Um dos sonhos mais lindos de muitos pais, professores e alunos deve se tornar realidade em 2022: a inclusão de aulas de inglês para “todos os estudantes” da rede estadual de ensino, desde os chamados Anos Iniciais do Ensino Fundamental (1° ao 5° Ano) até o Ensino Médio. Segundo informações da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), em função da incorporação da língua inglesa entre os componentes curriculares, os professores terão formação continuada e acesso à plataforma English Live, que depois será disponibilizada ao alunado, no decorrer do ano letivo. Para que tudo isso pudesse ocorrer, a Seduc informou que foram investidos 14 milhões de reais na contratação das empresas Pearson Education e EF (Education First), que ficarão responsáveis pelo fornecimento do material pedagógico (livros didáticos e paradidáticos) e pelo suporte 24h no meio digital para a comunidade escolar do estado, respectivamente. De acordo com informações oficiais, esse conteúdo digital permitirá que os professores e alunos, de acordo com o seu nível de proficiência, tenham acesso a exercícios de audição, fala, leitura e escrita, além de aulas ao vivo com professores nativos. Isn’t it amazing? No entanto, o que chama a atenção nesse conto de fadas educacional é que tudo isso parece ser bom demais para ser verdade ou, em outras palavras, que nem todas as cartas foram colocadas sobre a mesa. Na verdade, há algumas perguntinhas que não querem se deixar calar. Por exemplo: esses 14 milhões combinados são pagamentos mensais ou anuais, e por quanto tempo? Esse montante inclui o material (para)didático a ser distribuído? As centenas de escolas e milhares/milhões de alunos terão melhor estrutura física à disposição também? Por que entidades como a UFMT, a Unemat e a APLIEMT (Associação dos Professores de Língua Inglesa do Estado de Mato Grosso) sequer foram mencionadas em meio a essa negociação de tamanha envergadura para o setor educacional? Estas e tantas outras perguntas merecem ser respondidas com urgência… Aliás, eis uma especialidade dos gestores públicos brasileiros nas mais diferentes esferas (municipal, estadual e federal): eles são especialistas na arte de vender gato por lebre à população. Como aconteceu em 2005, durante a gestão do então presidente Lula (quando o governador era o Blairo Maggi), em que o governo mato-grossense anunciou o Mato Grosso English Project, fruto de uma parceria entre a Seduc, o British Council (Conselho Britânico) e a Unemat (Universidade Estadual de Mato Grosso). Detalhe: o artigo Inglês para Todos?, que versava sobre esse assunto, foi publicado no A Tribuna no dia 26 de abril daquele ano. Confira! Naquela mesma época, o investimento na língua espanhola e no Mercosul pareciam ir de vento em popa, com a dita intenção de elevar o nível da educação no país. Resultado: nem o espanhol e nem o Tratado de Livre Comércio entre os países hermanos aconteceu como planejado. Aliás, eu escrevi sobre isso nos artigos O Espanhol, o Inglês e o Brasileiro (partes 1 e 2), textos estes que foram publicados no jornal A Tribuna nos dias 18 e 22 de janeiro de 2008, respectivamente. Outro caso a ser considerado ocorreu em 2016. Desta feita, uma parceria entre a Embaixada do Reino Unido no Brasil (que iria utilizar os serviços da mesmíssima Pearson Education, financiados pelo British Prosperity Fund) e o Governo de Mato Grosso por meio da gloriosa Seduc também tencionava a capacitação linguística e metodológica dos professores da área. Um fato curioso: eu não encontrei notas ou matérias que dessem conta do que realmente aconteceu depois… Não me entenda mal, dear reader. Vejo com bons olhos essa nova investida e esse novo investimento do governo do estado no campo da Educação e na área da Linguagem, mais especificamente na seara da língua inglesa. Sinceramente, torço para que todo esse planejamento traga os benefícios que a nossa sociedade tanto anseia, principalmente os fathers e mothers mais zelosos pela boa educação dos seus kids. Agora, eu só não posso deixar de mencionar é essa pulga que eu carrego atrás da orelha toda vez que um ou outro governante ou burocrata vem com essa ladainha de que tudo foi muito bem pensado e que desta vez não tem como dar errado. Sinceramente, resta saber se esta proposta é (e continuará a ser) uma questão de Estado e não de Governo, especialmente neste que é um ano eleitoral. P.S.: Que o sonho seja eterno, enquanto o pesadelo não voltar…
Via |  JERRY T. MILL é presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis.
Print Friendly, PDF & Email
(Visited 1 times, 1 visits today)