Na vida contemporânea, em que a educação tem papel de destaque no nosso dia a dia, o constante embate entre o certo e o duvidoso, o standard e o underground, geralmente tem deixado brecha para uma terceira via: o (in)conveniente. Isso é logo percebido por aqueles que gozam de perspicácia ou simplesmente têm o hábito de observar o óbvio ululante que nos cerca por todos os lados, seja nas escolas ou nas ruas.

Surpreendentemente, repetimos hoje quase os mesmos erros educacionais cometidos pelas gerações que nos antecederam, dentro os quais quero destacar a dedicação parcial ou inadequada ao aprendizado (ou ao ensino) de idiomas, em especial ao da língua inglesa que, tornada obrigatória pelo governo federal (hoje sob a batuta do boca-suja Jair Bolsonaro e sua trupe de puxa-sacos e ‘aliados’), muito se assemelha a um fantasma a apavorar alunos e professores, ou a amaldiçoar o currículo das escolas, especialmente daquelas encravadas em lugares longínquos dos quatro cantos do país.

Superficial e contraproducente, o modelo de ensino-aprendizado da English language como língua estrangeira adotado no Brasil convive com a constatação da evidente falta de estrutura física e de pessoal qualificado, bem como com piadinhas de todo tipo, que se mesclam a crenças nefastas e repetições bisonhas de discursos alheios. Um (bom?) exemplo disso ocorre quando alguns espertinhos afirmam que aprendem (ou aprenderam) mais inglês através de filmes, músicas ou jogos do que na sala de aula propriamente dita, como se isso fosse possível apenas para quem tem poderes sobre-humanos, extraordinários.

Neste contexto, mesmo as chamadas escolas de idiomas têm observado que a qualidade do serviço por elas oferecido tem sido colocada em dúvida quanto à sua eficácia, o que ajuda a explicar o ascendente interesse (e crescente migração) de uma parcela considerável da população para formas alternativas (e mais baratas) de aquisição do conhecimento linguístico desejado – o que inclui o uso de aplicativos de celular ou o acesso diário (quase sempre sem qualquer supervisão) a conteúdos diversos disponíveis na Internet.

Este progressivo estudo-aprendizado incidental, de caráter improvisado e autodidata, preocupa em demasia, pois ele costuma levar os interessados a trilhar um caminho mais instável e imprevisível no campo da pronúncia, da ortografia e principalmente do sentido/significado das palavras, como acontece atualmente na tendência de as pessoas estarem valorizando de forma exacerbada o chamado inglês de rua, repleto de gírias e de expressões fixas, em que a observância das recomendações gramaticais é geralmente relegada a terceiro plano, resultando num linguajar mais relaxado, descuidado, informal e, por vezes, vulgar ou inadequado.

O porém nesse fenômeno é justamente o fato de que o linguajar padrão ainda é o modelo mais cultuado e priorizado nos ambientes em que as interações não envolvem nossos familiares, amigos ou situações mais casuais. É essa despreocupação que pode ser observada tanto nas palavras faladas quanto escritas que abundam nos textos ou vídeos que proliferam via Youtube, Twitter ou Facebook, dentre outras mídias sociais. Ocorre que, uma vez observado, percebe-se que o chamado street English é uma parcela insignificante em meio às palavras tradicionais (faladas ou escritas) que aparecem nos diversos contextos do cotidiano. Resumindo: não se usa essa modalidade de inglês 24 horas por dia! Até porque, se fosse assim, a comunicação de qualidade, inteligível, midiática, provavelmente estaria seriamente comprometida, você não acha, dear reader?

Por fim, vale lembrar que alguns estudiosos e falantes veem no uso do idioma ‘de rua’ (seja ele o inglês, o português ou qualquer outro) uma forma de protesto ou rebeldia contra o ‘sistema’. No entanto, cá entre nós, nem mesmo poetas e artistas como Elvis Presley, Beatles e Bob Marley, ou astros do rap ou do hip-hop, convenceram com essa historinha de valorizar as minorias e lutar contra o chamado mainstream. Para mim, com atitudes como essas, eles apenas exaltam a tão incompreendida ‘liberdade poética’, chamada carinhosamente por mim (e outras pessoinhas) de “estupidez gramatical”.

Via | JERRY T. MILL – presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis.
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