What a child can do today with assistance, she will be able to do by herself tomorrow.*

-Lev Semyonovich Vygotsky (1896-1934)

No Brasil, apesar de a obrigatoriedade existir somente a partir do 6° Ano, não há mais como negar que existe um crescente debate sobre a possibilidade ou viabilidade de as escolas públicas passarem a oferecer aulas de língua estrangeira (notadamente de inglês) também para as crianças que estão matriculadas nos chamados Anos Iniciais do Ensino Fundamental, cuja faixa etária varia entre os 6 e os 10 anos de idade. Caso essa proposta seja aprovada e implementada, ela irá realizar o desejo inconteste de inúmeros pais ou responsáveis que, eufóricos, torcem inclusive para que creches também possam ser beneficiadas com essa medida que, ao que tudo indica, tem mais pontos a seu favor do que contra si mesma.

Na verdade, caso você não saiba, essa já é uma prática comum na iniciativa privada há alguns anos, calcada na crença de haver “inúmeros benefícios” para os alunos dessa faixa etária, o que pode servir então de modelo para os gestores públicos saberem sobre o que fazer e não fazer nesse setor. Ainda assim, permanece a dúvida sobre quando e como os governos municipal, estadual e federal vão lidar com essa questão, já que é compreensível a preocupação de muitos pais ou responsáveis com o futuro dos seus pequenos num mundo mais e mais virtual e exigente, em que o conhecimento linguístico tem sido considerado de grande valia no competitivo mundo globalizado em que vivemos. Com isso, nossos pequenos poderiam ter English practices desde o Maternal, passando pelo Jardim de Infância e contemplando igualmente o Ensino Fundamental I (do 1° ao 5° Ano). How wonderful that would be, ladies and gentlemen!

No entanto, olhar apenas para um lado da balança pode não ser a melhor opção tanto para governos quanto para cidadãos bem-intencionados. Afinal, alguns questionamentos precisam ser feitos, como: Qual será a carga horária semanal? Os professores de inglês de cada UMEI/EMEI (Unidade/Escola Municipal de Educação Infantil) devem ser pedagogos apenas? O livro didático deve ser ou não adotado? Como melhor avaliar o desempenho dos alunos? E quanto a temas caros como heterogeneidade e interdisciplinaridade? Well, a propósito, a julgar pelos resultados obtidos em outras disciplinas que fazem parte do currículo escolar dos nossos brasileirinhos e brasileirinhas, seja em escolas públicas ou particulares, a questão merece muito mais do que cautela, e perguntas (que nem sempre são respondidas a contento). Ela precisa ser, acima de tudo, o ponto de partida para revermos como nós lidamos com a questão educacional no país, que precisa ser reformulada gradativa e sabiamente, para estar adequada às reais demandas atuais e futuras do país, assim como às exigências do mundo contemporâneo.

Primordialmente, é preciso perceber que as crianças de hoje estão mais informadas e conectadas do que as de décadas ou gerações anteriores. Nesse contexto, práticas pedagógicas tradicionais como exercícios gramaticais e traduções em excesso devem ser reconsideradas, pois today’s kids parecem estar ainda mais impregnados de energia, de curiosidade e de inglês, além dos problemas decorrentes de toda essa contemporaneidade. Por seu turno, sob constante pressão, cabe ao professor de língua inglesa corresponder às expectativas de superiores, pais ou responsáveis, boys e girls, que costumam ver a English language como uma tábua de salvação por um lado e algo bem mais inacessível do que ela realmente é por outro. No entanto, o sad fact realmente é perceber que ela, tão inegavelmente presente no nosso cotidiano, em praticamente tudo o que fazemos, mesmo depois de séculos entre nós, ainda não passa de uma língua estrangeira em solo brasileiro. Ora, é preciso indagar, então: com quem nossos kids vão praticar esse inglês no mundo real, se raros são os familiares,vizinhos e amigos que o dominam ou ao menos se interessam mínima e verdadeiramente por ele?

Daí vermos a necessidade de, uma vez em sala de aula, o professor dar ênfase à linguagem falada através de atividades lúdicas bem elaboradas e devidamente aplicadas, o que pode envolver o uso de palavras isoladas, frases curtas, rimas, canções, trava-línguas, contação de histórias (storytelling), brinquedos, folhas para colorir, colagens, pinturas e o que mais for relevante ou oportuno para cada turma ou situação. Enfim, que ele faça tudo aquilo que estiver ao seu alcance para encorajar os nossos pequenos aprendizes a compreender o que está sendo ensinado da forma mais divertida possível, despertando neles emoções e sentimentos positivos que os motivem, individual ou coletivamente, a querer saber mais e mais sobre os sons e as letras do idioma bretão, a ponto de, se e quando possível, praticarem-no de forma oral e escrita em casa, na rua, com os amigos ou familiares, anywhere – dando inclusive continuidade aos seus estudos linguísticos por conta própria, talvez.

Através da cooperação e do companheirismo entre os pequenos em sala de aula, do sonhado interesse e acompanhamento dos pais ou responsáveis e do investimento pontual e assertivo do governo tanto na estrutura física quanto nos teachers, não resta dúvida de que podemos chegar a uma realidade bem diferente dessa que temos atualmente, em que a suspeição é muito maior do que a confiança na qualidade do ensino que é oferecido a crianças, jovens e adultos de todas as idades. Caso isso ocorra, sabemos que não vamos mudar essa realidade de uma hora para a outra, of course, mas podemos dar início hoje, agora mesmo, se realmente quisermos, a uma nova forma de ver e fazer as coisas relacionadas à Educação e à Linguagem, com maior e melhor investimento de tempo/dinheiro, rumo à qualidade alcançada por tantos outros países, para o bem dos nossos filhos ou netos e, consequentemente, para a melhoria generalizada desse gigante pela própria natureza chamado Brazil.

* O que uma criança consegue fazer com ajuda hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã.

Fonte:

Valéria Cristina Negrette da Nóbrega Buzatti  | Pós-graduada em Ensino de Língua Inglesa (UFMT) e professora efetiva da rede municipal de ensino

Jerry T. Mill  | Mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras), associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis e autor do livro Inglês de Fachada

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