Vítimas de trabalho análogo ao escravo iniciam curso de qualificação em Mato Grosso

Vítimas de trabalho análogo ao escravo iniciam curso de qualificação em Mato Grosso
Projeto de qualificação de trabalhadores egressos e vulneráveis ao trabalho análogo ao de escravo deu início ao primeiro curso presencial após a pandemia O Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT) participou da abertura do curso de qualificação de “Operador de PC”, ofertado pelo Projeto Ação Integrada (PAI). O evento ocorreu na fazenda experimental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em Santo Antônio de Leverger, a cerca de 30km de Cuiabá, no fim de maio. O projeto é desenvolvido desde 2009 pelo MPT, em parceria com a Superintendência Regional do Trabalho de Mato Grosso (SRT-MT) e a UFMT. A iniciativa visa a assegurar o acesso à educação e à qualificação profissional, proporcionando a egressos do trabalho análogo ao escravo ou vulneráveis a essa exploração a oportunidade de uma vida digna, rompendo o círculo da exploração. Participam desta edição 21 trabalhadores. Os alunos, que são oriundos de Poconé, Nossa Senhora do Livramento, Cáceres, Confresa e Cuiabá, têm entre 18 e 47 anos e fazem parte do público-alvo do projeto. Um deles foi resgatado no ano passado na região da Serra do Mangaval, a 20km de Cáceres. Trabalhava triturando cana e alimentos para o gado. Nesse período, sofreu um acidente com uma máquina que o deixou sem três dedos da mão. Pelos próximos três meses, os trabalhadores receberão uma ajuda de custo, além de alojamento, alimentação, transporte, kits de higiene e roupa de cama e banho. O dia a dia será dividido entre aulas de inclusão digital, ministradas no período matutino por alunos da UFMT, e aulas de aperfeiçoamento profissional para operação de PC, conduzidas pela equipe do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), à tarde. Os participantes também cumprirão uma carga horária voltada ao avanço do nível de escolaridade, com aulas de reforço ofertadas por professores da Escola Hermes de Abreu e vinculados à Secretária de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc/MT). Durante a qualificação, está prevista a realização de workshops e palestras, além de atividades de lazer aos sábados, como passeios em parques, aeroportos e shoppings e visitas a locais turísticos. Abordagem e seleção A qualificação profissional dos alunos inclui a estadia na fazenda experimental em Santo Antônio de Leverger durante três meses. A parceria com a fazenda, onde a teoria e a prática do curso ocorrem, concretiza o objetivo da UFMT de articular pesquisa, ensino e extensão. A fazenda cede toda a estrutura para a realização da capacitação e, em contrapartida, recebe benfeitorias. Os trabalhadores que se formaram anteriormente foram os responsáveis pela pintura do local, assentamento de azulejo, instalação de telhas e construção da guarita e da casa de energia. Na fazenda, há uma placa com os nomes de todos os alunos que já passaram por lá. A nova turma será responsável pela estruturação de um tanque de peixes. O agente de Ação Social do PAI Pablo Friedrich conta que os alunos foram identificados a partir do cruzamento de bancos de dados e informações fornecidas pelas Secretarias de Assistência Social, Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). Friedrich explica que essas informações norteiam a triagem e a definição de estratégias de abordagem de potenciais beneficiados pelo projeto. A partir delas, são realizadas ações com a população considerada vulnerável a eventual aliciamento ou exploração ao trabalho análogo à condição de escravo. Depois, a equipe multidisciplinar visita as comunidades que têm necessidades pontuais, verificando as demandas por cursos. Por meio de dados relativos ao seguro-desemprego dos resgatados, a equipe também consegue expandir as ações para os trabalhadores egressos que ainda não participaram do PAI. “Essas ações têm algumas etapas. A primeira é o monitoramento através do banco de dados para identificar o público e o município de origem. Depois disso, a gente faz uma reunião com os gestores para que eles façam a adesão ao projeto por meio da assinatura de um termo de adesão. Depois é que se faz a abordagem junto aos trabalhadores”, explica. O curso marca o retorno ao formato utilizado pelo projeto desde sua origem, com orientação, abordagem, capacitação, escolarização e inclusão digital. “No ano passado, o Centro de Pastoral para Migrantes solicitou uma parceria para capacitação de mulheres vulneráveis estrangeiras e brasileiras em corte e costura industrial. Essa foi a primeira ação do projeto depois da pandemia, mas não utilizou a nossa estrutura. Agora, com o curso de ‘Operador de PC’, damos início a uma nova fase do projeto, com a retomada dos cursos”, relata. O agente comenta a importância desse momento. “É uma grande satisfação ver que o projeto consegue ter resiliência para o retorno a essas atividades, considerando todos os cuidados necessários nesse momento de pandemia. Esse tempo foi fundamental para nos adequarmos e para que toda a coordenação pudesse se estruturar internamente para as ações de segurança e orientações necessárias para voltar”, comenta Pablo Friedrich. “Com esse retorno, podendo atender esse público que está à margem da sociedade, que não é visto pelo Poder Público, é uma grande satisfação”, conclui. Ambientação Na semana de 23 a 28 de maio, ocorreu a Semana de Direito e Cidadania, que deu início ao curso de “Operador PC” e promoveu palestras com a participação de vários órgãos públicos. O procurador do Trabalho Danilo Vasconcelos, chefe do Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT), conversou com os trabalhadores no dia 26 de maio para falar sobre o papel da instituição. O procurador pontua que os recursos para custeio das atividades do PAI são provenientes de multas e indenizações obtidas pelo MPT em sua atuação no combate a irregularidades trabalhistas. “O Projeto Ação Integrada atende fielmente ao escopo da Lei de Ação Civil Pública, ao possibilitar a efetiva recomposição do dano moral coletivo causado pelo explorador do trabalho escravo contemporâneo em benefício da comunidade local atingida, pertinência temática e territorial essa que tem sido uma grande preocupação do MPT. Para além disso, foi muito emocionante conversar com esses trabalhadores e perceber, em seus olhos, a alegria e a esperança de dias melhores, com a perspectiva de obterem um emprego digno e, com isso, construírem uma nova narrativa de vida para si e para sua família”, afirma o procurador-chefe. No mesmo dia, o auditor-fiscal do Trabalho Silvio Teixeira, chefe do Núcleo de Saúde e Segurança do Trabalho (Negur) da Superintendência Regional do Trabalho de Mato Grosso (SRT/MT), também se apresentou para os alunos e explicou como atua a fiscalização do trabalho. No dia 23 de maio, a coordenação do curso conversou com os trabalhadores e a juíza do Trabalho Aline Fabiana Campos Pereira, do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região (TRT-RN), ministrou palestra sobre direitos trabalhistas. No dia seguinte, 24, foi realizada uma aula motivacional com a equipe do Ação Integrada sobre empoderamento. No dia 25, os convidados foram o sargento BM Minadabes, do Corpo de Bombeiros, que conduziu treinamento sobre primeiros socorros e combate a incêndio, e o defensor público Roberto Tadeu Vaz Curvo. No dia 27, a psicóloga Flávia Brum, da Gerência de Prevenção ao Uso de Álcool e outras Drogas da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT), conversou com a turma sobre os prejuízos da ingestão de bebida alcoólica. Por fim, no dia 28, a Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá promoveu, por intermédio da equipe do Programa AMOR, o Dia D da Saúde, com vacinação dos alunos e realização de testes de glicemia, sífilis, HIV, hepatite, entre outros.
Via | Assessoria   Foto | Assessoria MPT-MT

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