Às vésperas de seu aniversário, a consultora de estilo Fabíola Cabral sofreu um AVC e ficou horas desacordada até ser socorrida. Apesar da doença grave, ela teve uma recuperação relâmpago e sem sequelas

Sempre tive uma alimentação correta e um lifestyle saudável. Apesar de nunca ter tido nenhum problema de saúde, sentia uma dor de cabeça crônica que não me dava trégua. Mas nunca achei que fosse algo grave. Tomava um analgésico, melhorava e seguia a vida, sem maiores preocupações. Este ano, estava animadíssima para comemorar meu aniversário de 38 anos, no dia 25 de setembro. Como iria cair em uma sexta-feira, já havia programado um almoço com as amigas e uma superfesta para a família e os mais chegados à noite, com direito a bufê japonês e DJ. Mas, quando acordei na manhã anterior, jamais imaginei o que viria pela frente. Comecei o dia normalmente: acordei às 9h30 e fui para a academia treinar com minha personal. Durante os exercícios, reclamei que não estava bem, sentia uma dor de cabeça forte e muito enjoo. Resolvi ir embora e, mesmo passando muito mal, consegui dirigir de volta para casa. Cheguei às 10h30 e a última coisa que me lembro foi que estacionei o carro na garagem, abri a porta e em seguida apaguei. Fui encontrada quatro horas depois por uma amiga do prédio, que me levou para o hospital imediatamente. A esta altura, meu marido já havia sido avisado e, quando chegou, deu de cara comigo totalmente travada. Foi quando descobrimos que eu tinha sofrido um AVC (acidente vascular cerebral), segundo os médicos, causado provavelmente por uma malformação arteriovenosa ou um pequeno tumor. Meu estado era grave, mas graças a Deus dei sorte, pois havia sido resgatada a tempo – se tivesse ficado mais uma hora sem socorro, não teria sobrevivido. Porém, a ordem era lutar contra o tempo: como meu cérebro estava cheio de sangue, precisei passar por uma cirurgia na mesma noite. O clima era de desespero, já que não podiam garantir que eu sairia com vida da situação. Foi necessário abrir minha cabeça e colocar um dreno para tirar a pressão do cérebro. Na hora de fechar, a pressão aumentava, fazendo com que os médicos tivessem de repetir todo o processo, por umas três vezes. Era uma operação de alto risco, já que, além da complexidade, ainda era preciso ter cautela para que eu não contraísse uma meningite ou outras infecções. Depois de permanecer sedada no Centro de Terapia Intensiva por 11 dias, finalmente acordei e fui para o quarto. A primeira pessoa que vi foi minha mãe e, curiosamente, comecei a falar com ela em inglês. Cansada e bastante agressiva, só pensava em ir embora. Dizia a todo tempo: “I wanna go home!”. Aos poucos, fui reconhecendo meu marido, minha irmã, minha sogra e alguns amigos. Comecei a fazer sessões de fisioterapia e, depois de 17 dias internada, tive alta. Fui recebida em casa com balões, doces e muito amor dos meus familiares. Fiquei ainda dois dias com o rosto paralisado. Os médicos ficaram surpresos com minha rápida reabilitação, pois dependendo do tipo de lesão sofrida, a recuperação pode demorar meses, causar danos permanentes ou nunca acontecer. Apesar de o AVC ter atingido a parte da frente do cérebro, responsável pela memória, não tive sequelas. No início, fiquei um pouco confusa, sem entender o que as pessoas diziam e trocando as palavras. Por isso, logo eu, que sempre fui de falar muito, evitava conversar, com medo de não conseguir me expressar. Mas, como bem disse uma enfermeira, apesar de fora do lugar, as coisas estavam todas na minha cabeça e logo iriam voltar ao normal. E voltaram. Aos poucos, fui retomando minha vida e, depois de dois meses, fiz minha primeira viagem. Fui a Nova York, à Catedral de St. Patrick, celebrar a vida e agradecer uma promessa feita por uma amiga querida. Aliás, sou muito grata a todos que rezaram por mim, sem saber se eu iria acordar ou não. Hoje me sinto ótima, não tive mais dores de cabeça, mas ainda preciso ter alguns cuidados e fazer exames periódicos, apesar de não ter tido um tumor. Por recomendação médica, fiquei três meses sem dirigir. Também voltei a malhar, mas tenho que pegar leve, não posso correr. Minhas prioridades mudaram. Em 38 anos de vida, acho que é a primeira vez que tenho uma rotina mais calma e que me sinto realmente plena. Antes do AVC, era aquela pessoa frenética, que fazia tudo ao mesmo tempo. Na faculdade, me formei em jornalismo, mas como sempre fui ligada à moda, acabei virando modelo. Conheci muita gente do meio – fiz estágios como assistente de estilo de Andrea Marques e com Narciso Rodriguez, durante uma temporada em que morei em Nova York, em 2007 –, fotografava campanhas, desfilava, malhava seis vezes por semana e saía muito com as minhas amigas. Depois de tudo o que aconteceu, percebi que não preciso estar em todos os lugares, ir a todas as festas, ter a it-bag do momento ou ganhar muito dinheiro. No fim, passei a valorizar o que realmente importa: minha vida, Alexandre, meu marido e por quem estou cada dia mais apaixonada, minha família e as pessoas que estiveram ao meu lado. Agora é vida nova! Fonte | Vogue Brasil  Foto | Fabian A.
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