Segundo Marina Silva, governo quer sair de Belém com “espécie de mandato” para desenhar o mapa do caminho. Alemanha, Dinamarca e Reino Unido apoiam
O fim do uso de combustíveis fósseis, maior causador global das mudanças no clima, tem aparecido cada vez mais na COP30, ainda que o tópico não esteja na agenda formal de negociações. Na tarde desta quarta-feira (12), o governo brasileiro promoveu mais um evento sobre o tema. Segundo Marina Silva, a ideia é que a Cúpula de Belém acabe com uma “espécie de mandato” para que a descarbonização entre na trilha oficial das agendas negociais.
O debate reuniu cientistas e especialistas de diferentes países. A ideia foi discutir como avançar, de forma concreta, no Consenso dos Emirados Árabes, decisão tomada em 2023 na COP de Dubai, na qual os países se comprometeram a “transicionar para longe dos combustíveis fósseis”. O tema não teve prosseguimento desde então.
“Apesar de conhecermos muito bem o desafio, ainda estamos longe de consenso sobre como resolver esse problema. Uma pergunta ainda se faz necessária. Como podemos caminhar juntos para sairmos da dependência dos combustíveis fósseis?”, perguntou Marina Silva na abertura do evento.
Segundo ela, a resposta é complexa, mas a construção do Mapa do Caminho, proposta pelo presidente Lula durante a abertura da Cúpula, se faz necessária. “Estou convencida de que, apesar de todas essas dificuldades, a melhor coisa que fazemos é nos prepararmos para a mudança. Quando nós não nos preparamos para mudar, nós somos mudados. […]”, continuou a ministra.

Foto: Ueslei Marcelino/COP30
Segundo ela, as ondas de calor, as secas e os eventos extremos, como o tornado que assolou cidades do Paraná na última semana, nos trazem uma “pedagogia do luto e da dor”. “O que nós queremos é que esse mapa seja a nossa bússola para superarmos a dependência dos combustíveis fósseis de forma justa, ordenada e planejada, fruto de um diálogo com todos, para que ninguém fique para trás”, disse.
Após a realização do debate, que contou com nomes como Nicholas Stern, economista, presidente do Instituto Grantham de Pesquisa Sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente do Reino Unido e autor do Relatório Stern, Marina Silva falou a jornalistas. Segundo ela, a ideia é que a COP30 consiga inserir o Mapa do Caminho para fim dos fósseis em alguma trilha negocial da Conferência, na chamada agenda mandatada.
“O trabalho e o desafio que está posto […] é de que a gente possa, a partir daqui, se conseguirmos, sair com uma espécie de mandato para desenhar esse mapa do caminho. Mas isso não está dado a priori, é uma construção, é um tema complexo.”, disse. De acordo com ela, no entanto, não é mais possível negligenciar a raiz do problema das mudanças climáticas – as emissões de gases de efeito estufa, provocada majoritariamente pela queima dos fósseis.
O mais provável é que esse “mandato” para o Mapa do Caminho seja inserido dentro das negociações já em curso do Balanço Global, conhecido pela sigla em inglês GST. O próximo Balanço global acontece daqui a três anos e, se o Brasil conseguir emplacar um Mapa do Caminho, poderá iniciar efetivamente o processo de descarbonização em nível global.
Apoio de peso
O evento coordenado por Marina Silva contou com a presença de representantes de alto nível da África, América Latina e Europa, além dos especialistas em economia Nicholas Stern e Arunabha Ghosh, presidente do conselho de Energia, Meio Ambiente e Água da Índia. O tom foi de apoio à iniciativa do Brasil para criação do Mapa do Caminho para o fim dos fósseis.
“Para ser muito explícito, nós vamos apoiar qualquer decisão de criar, de dar o pontapé inicial, em um mapa do caminho para transitar para longe dos combustíveis fósseis neste ano, aqui em Belém. Seria um ótimo sinal e espero que consigamos”, disse Jochen Flasbarth, vice-ministro do Meio Ambiente, Ação Climática, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha.
Para Ole Thonke, embaixador para Clima e subsecretário para Políticas para o Desenvolvimento do Ministério de Relações Exteriores da Dinamarca, a liderança do Brasil na criação de um Mapa do Caminho para US$ 1,3 – relatório com sugestões de como escalonar o financiamento climático, produzido após o fracasso da COP29, em 2024, – pode servir de inspiração para um roteiro similar voltado ao fim dos fósseis. “Poderíamos fazer algo similar? Poderíamos nos inspirar nesse processo [para construir o Mapa do Caminho] com os combustíveis fósseis? Eu vejo muitas oportunidades de levar isso adiante e agradeço ao Brasil por tomar a liderança”, afirmou.
Reino Unido também endossou a proposta, dizendo que o mapa do caminho vai ajudar nações em seus processos voltados à transição energética. “E isso é muito importante, porque a jornada de Angola será diferente do Reino Unido, a jornada de Guiana será diferente do Brasil, a jornada da Dinamarca será diferente da Namíbia, mas todos estamos comprometidos com a jornada”, declarou Rachel Kyte, enviada especial para
Mudança do Clima do Reino Unido.
O tema do fim dos fósseis também tem aparecido em outras frentes na COP30. Segundo Ana Carolina Amaral, do UOL, na próxima segunda-feira (17), a Colômbia deve apresentar um documento intitulado “Declaração de Belém Sobre Combustíveis Fósseis”, que teria sido assinado por pelo menos 50 países.
Além disso, uma outra iniciativa, chamada Tratado da Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis, também tem demandas no mesmo sentido.
Esta reportagem foi produzida por ((oeco)), por meio da Cobertura Colaborativa Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original aqui.
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