Quem estuda idiomas sabe (ou pelo menos deveria saber) que, onde quer que você esteja ou aonde quer que você vá, é preciso prestar atenção a tudo o que está ao nosso redor, pois absolutamente tudo pode (mas não necessariamente vai) servir de motivo ou motivação para o seu aprendizado linguístico. Um exemplo: vendo TV no conforto e na segurança da sua casa. No entanto, em tempo, eu quero aqui reiterar a minha preocupação com a inocência ou a displicência com que algumas palavras da língua inglesa continuam a ser faladas (especialmente nos comerciais) nas emissoras de televisão ou de rádio do país, dentre outros mass media. Uma vez ditas de modo, digamos, alternativo por um desses artistas, jornalistas ou figurões do setor entretenimento, o mal já está feito, ou falado. Como aconteceu um dia desses, quando me perguntaram o significado de uma inocente palavrinha de cinco letras, mas com a pronúncia cabeluda de outra. Explico já, já… Isso logo me transportou para a noite da segunda-feira, 17 de janeiro, data da “aguardada” estreia do agora quase finado BBB deste ano, atração global em que, entre uma atividade e outra, eu bem me lembro, eu dei algumas olhadelas por dois motivos: observar a ocorrência de palavras da língua inglesa tão corriqueiramente utilizadas durante o reality show (olha aí!) e, devo confessar, conferir o início da nova fase do novato apresentador do Big Brother Brasil versão 2022, sucessor do carioca Pedro Bial (1958-) e do paulistano Tiago Leifert (1980-): o potiguar Tadeu Schimdt (1974-), cuja trajetória (e bom humor) eu já acompanho há algum tempo. De tudo o que foi dito, inclusive até mesmo durante os intervalos do programa, o que ficou registrado e tilintando nos meus ouvidos foi quando o agora BBB host anunciou que, além do prêmio de 1,5 milhão de reais, o vencedor desta edição irá levar também o modelo Fiat Pulse para casa quando o BBB terminar (at last!), agora em abril. Vou explicar: acontece que, como ele pronunciou o nome de batismo do veículo a ser dado ao futuro ganhador, ou à futura ganhadora, deu a entender tratar-se de puss, ‘a name for a cat’, segundo o longevo Longman Dictionary of English Language and Culture. Ainda bem que ele não falou pussy, ‘the female sex organs’ (sic), de acordo com o mesmo dic, se me permite tal trocadilho e liberdade poética, dear reader. Pulse, por seu turno, é um vocábulo que pode ser usado como substantivo ou verbo. Neste caso específico, como nome de carro, claramente é um substantivo comum, a ser compreendido como ‘a strong regular beat as in music, on a drum, etc.’ Por se tratar de uma palavra cognata, basta trocar a letra ‘e’ da ortografia da língua inglesa para a letra ‘o’ do português para se saber a sua mais exata tradução, improvisaria Caetano Veloso. Este é um caso interessante porque a pronúncia foi alterada ou abrasileirada (mesmo que inadvertidamente), não sendo mantido o som /pʌls/, tão distinto daquele que foi proferido mais de uma vez pelo Mr. TS, conhecido e reconhecido por suas passagens por diferentes setores do Jornalismo da emissora carioca. Agora, para quem acha que é exagero da minha parte, ou tem memória curta, basta lembrar dos casos envolvendo as palavras country, VIP e, mais recentemente, lockdown. Volta e meia é possível ouvir alguns Brazilians falando essas palavras de um modo bem distante de /kʌntri/, /vi ai pi/ e /lokdaun/, respectivamente. Algo que, não surpreende, também ocorre quando essas mesmíssimas pessoas estão supostamente se comunicando em inglês e não sabem porque os gringos ficam confusos quando interagem com elas. Ou eles acham interessante confundirmos ‘pulse’ com ‘pussy’. Anyway, pior que isso é virar motivo de chacota e zoeira entre nós mesmos, piadistas desapegados culturalmente que somos – seja em casa, na escola, no trabalho ou na rua…
Via | JERRY T. MILL é presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis.
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