A pandemia do novo coronavírus colocou à prova muitos modelos de organização e a capacidade de reação humana. Adaptação foi a palavra de ordem. Rigorosa observância das práticas de profilaxia, higiene e conduta de segurança sanitária foi a senha para sobreviver. Nesse ambiente de atenção e preocupação destacaram-se, mais uma vez, os diferenciais do cooperativismo.

         As cooperativas foram criativas e inovadoras, propondo e protagonizando ações nas esferas do individual e do coletivo tanto para a manutenção das atividades profissionais e empresariais, quanto no apoio aos setores vulnerabilizados pela pandemia. Ações sociais e assistenciais ditadas pela solidariedade no atendimento a idosos, doentes, deficientes e crianças em situação de risco se misturaram às atividades de proteção aos negócios locais.

         Pequenos, porém, importantes encadeamentos produtivos do universo local e regional foram beneficiados com ações e campanhas de cooperativas para fortalecimento do pequeno comércio e demais atividades profissionais e empresariais que gravitam no entorno das cooperativas. A capilaridade e a extensão dessas ações fortaleceram o tecido social, aumentaram o sentido do pertencimento e mitigaram os custos humanos da pandemia. Empregos foram mantidos e famílias não caíram na miséria.

         Aqui aflora um efeito periférico das sociedades e empresas cooperativistas que é a evolução da sociedade locorregional envolvente, transformando-as em comunidades ativas, humanas, solidárias, libertárias e pluralistas que não esperam a ajuda do Estado: elas sabem que vencer o imobilismo e propor ações práticas no contexto do microcosmo dão muito mais resultados do que esperar que a máquina do Poder Público se mova em socorro aos cidadãos.

         Esse fenômeno é particularmente notável nas regiões do hinterland catarinense e brasileiro, onde a mão do Estado não alcança. Ali, a congregação de esforços em vários formatos (cooperativa, sindicato, clube, associação) viabilizou melhorias como água, energia elétrica, escola, posto de saúde, salão comunitário e outros equipamentos sociais.

         A simples leitura desses cenários leva a constatação de que, efetivamente, as cooperativas elevam o índice de desenvolvimento humano (IDH) dos municípios onde atuam. As cooperativas conferem  protagonismo aos cooperados e os tornam partícipes do processo comunitário. Contribui para isso o ideário que sustenta e anima o movimento cooperativista, tanto quanto os recursos materiais e tecnológicos colocados à disposição para prestação de serviços e estímulos à produção e/ou comercialização.

         As emergências que vieram no bojo da crise sanitária tiraram muitos cidadãos do imobilismo à medida que as estruturas públicas de saúde foram se aproximando do colapso, sem capacidade de atender a inusitada explosão de casos graves em tempo recorde. Vidas foram salvas na razão direta da taxa de solidariedade dos concidadãos.

         O que se confirmou na pandemia, em face de milhares de ações e campanhas exitosas dentro e fora das pequenas e grandes cooperativas, é que o ser humano nas condições extremas pode controlar o atávico instinto de preservação e estender a mão ao semelhante. A pandemia vai passar, mas essas lições ficarão, indeléveis.

Fonte |  Luiz Vicente Suzin, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).

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