Senador pode conquistar presidência do Senado pela quinta vez desde que entrou para a política em 1978.

Se o resultado das urnas demonstrou o desejo de renovação e ascensão da direita e extrema direita, no Senado Federal figuras tradicionais ainda devem garantir o comando. Na política desde 1978, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) é visto nos bastidores como favorito para conquistar a presidência da Casa pela quinta vez.

Parte da base no governo de Fernando Collor, ex-integrante do governo PSDB e cabo eleitoral do PT nas eleições deste ano, o emedebista é lembrado por sua capacidade de articulação entre aliados e adversários e pelo conhecimento das demandas de cada parlamentar e do funcionamento dos jogos de poder em Brasília.

O senador também se destaca por sua capacidade de voltar ao comando da cena política após derrotas. Em 2007 renunciou ao comando do Senado depois do “Renangate”, mas 2 anos depois estava na lista de figuras mais influentes do País e retomou o cargo em 2013.

No escândalo de 11 anos atrás, o parlamentar foi acusado de receber dinheiro ilícito de lobistas, que teriam pago inclusive a pensão alimentícia de uma filha de Renan com a jornalista Mônica Veloso. O emedebista foi absolvido da acusação em setembro pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Réu por peculato, Renan chegou a ser afastado da presidência do Senado em dezembro de 2016, mas conseguiu se recuperar. Na contramão de caciques de seu partido que foram derrotados nas urnas, como o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), o alagoano conquistou com folga mais 8 anos de mandato.

Ponto cental de sua estratégia foi se descolar do presidente Michel Temer, que conquistou recordes de impopularidade, mesmo integrando o mesmo partido. Em julho, Renan chegou a visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na prisão.

A 3 meses da disputa para o comando do Legislativo, Renan nega ser candidato, mas envia sinais a grupos opostos. Apesar de ter apoiado Fernando Haddad (PT) na campanha presidencial, o emedebista afirmou que pode colaborar com o novo governo em votações na área econômica. “Como no combate aos privilégios, na definição do papel do Banco Central, acho que essas coisas podem ser discutidas na questão dos grandes salários”, afirmou a jornalistas em 6 de novembro.

No mesmo dia, questionado sobre sua posição no governo de Jair Bolsonaro, o senador se esquivou. “Não posso antecipar se serei oposição, você não pode se colocar indefinidamente num campo político. Dá pra se fazer muita coisa sem rótulos”, disse.

O aceno foi respondido no mesmo dia pelo senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do capitão da reserva. “O governo tem que conversar com todo mundo que foi eleito”, disse a jornalistas. “É óbvio que temos de buscar dentro das possibilidades qualquer pessoa que seja uma convergência dentro do Senado”, completou.

Com Jucá, Lula e Dilma

Com uma bancada de 12 senadores, o MDB será o maior partido na Casa a partir de 2019 — o que, de acordo com a tradição, garante o comando do Senado. Dentro do partido, a preferência é por Renan, considerado um nome mais alinhado à cúpula da sigla que controla a Casa desde 2007.

Atual presidente do MDB, Romero Jucá, senador por Roraima, não se reelegeu. Um dos caciques do partido, deve manter o controle da legenda, o que evita uma disputa de poder que poderia levar um novato à presidência da sigla.

O fortalecimento de quadros tradicionais na estrutura institucional do MDB ajuda Renan na disputa parlamentar. Sua possível concorrente, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), é vista com desconfiança por parte do comando do partido por ter uma postura mais independente.

Além do apoio dos correligionários, Renan espera contar com os votos do PT. Presidente do Senado pela primeira vez no governo Lula, o senador voltou a defender o petista durante a campanha, de olho na popularidade do ex-presidente no Nordeste.

Foi ele também o responsável por articular o fatiamento da votação do impeachment de Dilma Rousseff, que permitiu que a ex-presidente não se tornasse inelegível, apesar do afastamento.

Oficialmente, petistas evitam falar sobre um possível apoio. “Como é uma nova bancada não tenho nem ideia do que cada um pensa. E a política no Brasil muda toda semana ou todos os dias”, desconversou o senador Paulo Paim (PT-RS).

Dos 6 senadores que farão parte da bancada do PT em 2019, 3 são novos nomes: Jaques Wagner (BA), Rogério Santos (SE) e Jean-Paul Prates, suplente de Fátima Bezerra (RN), que ganhou a eleição para o governo do Rio Grande do Norte.

Tasso Jereissati na oposição

Paim lembra ainda que existe uma “meia dúzia de candidatos” se articulando. A eleição é em fevereiro e, embora oficialmente todos neguem as candidaturas, outros nomes citados nas articulações são Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Esperidião Amin (PP-SC), sendo o primeiro o candidato da oposição e o segundo, governista.

O nome de Cid Gomes (PDT-CE), irmão do candidato à Presidência da República derrotado no primeiro turno Ciro Gomes, também é cogitado. São citados ainda novatos do PSL, como Major Olímpio (SP) e Flavio Bolsonaro.

A tendência, contudo, é que o PSL não lance candidato. O presidente eleito já demonstrou que prefere não interferir diretamente na disputa de comandos tanto no Senado quanto na Câmara. Uma possibilidade é que a bancada de 4 integrantes do PSL apoie Esperidião Amin.

Após 2 mandatos como deputado, o senador do PP que declarou apoio a Bolsonaro na campanha mantém bom trânsito com a ala mais conservadora do Congresso, o que poderia facilitar a aprovação de pautas de costumes, como a Escola sem Partido.

Já a construção de um bloco da oposição pode fortalecer Tasso Jereissati, ex-presidente do PSDB. Senador pela Rede, Randolfe Rodrigues (AP) articula a formação de um bloco da legenda de Marina Silva com PDT, PPS e PSB. Juntos, o grupo reuniria 13 parlamentares que poderiam apoiar o tucano. O PSDB, por sua vez, terá 9 integrantes.

O senador Paulo Bauer (PSDB-SC) destaca que o partido sozinho não consegue emplacar o comando da Casa. “É um tema que não cabe discutir do ponto de vista partidário. Composições e articulações dependem de cada grupo. O PSDB tem nomes qualificados, mas para presidir a Casa não adianta pretender fazer isso sozinho”, afirmou ao HuffPost Brasil.

Ex-líder da bancada tucana, o parlamentar diz que os movimentos são “pura especulação” e nomes são citados para testar a receptividade. “Uma tese muito antiga na política é que quem aparece em primeiro nesses tipo de processo sempre acaba em último ou sequer consegue se tornar candidato”, completou.

Se a lição é moderar a exposição na disputa, Renan já aprendeu. “Eleição para o Senado é como eleição para escolher o papa. Quando se convocam os cardeais, sabe-se que dali vai sair um papa. E nunca é aquele que chega proclamando-se candidato”, disse em entrevista à revista Veja publicada em 2 de novembro.

Fonte | Huffpost Brasil

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