Basta de feminicídio. Basta de violência contra crianças. Basta de impunidade!

Basta de feminicídio. Basta de violência contra crianças. Basta de impunidade!

Nos últimos meses, o Estado de Mato Grosso tem sido palco de tragédias chocantes que expõem a face mais cruel da violência doméstica. Em Lucas do Rio Verde, no último dia 24 de junho, um homem esfaqueou até a morte sua esposa — que sofreu ao menos oito perfurações — e deixou sua filha de apenas sete anos gravemente ferida, em seguida tentando tirar a própria vida. A criança não resistiu aos ferimentos horas depois no hospital.

Esse episódio terrível se soma a estatísticas alarmantes: em 2024, 47 mulheres foram vítimas de feminicídio em Mato Grosso — 41 delas eram mães, deixando 89 crianças órfãs. Em 83% dos casos, as mulheres foram assassinadas no ambiente doméstico, muitas vezes em frente aos próprios filhos.

Estamos falando de uma realidade cruel, em que crianças não apenas perdem suas mães, mas crescem marcadas pelo trauma da violência.

E eu me pergunto, com dor e indignação: até quando vamos naturalizar o inaceitável?

A violência não poupa as mais vulneráveis. Dados recentes do Poder Judiciário de Mato Grosso registram um aumento de 21% nos processos por estupro de vulnerável de 2023 para 2024, e com 627 novos casos apenas nos primeiros quatro meses de 2025 — estatísticas que ilustram uma tendência implacável de violação dos corpos infantis, muitas vezes dentro da casa onde deveriam encontrar proteção.

Atuo há mais de 15 anos na defesa incondicional das mulheres, crianças e adolescentes. São anos dedicados a ouvir histórias de dor, mas também a lutar por justiça, proteção e políticas públicas que saiam do papel e salvem vidas de verdade.

Esse crime, como tantos outros que acompanho há anos, é o retrato cruel da violência doméstica e do feminicídio, que seguem dilacerando famílias e envergonhando o nosso país. E o pior: muitas vezes, os olhos da sociedade se acostumam. Mas eu me recuso a me acostumar.

Não podemos nos calar!

A violência doméstica é crime. O feminicídio é hediondo. E quem agride, abusa, ameaça ou mata, precisa ser punido com rigor.

É por isso que sigo nessa missão, com firmeza e responsabilidade, unindo minha atuação jurídica a um propósito social: proteger quem mais precisa. Defender mulheres e crianças não é bandeira de ocasião. É uma escolha de vida. E é por isso que levanto minha voz.

Eu represento uma legião de mulheres e mães que não podem mais ser ignoradas. Eu represento crianças que, sem defesa, viram alvo de monstros dentro de suas próprias casas. Eu represento, todos os dias, a esperança de que a justiça aconteça — e não apenas no papel.

Mas essa luta não é só minha. É de todos nós.

Chega de impunidade. Chega de dor escondida entre quatro paredes. Chega de luto que poderia ter sido evitado. É hora de unir forças: sociedade, instituições, autoridades e famílias.

Denunciem. Cuidem. Apoiem. E exijam mudanças reais.
Basta de impunidade.

Via | Tatiane Barros Ramalho é presidente do Instituto Mato-grossense de Advocacia Network (IMAN) e presidente da Comissão de Infância e Juventude do IMAN.

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