Jenyffer Gonçalves atendeu catadora e faxineira gratuitamente e busca parcerias

Quando jovem, a cabeleireira Jenyffer Gonçalves de Oliveira, de 29 anos, precisou catar latinhas na rua e pedir comida em mercados para sobreviver. Hoje com o próprio salão montado em Cuiabá, a mulher dedica suas folgas para oferecer um “dia de beleza” a mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade.

“Me vejo nessas mulheres. Já catei latinha, minha avó cuidou de 20 filhos, além de netos e bisnetos. Pedia comida no mercado como a Maria [catadora de latinha que ganhou ‘dia de beleza’] para termos o que comer”, disse.

Ainda criança, Jenyffer precisou se mudar para casa de familiares, onde viveu até os 8 anos de idade.

A mãe e a avó da cabeleireira não possuíam condições financeiras e acreditavam que, dessa forma, Jenyffer conseguiria ter uma vida melhor.

“Morava na casa de parentes e eles moravam muito longe. Fui morar com minha mãe quando já tinha oito anos. Foi quando vi como era tudo muito carente, a comida sempre foi regrada. Sempre quis ajuda e, às vezes, catava latinhas para comprar pão”, contou.

Quando jovem, a cabeleireira também não tinha como gastar o escasso dinheiro da família com tratamentos de beleza e maquiagem.

Naquela época, ela contou que sonhava com o “dia de beleza” que hoje consegue oferecer a outras mulheres.

“Minha mãe nunca teve condições de me dar um ‘dia de beleza’. Quando somos jovens queremos, até mesmo quando crescemos, é um sonho de muitas mulheres. Então vi isso como uma oportunidade de ajudar o próximo”, contou.

Dia de beleza

Maria foi a primeira participante da ação social promovida por Jenyffer, que busca elevar a autoestima de mulheres em situação de vulnerabilidade. Ela conta que conheceu a catadora de latinha através de clientes que costumam frequentar o salão.

Segundo Jenyffer, a mulher sobrevive com doações de mercados e do dinheiro que consegue juntar com a venda das latinhas.

Com a autoestima abalada, já que tem sua vida tomada pela preocupação de ter o que comer, por exemplo, Maria não se olhava mais no espelho.

“Pedia para clientes e pessoas que me seguiam nas redes sociais para me indicarem pessoas que precisavam desse momento especial. A dona Maria é muito carente, vive de doações de mercados e do dinheiro das latinhas. Não se olhava no espelho há anos”, explicou.

Emocionada, a cabeleireira lembrou que a catadora de latinhas chorou quando se olhou no espelho após a “transformação” realizada por Jenyffer.

Elas [as mulheres contempladas pela ação social] não têm dinheiro para ir a um salão de beleza, não faz parte da realidade dessas mulheres. Elas precisam garantir o que comer, mas toda mulher gosta de sentir bonita

Ela definiu as mudanças como “gratificantes”, já que tais mulheres não teriam condições de pagar por tratamentos de beleza em um salão.

“Elas [as mulheres contempladas pela ação social] não têm dinheiro para ir a um salão de beleza, não faz parte da realidade dessas mulheres. Elas precisam garantir o que comer, mas toda mulher gosta de sentir bonita”, avaliou.

Dona Maria recebeu tratamento capilar e saiu do salão de Jenyffer com os cabelos escovados. Ela também foi maquiada e ganhou produtos para continuar cuidando da beleza em sua própria casa.

“Olhar cansado”

A segunda escolhida pela cabeleireira foi uma faxineira, que atualmente precisa cuidar de 11 netos e da mãe, que está doente. Jenyffer relatou que a mulher tinha o “olhar cansado”, provavelmente pelas dificuldades enfretadas diariamente.

“Dona Nega”, como é conhecida, também não tem a vaidade como prioridade em sua vida. Esse fato despertou na cabeleireira a vontade de proporcionar um dia especial para a faxineira.

“Conheci ela através de uma cliente também. Ela tem problemas financeiros, tem uma vida bem sofrida também. Pedi para minha cliente levá-la ao salão. Ela é bem carente mesmo, não tinha condições de pagar por um dia assim”, contou.

A segunda escolhida teve os cabelos pintados e também recebeu tratamento especial para os fios. O diferencial da transformação de dona “Nega” foi a presença de uma maquiadora, que também se comoveu com a iniciativa da cabeleireira. Através dela, a faxineira recebeu uma maquiagem profissional completa.

“Fiz uma mega transformação nela, pintei o cabelo e fizemos maquiagem. Na segunda vez, já tinha conseguido parceria com uma maquiadora que foi até o salão e fez a maquiagem dela”, disse.

Causa antiga 

Não é a primeira vez que a cabeleireira dedica parte do seu tempo para ajudar pessoas que estão em situações difíceis. Trabalhando no ramo há 12 anos, a primeira ação social encabeçada por ela tinha como objetivo ajudar mulheres com câncer.

Na ocasião, Jenyffer cortava os cabelos das clientes do salão de graça e doava as mechas para uma amiga que fazia perucas. As peças eram levadas para o Hospital de Câncer, em Cuiabá.

“Cortava os cabelos das clientes no salão de graça, acumulava, pesava e dava para uma amiga minha que confeccionava peruca. Em parceria com ela, fazia perucas e levava para o Hospital de Câncer”, lembrou.

A ação durou cerca de dois anos e meio, até que a cabeleireira começou a “sofrer muito”, já que se envolvia com as histórias de luta das mulheres, que, muitas vezes, não sobreviviam ao tratamento contra a doença.

“Comecei a sofrer muito porque ajudava essas mulheres e me envolvia. Acabei perdendo três delas, elas morreram e eu sentia muito por isso”, contou.

Após encerrar o projeto de doação de perucas, Jenyffer disse que teve uma “conversa com Deus” e foi quando surgiu o interesse de ajudar novas mulheres, com outras histórias de luta.

“Pensei: ‘Senhor, sei que é um projeto bom, não quero deixar de ajudar, mas estou sofrendo demais’. Então veio a ideia de ajudar pessoas que não tinham condições financeiras, mulheres em situação de rua ou com depressão, que são coisas que mexem com a autoestima da mulher”, disse.

No início da ação social de transformação no salão de beleza, Jenyffer atendeu uma mulher que, apesar de não estar em situação de rua, lutava contra a depressão e o abandono do marido.

“Fiz uma transformação dela, foi muito legal. Não divulguei muito [na época]”, lembrou.

Futuro do projeto

Recentemente, a cabeleireira decidiu mudar a abordagem e começou a divulgar as transformações no perfil do Instagram dela com intenção de fortalecer o projeto. Através das redes sociais, ela pretende buscar parcerias com empresas, além de conseguir doações de roupas, sapatos e alimentos para as participantes do “dia de beleza”.

“Tenho muitos seguidores no Instagram, muitos clientes, pensei: por que não divulgar? Resolvi buscar parcerias de empresas, conseguir doações para essas pessoas, conseguir roupas, sapatos ou uma cesta básica para quando essa mulher vier até o salão se sentir completa e transformada”, avaliou.

No futuro, Jenyffer pretende reunir profissionais da área da beleza para uma grande ação em praças da cidade, proporcionando cortes gratuitos para pessoas em situação de rua.

“Para mim é muito gratificante poder fazer essas transformações. Gostaria de conseguir outros profissionais para irmos à uma praça e cortamos cabelos de pessoas em situação de rua ou daqueles que não possuem condições financeiras para isso. Esse tipo de coisa não custa nada. Quero que o projeto cresça”, disse.

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Fonte | Folhamax

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