Remédio se mostrou promissor em um pequeno estudo, mas falta de testes mais profundos ainda preocupa especialistas

O ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta revelou nesta sexta-feira (20) em conferência ao lado do presidente Jair Bolsonaro que o país validou o uso da cloroquina para tratamento da Covid-19. O medicamento demonstrou resultados positivos em um pequeno estudo realizado na França e poderá ser usado nos casos mais graves da doença no Brasil.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deu declarações nesta sexta-feira indicando que o remédio já estaria disponível para o tratamento de casos graves no Brasil. Porém, procurada, a pasta negou.

Segundo Mandetta, o país tem capacidade de produção do medicamento, e que ele já está sendo produzido para estar disponível para o tratamento da doença.

O Ministério da Saúde aguarda um parecer, previsto para a próxima semana, para decidir sobre o uso de cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes graves do novo coronavírus. Essa avaliação de um grupo de especialistas está sendo coordenada pela Secretaria de Ciência e Tecnologia da pasta..

A incorporação, no entanto, poderá ser feita após esse parecer técnico, que reunirá informações sobre o uso dos medicamentos para tratar o coronavírus.

Os remédios são indicados para lúpus, artrite, malária e outras enfermidades, mas, segundo experimentos ainda inconclusivos, poderiam ser efetivos para tratar a Covid-19, doença provocada pelo novo vírus. Se houver adoção, deve ocorrer de forma experimental.

Nesta sexta-feira, Mandetta afirmou, em reunião com empresários, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que o remédio já estava na “prateleira dos pacientes graves”. A declaração foi dada ao responder pergunta do empresário Abilio Diniz, sobre as notícias de que a cloroquina pode ser usada para o novo coronavírus:

— O medicamento, cloroquina, a gente já estava participando do estudo, já validamos, temos capacidade de produção, já estamos produzindo, já está na prateleira dos pacientes graves. Lembrando que nessa gripe o problema não é tanto letalidade individual, os pacientes com muita comorbidade falecem, e falecem de influenza, todos os anos. O problema é entrarem todos juntos ao mesmo tempo no sistema de saúde. O vírus é agressivo para o sistema de saúde.

Depois, o ministro afirmou:— Esse medicamento é experimental. Já tinha sido utilizado na China. Nós participamos do ‘trial’ (testes). Ele tem muitas limitações, muitos efeitos colaterais. É indicado para casos graves, entubados. Nós ainda não temos, é falsa, é fake news a informação de que temos um comprimido que toma e sara. O medicamento faz muita lesão hepática, surdez, tem uma série de contraindicações, não adianta sair comprando e colocar em casa, porque pode morrer do medicamento. Deixa isso nas mãos dos médicos.

Na última semana, o medicamento foi reconhecido após um estudo realizado na França com 36 pessoas, no qual 20 receberam a hidroxicloroquina (uma variação menos tóxica da cloroquina) ou uma combinação do medicamento com o antibiótico azitromicina. Os pacientes que receberam a medicação apresentaram recuperação mais rápida do que o grupo de controle, que recebeu um tratamento convencional.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) havia publicado na quinta-feira (19) um alerta em seu site sobre o uso do medicamento. “Apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da Covid-19. Portanto, não há recomendação da Anvisa, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus”, dizia o comunicado.

A agência também alertava contra a automedicação com o remédio, diante de um cenário em que várias pessoas começaram a correr para as farmácias para adquiri-lo, criando uma escassez da droga para pessoas que dependem dela para tratamento de outras doenças. A hidroxicloroquina já é usada no tratamento de doenças como lúpus, artrite reumática e malária.

Para controlar essa compra por pânico, a Anvisa decidiu incluir a cloroquina e a hidroxicloroquina na lista de remédios controlados, o que deve impedir a compra do medicamento sem prescrição médica. Até agora, qualquer um poderia ir para a farmácia comprar a droga livremente.

Até a quinta-feira (19), especialistas demonstravam preocupação com a euforia em torno da hidroxicloroquina. O doutor Ary Serpa Neto afirmou que são necessários estudos mais amplos e profundos antes de validar o medicamento para uso no tratamento da Covid-19, pois existem casos de medicamentos que mostram bons resultados nos estudos pequenos, mas acabam refutados quando testados em maior escala. É o motivo pelo qual o Ministério da Saúde só liberou o uso nos casos mais graves.

Fonte | Olhar Digital

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