“Everywhere I go, I find that a poet has been there before me.” (S. Freud) Mundialmente reconhecido como o Pai da Psicanálise, Sigmund Freud nasceu na cidade de Freiburg in Mähren (hoje Příbor), na Tchecoslováquia (que na época fazia parte do Império Austríaco), no dia 6 de maio de 1856. Seu nome de batismo era Sigismund Schlomo Freud (virou ‘Sigmund’ em 1878), o primeiro de oito filhos do casal de judeus Jakob Freud e Amalia Nathansohn, que resolveu se mudar com a família para Viena, capital da Áustria, quando o primogênito tinha apenas três anos. Lá, Sigmund Freud passou quase toda a sua vida, fez fama e, mesmo ignorado ou criticado por alguns setores da sociedade da época, virou um ícone pop. Na escola, ele era considerado um bom aluno: tirava boas notas, gostava muito de ler e aprendia idiomas com facilidade. Isso, segundo seus biógrafos, ajuda a explicar o seu desempenho acima da média no grego, no latim, no francês e no inglês, of coursemente. Na verdade, sabe-se que, desde a infância, ele lia e apreciava muito a literatura inglesa. Tanto que, numa ou outra fase da vida, lia as histórias de detetives e de policiais das escritoras britânicas Agatha Christie (1890-1976) e Dorothy Sayers (1893-1957) para relaxar. Amigos e parentes diziam que, apesar dos claros enigmas do bardo bretão, Freud era capaz de recitar as obras de William Shakespeare (1564-1616) em inglês quase perfeito. Em 1907, ao organizar uma lista com “10 bons livros” para o seu editor Hugo Heller, ele mencionou dois escritores ingleses (Rudyard Kipling e lorde Macaulay) e um americano (Mark Twain). Quando adolescente, Freud queria ser advogado, mas, por fim, em 1873, ao concluir o ensino médio, ele decidiu ser estudante de medicina. Aos 17 anos, ele ingressou na Universidade de Viena, onde passava horas estudando o sistema nervoso e temas da psiquiatria. Em 1882, ele conheceu Martha Bernays, com quem se casou em 1886 e teve seis filhos. Isso não o impediu de contribuir enormemente com esse novo campo do conhecimento humano. Tanto estudou e pesquisou que, anos depois, acabou cunhando o termo ‘psicanálise’. Além disso, ele deixou como legado obras como Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901), Cinco Lições de Psicanálise (1910) e Além do Princípio do Prazer (1920), dentre outras. Entretanto, apesar do relativo sucesso e do fato de o inglês ser a sua língua estrangeira preferida, as suas deficiências linguísticas acabaram por se tornar uma espécie de obsessão pessoal por anos. Numa época da sua vida, o idioma bretão se tornou a principal língua na sua clínica, e suas incertezas linguísticas o deixavam exasperado consigo mesmo e com o idioma. A amigos, confessava que as sessões em inglês o cansavam tanto que ele se sentia esgotado mentalmente à noite. Resultado: no inverno de 1919, ele arranjou um professor para “melhorar” seu inglês, mas os resultados das lições não o satisfizeram. Durante sua carreira, Freud formulou teorias, conceitos e tratamentos que influenciaram decisivamente o campo da psicologia mundo afora. Dentre eles estão a hipnose, o inconsciente, o complexo de Édipo e a interpretação de sonhos (conjuntamente com os indefectíveis id, ego e superego). Além disso, é atribuída a ele a prática de colocar a pessoa deitada em um sofá (ou divã), sem contato visual entre o paciente e o especialista. Daí, em 1923, aos 67 anos, ele descobriu que tinha câncer de boca, por causa do hábito de fumar cigarros e charutos desde a juventude. Não teve jeito: ele passou a se submeter a um tratamento muito intrusivo, tendo de passar por dezenas de intervenções cirúrgicas nos anos seguintes. Por fim, acabou retirando parte da mandíbula e teve de usar prótese. Na década de 1930, com a ascensão do nazismo e por conta do antissemitismo, alguns dos seus livros foram queimados em praça pública. Anos depois, em 1938, quando as tropas alemães ocuparam a Áustria, Freud (então com 82 anos) foi convencido por amigos a emigrar para a Inglaterra, país (assim como os Estados Unidos) que exercia certo fascínio sobre ele desde a juventude, apesar das “esquisitices inglesas”. No entanto, como as dores do seu câncer de boca eram intensas, ele recebia doses excessivas de morfina, que o levaram à morte em 23 de setembro de 1939. Nessa época, ele estava morando em Londres, para onde se mudara havia pouco mais de um ano. Detalhe: seu desejo de se naturalizar cidadão britânico nunca se realizou e sua fluência em inglês jamais atingiu o nível almejado por ele. * “Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim.” (S. Freud)
Via | JERRY T. MILL é presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis.
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