Provocação boba, em busca de curtidas, quase acaba em agressão. Corintiana se infiltrou no Pacaembu e ofendeu os palmeirenses. Correu para não apanhar

“Clássico!

Bem ousada ela,

Vai, Corinthians!”

Uma mulher, de cerca de vinte e poucos anos está sorrindo, atrevida, posando para a câmera do celular.

Com short preto, camiseta branca, o casaco marrom na cintura não disfarça o uniforme corintiano.

Ela não resiste e posta a foto, com a provocação, nas redes sociais durante o jogo.

Acaba descoberta.

Alguém que estava ao seu lado fez questão de distribuir o post. Só que, abaixo da legenda, a sua localização, grifada em verde.

“Está no tobogã.”

Foi a senha para começar a ser caçada.

E localizada.

Ao seu lado, o companheiro com a camisa do Palmeiras não foi escudo.

A ousada corintiana teve de correr porque mulheres com a camiseta da Mancha Verde correram em sua direção para a agredir. Uma consegue puxar o cabelo, enquanto ela e o parceiro correm, desesperados.

cena bizarra aconteceu ontem no Pacaembu.

O vídeo das mulheres partindo para cima da ‘infiltrada’ já está à disposição, na Internet.

Essas invasões, seguidas de agressões estão se tornando cada vez mais comum no Brasil.

É o reflexo da incompetência das autoridades que cedem diante das organizadas e promovem a ‘torcida única’.

Há uma verdadeira paranoia por parte dos torcedores ‘únicos’. Principalmente quando seus times não correspondem. Os mais bestializados precisam descontar a frustração pelo resultado ruim do time. Nada melhor do que nos ‘infiltrados’.

Descoberta, momentos de terror
Reprodução/Twitter

Foi assim que, na quarta-feira, torcedores do Botafogo não se contiveram diante das reclamações, irritação de Sérgio Fernando Pacheco Cavalcanti, irritado com o time perdendo o clássico contra o Flamengo.

Mesmo com a camisa alvinegra, ele foi espancado. Tomou socos, pontapés. Outros botafoguenses gritaram que Sérgio Fernando seria flamenguista.

Teve de suportar a cólera de dezenas de homens que torcem pelo mesmo time que ele. Pontapés, socos, pisões.

Acabou com várias escoriações, hematomas e sem um dente da frente.

“Ele levou muitas pancadas na cabeça, não sei como ele está vivo. Foi um milagre! Isso é vandalismo puro além de espancado levaram a camisa do Botafogo , o celular e o cordão (de ouro)”, disse a mulher Ana Paula.

Foi agredido e roubado.

Antes do jogo, vândalos botafoguenses ficaram em frente ao estádio. Como abutres esperavam torcedores que vinham sem a camisa do clube. Os cercavam e os que titubeavam na hora de falar que torciam pelo Botafogo apanhavam e tinham seus ingressos roubados.

Um pouco antes do jogo de quinta-feira, Jonathan Massara estava a quilômetros do estádio, em Jacarepaguá. Foi colocar gasolina na sua moto. Foi cercado por vândalos flamenguistas. Seu pecado: usar a camisa do Botafogo.

Jonathan tomou socos, pontapés e quatro estocadas de objetos perfurantes, provavelmente facas, mas os médicos não têm certeza. Além disso, sofreu duas fraturas. Ele está em estado grave, hospitalizado.

Dois dos seus agressores foram presos pela polícia.

Mas já foram soltos, colocados em ‘liberdade provisória’.

Foram capturados na quinta-feira.

Liberados ontem, no sábado…

As redes sociais, triste termômetro da sociedade, se dividiram em relação à infiltrada no Pacaembu.

Corintianos aplaudem sua ousadia.

Palmeirenses lamentam que ela não tenha apanhado de verdade. E querem que seu rosto seja marcado, para ser caçada nos próximos clássicos contra o Corinthians.

Neste Brasil regado a ódio e impunidade há dois mundos.

O primeiro, o ideal e irreal.

Qualquer torcedor poderia acompanhar a partida do seu time do coração onde fosse. Inclusive circular, orgulhoso, com a mesma camisa que os jogadores vestem.

Sem ser perturbado.

O tal direito constitucional de ir e vir, de aproveitar a liberdade.

E as pessoas que a agrediram, ou tentaram agredir, deveriam ser processadas judicialmente.

Esse não existe.

O real é o da intolerância, da não aceitação ao contrário.

As autoridades não conseguem conter a violência no país.

Torcedor do Botafogo espancado
Reprodução/Twitter

Houve comemoração pública pelo fato de, no Brasil, em 2018, terem acontecido 51.589 assassinatos. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou uma diminuição de 13% em relação a 2017, 59.128.

Na Guerra do Iraque, que levou oito anos, entre 2003 e 2011, o número estimado de mortos é de 150 mi pessoas. No mesmo período no Brasil, se chegaria, arredondando para baixo, a 400 mil mortos.

A violência e a impunidade são cúmplices de agressões gratuitas na sociedade. Seja no trânsito, nas escolas, nos estádios de futebol.

As leis são cúmplices da impunidade.

A corintiana que expôs seu rosto e saiu corrida do Pacaembu não foi ‘ousada’.

Foi irresponsável.

Pensou nas curtidas pela ‘façanha’.

Utópica, não enxergou a violenta sociedade brasileira na qual vive.

Que dá demonstrações de selvageria.

Diariamente.

Ela brincou com a sua vida e a do parceiro.

Teve sorte.

Mas e agora?

Com seu rosto divulgado em todos os portais?

E televisões?

O dela e o do companheiro palmeirense.

Valeu a pena?

Não há mais lugar para utopia.

Irresponsabilidade.

A hora é outra.

De enxergar o mundo como ele é.

Não como gostaríamos que fosse…

Fonte | R
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