Alunos do Instituto Ciranda fazem imersão sonora no Pantanal

Alunos do Instituto Ciranda fazem imersão sonora no Pantanal
Projeto leva estudantes para vivência de quatro dias para explorar os sons da natureza O cantar dos pássaros, o cochichar das correntezas, o assobiar do vento, o estalar de galhos e folhas secas ao serem pisados, o coaxar dos sapos, o grunhir dos mamíferos, dentre outras tantas sonoridades. O Pantanal é uma verdadeira orquestra a céu aberto. E o Instituto Ciranda, a partir desta segunda (30), vai levar seus alunos para uma vivência de quatro dias neste ininterrupto concerto. Trata-se da sexta edição do projeto Pantanal Aventura Sonora. Cerca de 30 pessoas, entre alunos e professores, ficarão hospedados na região de Porto Jofre. E no retorno da viagem, na quinta-feira (2), farão uma parada no Sesc Pantanal, em Poconé, para apresentar o resultado musical dessa imersão. Do ponto de vista ambiental, ao explorar o bioma em termos musicais, conscientiza-se sobre a importância de sua conservação. E no que diz respeito ao fazer artístico, a imersão aguça a sensibilização da escuta, o que é fundamental na formação de jovens estudantes. Ao longo do programa, os estudantes farão gravações em diferentes locais e horários. A intenção destas escutas reflexivas, concentradas nas sonoridades, é observar interações entre espécies diferentes. “Um dos aspectos mais importantes do desenvolvimento musical é aprender a ouvir. Quando se exercita isso, há um processo de educação musical, de educação do ouvido, de desenvolvimento da percepção, de ampliação da escuta”, explica Murilo Alves, presidente e maestro do Instituto Ciranda. A proposta do programa é dividida em três níveis. Primeiro, são trabalhadas possibilidades de escuta e técnicas básicas de composição e improvisação. Depois, com o auxílio de biólogos, aborda-se a ecologia local através do estudo de alguns animais e suas contribuições para o bioma. Por fim, investiga-se como sons individuais se fundem em paisagens sonoras cuja complexidade permite o estudo do bioma como um todo. A experiência de edições anteriores identificou a existência de certos ciclos e padrões sonoros que operam em faixas acústicas específicas, muitas vezes sugerindo refinada organização. Neste sentido, é possível estabelecer ligações entre a música e os sons pantaneiros. Afinal, se a orquestra possui camadas de vários instrumentos simultâneos, com trechos mais etéreos, rítmicos ou pontilhistas, a natureza também tem seus arranjos. “É uma trama sonora que, em alguma medida, encontra paralelos com a de uma orquestra. Ela também tem certos parâmetros de organização”, contextualiza Murilo Alves. Sob esta perspectiva, o projeto se norteia nos conceitos de geofonia, biofonia e antrofonia, termos criados pelo compositor e pesquisador americano Bernie Krause. A geofonia se refere aos sons não biológicos (vento, água corrente, chuva, trovão…); a biofonia engloba sons de organismos vivos em habitat natural, com exceção de humanos (aves, mamíferos, répteis…); e a antrofonia é todo som derivado da presença humana. A partir destes conceitos, o programa relaciona o universo pantaneiro ao da música orquestral. “Estabelecemos esse parâmetro de comparação. É como se fossem três sessões da orquestra: das madeiras, das cordas e dos metais. Pegamos essas três fontes sonoras [geofonia, biofonia e antrofonia], como se fossem três sessões, e analisamos como se articulam, como se organizam”, revela Murilo, cuja pesquisa de doutorado investiga justamente a paisagem sonora na região de Porto Jofre. Após este processo de imersão, os alunos aplicam a experiência ao fazer criativo. Eles concebem a paisagem sonora como se fosse uma grande orquestra, buscando compor a partir da metáfora entre os conceitos de Krause e as sessões. A proposta não é tentar imitar os sons da natureza, mas conceber uma obra original a partir destas referências. Em outros anos do Pantanal Aventura Sonora, os alunos criaram músicas a partir desta experiência. Cada peça, que costuma ter entre seis e sete minutos, foi apresentada nos concertos da Orquestra Sinfônica CirandaMundo. O tema desta temporada será apresentado de forma inédita, nesta quinta, no Sesc Pantanal. “A ideia é descrever a paisagem sonora com seus instrumentos. Isso estimula muito a criatividade dentro do processo de estudo e desenvolvimento musical”, conclui o maestro. Instituto Ciranda Criado em 2003, o Instituto Ciranda – Música e Cidadania desenvolve ações nas áreas da educação e cultura, utilizando a música como ferramenta de cidadania. Atualmente, atende cerca de 800 crianças, adolescentes e jovens de diferentes classes sociais e cidades mato-grossenses. Os alunos dispõem gratuitamente de condições para que possam se desenvolver plenamente. A instituição conta com três orquestras para aprendizes em diferentes níveis (Sinfônica CirandaMundo, Cirandinha e Primeira Ciranda). Além das aulas práticas, também são ofertados conteúdos teóricos, métodos e partituras. A proposta inclusiva tem possibilitado que muitos alunos continuem os estudos em universidades do Brasil e exterior. O Instituto Ciranda conta com parcerias para a manutenção dos programas. A empresa Bom Futuro, Eletrobrás Furnas, Energisa, Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), Associação Mato-grossense de Produtores de Algodão (AMPA), Sesc Pantanal e Unimed Cuiabá são alguns destes parceiros.
Via | Assessoria   Fotos | Alex Carney

Compartilhe:

Ver mais: