboram para que a inadequação da linguagem comprometa a clareza e a objetividade do que se pretende expressar, seja através da voz ou da escrita. Como a etimologia possui um papel crucial na forma de escrever (e pronunciar) a língua inglesa, saber que a sua ortografia é repleta de dígrafos e letras duplicadas ajuda a aceitar que a relação letra-som da língua inglesa não se aplica à língua portuguesa, e vice-versa – embora algumas palavras usadas em ambas tenham exatamente as mesmas letras nas mesmíssimas posições, como no caso de ‘animal’ e ‘hotel’. Por fim, vale lembrar que o nosso idioma é um dos nossos maiores patrimônios culturais – talvez o maior deles, dependendo do ponto de vista. Nele, o papel principal das regras gramaticais é tornar a comunicação mais fluida e fluente. O que não nos dá o direito de usar estrangeirismos aleatoriamente, de qualquer jeito, sem a devida pronúncia, ortografia ou semântica. Especially when it comes to today’s lingua franca: the English language… * Entenda-se “Nossa língua inglesa”, com o devido e essencial acento agudo na segunda palavra, of coursemente…
Via | -JERRY T. MILL é presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis.  Foto | Freepik
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