Dois mecânicos foram condenados a 20 anos de prisão injustamente, pelo latrocínio de um idoso, em Poconé. Eles cumpriram a pena por um ano na Penitenciária Central do Estado (PCE), mesmo tendo provas de que estava no local de trabalho no dia e na hora do crime.

Segundo a Defensoria Pública do Estado (DPE), os mecânicos foram condenados também a pagamento de dez dias de multa por, supostamente, terem cometido o crime. A sentença inicial foi proferida no dia 23 de abril do ano passado.

Um deles tem duas filhas e ficou longe delas por esse período.

Conforme a denúncia ofertada pelo Ministério Público, eles teriam recebido informações privilegiadas quanto ao fato de o idoso ter recebido seus proventos da aposentadoria e ter guardado o dinheiro em casa.

O Juízo de Poconé proferiu sentença condenatória com base nas declarações dos policiais que atuaram no caso, e as contradições nos depoimentos dos acusados e da testemunha.

Um dos condenados afirma que toda a confusão começou devido ao conserto de uma moto, em outubro de 2020.

“Uma menina ligou para pegar a moto para consertar. Fui lá pegar a moto e levei para consertar. Ela disse que ia buscar no outro dia. Ela perguntou no dia seguinte se a moto estava pronta e eu disse que sim. Então, ela pediu para eu levar a moto até ela e pegar o dinheiro”, contou.

Os dois colegas de trabalho teriam ido, então, levar a moto consertada para a cliente.

“Só que o pai dela apareceu para pegar a moto. Ela entregou metade do dinheiro e prometeu levar o restante no sábado. Porém, no sábado, chegou ela com a polícia na oficina. A PM também foi na casa da minha ex-esposa, reviraram toda a casa”, narrou.

De acordo com o mecânico, os policiais perguntaram a respeito da arma do crime e ele respondeu que não tinha nenhuma arma. “O policial começou a bater em mim na frente de um monte de gente. Não ando armado. Bateram minha cabeça na viatura”, disse.

O jovem relata que ficou cerca de cinco dias na Delegacia de Poconé, sem tomar banho, escovar os dentes e bebendo pouca água. Depois disso, passou 15 dias na Cadeia Pública do Capão Grande, em Várzea Grande, e cerca de um ano na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá.

“Fico indignado com essa Justiça como é no Brasil. Deveria ter mais piedade, mais Justiça, mais investigação. Deveria correr atrás das provas. Se eu fosse um bandido, nem no meu local de serviço estaria. Perdi a maior parte das minhas amizades. Até mesmo algumas pessoas da minha família viraram a cara para mim”, confidenciou.

Segundo ele, seu colega de serviço, que também ficou detido pelo mesmo período, em uma cela separada, está em depressão. “Ele nem consegue sair de casa. Eu ainda saio para ir ao mercado, às vezes. Até mesmo procurar serviço, mas não encontro”, detalhou.

A mãe do jovem revela que toda a família foi afetada pela confusão. “Meu filho ficou um ano preso injustamente. Ele perdeu o emprego, denegriu a imagem dele. É uma situação constrangedora. Espero que a Justiça possa reparar todo esse sofrimento”, desabafou.

Após ação da Defensoria Pública, as testemunhas comprovaram que no dia do fato os acusados estavam na oficina mecânica onde prestavam serviço, não chegando próximo ao local onde o crime aconteceu.

A própria testemunha indicada pelo Ministério Público não ratificou a versão apresentada na delegacia de que teria passado qualquer informação sobre a vítima.

Agora em liberdade, o trabalhador luta para retomar sua vida. “Espero arrumar um emprego, tenho duas filhas. Elas sofreram muito. Eu não estava aqui para cuidar delas. Estava construindo a minha vida, de forma digna. Aí vai e acontece isso. Para quem está aqui fora, parece que não mudou nada nesse tempo. Mas quem está lá dentro sente na pele”, disse.

O relator do caso, desembargador Marcos Machado, destacou a total insuficiência probatória quanto à autoria delitiva, apontando o fato da única testemunha presencial do suposto crime (irmão da vítima) não ter sido ouvida em qualquer fase, a inexistência de laudo pericial do local do crime, a ausência de comprovação dos proventos da aposentadoria recebidos pela vítima e, além disso, ressaltou que as testemunhas de defesa demonstraram que os acusados estavam em seu local de trabalho no momento do crime.

Via | G1
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