Uma vez aqui e outra ali, eu preciso lembrar aos meus alunos, seguidores das minhas redes sociais e pessoas que me abordam nas ruas e avenidas da cidade que esquecer um idioma é muito mais fácil do que aprendê-lo, e leva menos tempo. E digo mais: afinal, em meio a tantas tentações e distrações que temos ao nosso redor hoje em dia (meios de comunicação, eventos, comidas, bebidas, drogas, etc.), quem faz do aprendizado da língua inglesa uma real prioridade na vida, segundo as estatísticas, tem mais chances de chegar mais longe tanto no campo pessoal quanto profissional.

A questão aqui é justamente esta: prioridade. Eu, particularmente, tenho dificuldade de entender porque as pessoas (de todas as idades) desistem do seu sonho de serem fluentes em língua inglesa (ou espanhola, francesa, italiana…) com tamanha facilidade. Como elas, caso estejam matriculadas em um dado curso, chegam a esse estágio, no entanto, é algo notório: atrasos frequentes, faltas recorrentes, perda do material didático, esquecimento da tarefa dada, distúrbios de concentração, dificuldades financeiras, troca de emprego, férias escolares ou trabalhísticas, questões de saúde física ou mental, perda de um ente querido, etc.

Se algumas dessas justificativas para a desistência do propalado “curso dos sonhos” são aceitáveis e incontornáveis, o mesmo não se pode dizer da maioria delas. Isso porque essa maioria depende quase sempre de decisões pessoais que exigem certas renúncias, alguns sacrifícios e muita força de vontade de cada aprendiz, com certeza. Assim, tomada a decisão de fazer ou não fazer algo, está determinado o que deve acontecer nos segundos ou nos anos seguintes. Em resumo: nossa proficiência num dado idioma se constrói a cada passo que damos para a frente, e fica comprometida a cada passo que damos para trás.

Tópicos linguísticos como vocabulário, gramática e criatividade podem ser (in)compreensíveis à primeira vista, mas esse mesmo princípio também se aplica a outras áreas do conhecimento e relacionamento humano. É nessa hora que uma pitada de paciência e persistência costuma fazer toda a diferença. Trocando em miúdos: geralmente aprende (mais) aquele que não desiste no primeiro, segundo ou terceiro obstáculo que surge em seu caminho. Vence quem não desiste da luta!

No entanto, em meio ao bilionário mercado das franquias de escolas de inglês (e outros idiomas) que temos no país, a perda temporária de um aluno quase sempre se mostra algo vantajoso para as empresas. Afinal, quando retornam, esses aprendizes preferem retroceder no seu processo de aprendizagem, voltando um ou mais livros, em vez de seguir de onde parou. Para as franchising schools, isso significa mais meses de estudos a serem dedicados pelo aluno e, consequentemente, mais dinheiro no caixa da empresa por mais tempo. O interessante em tudo isso é que o alunado sequer pensa nessas “coisas de menor importância”…

No caso do aluno que resolve voltar e reiniciar seu curso de um ponto anterior ao que ele estava, mesmo que ele não perceba, isso revela a sua insegurança em relação ao que ele supostamente aprendeu e a sua resignação ao ter que (literalmente) pagar por decisões equivocadas tomadas por ele dentro e fora da sala de aula. Eis algo que, certamente, afeta a sua autoestima e, como não poderia deixar de ser, também o seu bolso e a sua rotina.

Daí eu dizer, com todas as letras, para aqueles que querem saber a minha opinião sobre isso ou aquilo no campo da língua inglesa: quem interrompe seus estudos é geralmente quem mais contribui com a continuidade da chamada “indústria do inglês” no país, cujos tentáculos está tanto no setor público quanto no setor privado, desde as aulas mais mixurucas e improvisadas de fundo de quintal até os cursos mais sedutores e monetizados, muitos deles com a chancela das “melhores e maiores instituições de ensino do mundo”.

Via |  JERRY T. MILL é presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis.
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