A área de floresta amazônica degradada por ação humana – com uso de fogo, corte seletivo de algumas espécies de árvores e deterioração de matas próximas de pastos e clareiras – já é superior à superfície totalmente desmatada. Os dados foram divulgados por pesquisadores no dia 2 de setembro na revista Nature. Para os cientistas, a degradação de florestas já é a principal responsável pelo empobrecimento socioambiental dos ecossistemas. Como forma de combater as alterações do clima de maneira eficiente, o documento alerta para a necessidade da criação de políticas públicas focadas na regeneração dessas áreas degradadas e da ampliação do debate sobre o tema, especialmente, durante a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), a ser realizada em novembro de 2021 em Glasgow, na Escócia. Entre os anos de 2003 e 2015, a emissão de carbono nas áreas degradadas atingiu 88% do valor emitido pelas áreas desmatadas no mesmo período. Como agravante para este cenário, as emissões de dióxido de carbono (CO2) causadas por áreas degradadas não são apenas imediatas. Florestas deterioradas podem emitir uma quantidade de gás carbônico superior à sua absorção durante anos, o que dificulta a quantificação de suas emissões. Para a diretora de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coautora da carta, Ane Alencar, é preciso rever as decisões internacionais que tratam do combate às emissões de carbono. “Historicamente, os governos amazônicos têm tentado reduzir as emissões decorrentes do desmatamento por meio da fiscalização e de incentivos às boas práticas produtivas. No entanto, outras formas de emissão, como a degradação florestal, têm sido negligenciadas”, explica.

Vista do alto

Com o intuito de obter medições mais precisas a respeito da degradação ao longo do tempo, tanto em área quanto em emissão de gases de efeito estufa, os cientistas utilizaram uma combinação de análises de campo e uma série de dados de monitoramento em grande escala, obtidos por satélites. Dessa forma, foi possível desenvolver modelos mais realistas, capazes de contribuir com a preservação de outras diversas regiões, bem como guiar a tomada de decisão. Segundo Alencar, “a melhoria do monitoramento por satélite e o aperfeiçoamento das técnicas de coleta em campo nos ajuda a ter resultados muito mais completos sobre o impacto de um distúrbio no processo de degradação. Podemos monitorar as emissões das florestas degradadas e relacionar esse mapeamento à incidência de incêndios e à perda de biodiversidade de maneira bem mais clara.” Devido ao impacto em sua vegetação, florestas degradadas também se tornam mais vulneráveis a novos incêndios, sejam eles acidentais ou não. Por esse motivo, áreas degradadas também podem influenciar no processo de deterioração de outras áreas próximas, facilitando o avanço do desmatamento e o aumento das emissões de gases naquela região.
Via | IPAM
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