Há muitos tipos de alunos (e professores) no Brasil (e no mundo): o presente e o ausente, o ativo e o passivo, o dedicado e o relaxado, dentre tantas outras possibilidades de elencarmos essa dualidade antonímica. Sempre chamou a minha atenção, entretanto, a figura daquele aluno/professor que prefere a alienação ao pensamento crítico ou ao engajamento – seja ele parcial ou na sua totalidade, beirando a rebeldia, a revolta ou a luta de fato.

Eu digo isso com tamanha propriedade porque é exatamente o que vejo quase que diariamente no campo da linguagem, seja quando eu estou em sala de aula ou no mundo real, o das ruas e das avenidas da nossa cidade, onde o respeito às regras linguísticas, às leis de trânsito ou às convenções sociais, há muito, parece que perderam a sua razão de ser, tamanho o número de casos interessantes e absurdos que podem ser testemunhados a cada passo, em cada esquina, caso você preste o mínimo de atenção ao que está acontecendo ao seu redor – em vez de ficar bitolado com as distrações oferecidas pelo seu celular, por exemplo.

Well, segundo a minha convivência quase diária com crianças, jovens e adultos supostamente interessados em aprender a língua inglesa, eu percebo que falta calibrar o desconfiômetro de quase todos eles e chamar a sua atenção para o fato de que seus pensamentos e ações equivocados são a razão para o seu fracasso como indivíduos, como agentes sociais e, of coursemente, como aprendizes de idiomas (ou de qualquer outra coisa que exija o uso mínimo de algumas sinapses e alguns neurônios).

Eu considero um acinte, a propósito, as pessoinhas dizerem com todas as letras que almejam participar de aulas ou de encontros de conversação em língua inglesa e, surpreendentemente, quando elas são convidadas para tal, elas têm o descaramento de dizer que não vão poder participar, pois estão atarefadas ou não têm mais tempo para isso. Sinceramente, custa-lhes admitir que falta a elas na verdade é disposição, coragem e, acima de tudo, vocabulário para se envolverem decentemente nesse tipo de atividade educacional. Digo mais: falta-lhes, concomitantemente, uma opinião bem embasada e uma argumentação infimamente convincente, seja ela feita na sua forma oral ou escrita, para agirem de tal forma.

Em outras palavras, essa ou aquela pessoinha tem (enorme) dificuldade para falar e (mormente) para escrever em língua inglesa algo curto e que expresse uma visão mais atinada sobre um ou outro assunto, ou seja, sobre algo (digamos) very simples ou very complicado. Algo que, na verdade, tem origem na língua portuguesa, já que se pode perceber com relativa facilidade as lacunas que existem no seu conhecimento lexical, gramatical e argumentativo, descritivo, narrativo e até mesmo interpretativo na língua de Camões. Mais uma amostra da péssima qualidade da educação que é oferecida ao cidadão brasileiro…

Then, mesmo hoje, causa-me ainda um enorme mal-estar notar que a bizarra equação governo incompetente mais povo/aluno ignorante (porque ignora) só pode dar frutos amargos no presente e podres no futuro, com influências ainda mais nefastas quando considerados os seus efeitos no longo prazo, em especial na cultura e na economia do país. Algo tão gigantesco que é dificílimo de ser medido, mas que pode ser sentido na voz e no comportamento de cada um de nós, de forma comedida ou mais espevitada.

Resumindo: culpado por e vítima de um sistema educacional calcado no improviso institucionalizado, alunos (e professores) nem sempre se dão conta da sua condição/posição no tabuleiro educacional e social diário, daí pouco (ou nada) fazerem a respeito, pois é muito mais confortável fazer de conta que está sendo ofertado ensino e/ou aprendizado de qualidade do que efetivamente cumprir aquilo que se espera de cada um. Uma tradição deveras brasileira, herdada das gerações que nos precederam e que devem ser repassadas para as próximas gerações, com alguns adendos, muito provavelmente – quando teremos muito mais brasileiros inábeis para fazer críticas arrazoadas e incapazes de apontar as devidas soluções, sejam elas em português, em inglês ou qualquer outra língua…

Fonte | Jerry Mill -Mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras), associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis e autor da biografia Lamartine da Nóbrega – Uma História Como Nenhuma Outra

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