Bebê de grávida que morreu minutos antes de subir ao altar de uma igreja em São Paulo completou um mês no último dia 14. Pai concilia casa-hospital

O fim e o recomeço para Flávio Gonçalves da Costa, de 31 anos, ocorreu no dia 14 de setembro. Naquela ocasião, perdeu a mulher, Francisca Jéssica Victor Guedes, e ganhou a filha Sophia, que completou um mês de idade. “Quando ela escuta minha voz, fica tão feliz que chega a soluçar”, conta.

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Jéssica, como era chamada, se preparava para subir ao altar de uma igreja quando sofreu um AVC. Ela deu entrada em um hospital da região central da capital paulista já com morte cerebral devido ao caso grave de pré-eclâmpsia, condição comum durante o período de gestação. Por causa da complexidade do caso, foi transferida para a Maternidade Pro Matre Paulista, onde a equipe médica realizou uma cesárea de emergência para salvar a vida do bebê, na época, com 29 semanas. Foi nesse cenário, de caos e tristeza, que Sophia nasceu com 34 centímetros e 1 kg.

O caso ganhou repercussão e o hospital financia, desde então, todos os custos da UTI neonatal. “Eu não tenho condição econômica para bancar, então sou muito grato”, agradece. Desde o dia 14, a rotina de Flávio tem sido casa-hospital e vice-versa – ele, que é tenente da Polícia Militar, está afastado de suas funções devido à licença-paternidade.

Desde que nasceu, a estrofe “e os anjos cantam nosso amor”, da música Os Anjos Cantam, da dupla Jorge e Mateus, ecoa diariamente nos ouvidos de Sophia. “Eu canto para ela todos os dias”, diz, acrescentando que essa era a canção escolhida para a dança dos noivos. A pequena guerreira, no entanto, deu um susto em Flávio recentemente. A equipe médica suspeitava que Sophia tivesse trombose na veia cava, disposição que drena o átrio direito do coração. “Me deixou muito preocupado, porque era uma situação grave”, lembra. Em casos mais graves, o resultado pode, ironicamente, ser um AVC. Após uma série de remédios e exames, a bebê está bem.

A pequena já demonstra inclusive características similares às do pai. “Ela sente muito calor. Às vezes, quando ela está deitada comigo, ela bate com as mãos no meu peito na tentativa de dizer que está com calor. Ela levanta a cabeça e se mexe toda”, conta. Em seguida, o tenente a coloca no berço, “e ela se acalma”.

Jéssica e Flávio durante o "temporal de amor", como descreveu o tenente
Arquivo Pessoal

Jéssica

O contato entre o pai e a filha tem sido extremamente importante para a recuperação de Flavio em relação à perda de Jéssica. “Não tem sido fácil. Tem dias que eu não me reconheço, outros que me sinto bem. São altos e baixos. É muito tênue”, reconhece. “O que me fortalece é a minha filha, minha família, meus amigos.”

A situação colocou Flávio de volta à cadeira do divã da terapia, recurso que utilizou em tempos passados. O tenente conta que buscou apoio psicológico na tentativa de amortecer as perdas. “Eu sonho todos os dias com a Jéssica. É muito difícil acordar, me situar no quarto, passar a mão no lençol da cama e perceber que ela não está ali”, diz, aos prantos. O que salva, conta, são as fotografias tiradas pelo casal. “São nossos olhares, sorrisos, e isso nunca vai se perder.”

Além da terapia, o tenente tem contato com diversas pessoas que também passaram por momentos de perda. “A família policial tem me ajudado bastante. Nesses casos, todo apoio é importante”, avalia. Os dois fatores resultaram em um impulso para o tenente resgatar um significado para a vida. “O meu sonho, agora, é ver a minha filha crescer com saúde. Isso basta pra mim”, diz.

O cenário, antes de tragédia, hoje é outro. “A minha história é de amor, é a da mãe que deu a vida pela filha. A Jéssica é a verdadeira heroína e eu apenas um coadjuvante”, define. O tenente lembra que a mulher sorria todos os dias, acontecesse o que for – e esse é um desejo que ele quer espalhado por aí cada vez mais. “E é o que acontece, porque a Jéssica está batendo por aí em outras pessoas, por causa dos órgãos que foram doados”.

Fonte | R7

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