Das muitas asnices (junção de ‘asneiras’ com ‘burrices’) que eu tenho ouvido nos últimos meses, poucas se equiparam à aparente certeza de algumas pessoas que têm garantido aos quatro cantos que este é um ano perdido nas mais diversas áreas, especialmente no caso da educação. Para estes filósofos da ignorância, porta-vozes do apocalipse educativo, eu costumo não dar a mínima atenção. Ainda assim, quando eu me dou ao trabalho de lhes dizer algo, eu geralmente respondo que, de fato, talvez tenham sido as pessoas que se perderam em meio a tantas mudanças, e novidades.

No caso específico do campo da linguagem, em especial no que se refere ao ensino-aprendizagem de língua inglesa, que tem sido a minha área de atuação há mais de três décadas, tanto como aprendiz quanto como professor, antigas crenças e mitos da ancestralidade ganharam uma proporção ainda maior recentemente, e voltaram a ser utilizados como argumento nas conversas presenciais ou virtuais com alunos, pais, professores e ‘interessados’. Gente que acredita que, considerando-se a realidade atual, “assim fica mais difícil de assimilar o conteúdo, que já é complicado”, que “só se aprende inglês no ambiente da sala de aula” ou que “faltam as condições ideais para que seja desenvolvido um trabalho melhor”. Well, sabemos, na maioria das vezes, cada um acredita no que lhe convém, não é mesmo?

O que é arrazoado afirmar, no entanto, é que, em meio a essa pandemia do coronavírus e face à necessidade de adoção/manutenção do ensino-aprendizado de forma remota, raros são os alunos, pais e profissionais da educação que estão contentes ou, no mínimo, habituados com essas modificações adotadas. Afinal, tudo indica que houve muito mais prejuízos do que ganhos com toda essa alteração que foi implementada tanto nas escolas públicas quanto particulares. Prejuízos inclusive financeiros e psicológicos, fruto da diminuição ainda maior do poder de compra do trabalhador assalariado, bem como da sua preocupação extra de se manter vivo, em meio aos notórios estragos causados pela covid-19.

Nessa nova realidade (caótica?) que se instaurou entre nós, eu tenho inclusive ouvido de muitos aprendizes (jovens e adultos) ligados a uma ou outra instituição de ensino não governamental, como é o caso da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), que a intenção deles é retomar o estudo sistematizado do idioma bretão somente em 2021, “dependendo de como as coisas vão estar”. Em outras palavras, eles optaram por não fazer nem mesmo aulas virtuais (via Google Meet, Zoom ou Teams, por exemplo) e passaram a se dedicar “um pouco mais” a acompanhar séries, ver vídeos ou ouvir música, práticas essas tidas por muita gente como uma forma bastante promissora de “ao menos manter” (ou aumentar) o próprio conhecimento linguístico.

Pelo que eu percebi e percebo nessas afirmações, há o desejo não manifesto de fazer economia de tempo e principalmente de dinheiro por parte de uma grande parcela desses aprendizes (e também de professores), visto que as exigências que se sucederam ao advento da pandemia lhes custaram muito mais do que time and money simplesmente. Para muitos, isso lhes custou também a perda de alguns entes queridos e, com isso, surgiram muitas dúvidas quanto ao seu próprio futuro.

Enquanto isso, os noticiários nos mostram que tudo se encaminha para que a suposta e desejada normalidade volte a habitar entre nós somente no ano que vem. No campo da educação, há quem acredite que isso só deve ocorrer no final do primeiro trimestre de 2021, provavelmente em março. Caso isso efetivamente aconteça, nossos aprendizes (e professores) terão ficado praticamente um ano sem ter aulas formais e presenciais. Muito tempo para quem almeja ser fluente na English language, você não acha, dear reader?

Fonte | Jerry Mill – Mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras), associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis e autor do livro Inglês de Fachada

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