Em posicionamento recente, o CFP (Conselho Federal de Psicologia) em conjunto com alguns CRPs (Conselho Regional de Psicologia) alertou que a exposição na mídia de casos de suicídio sem o devido cuidado pode ter efeitos deletérios à saúde mental da população. Nesse sentido, a autarquia destacou o manual “Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da mídia” (da Organização Mundial da Saúde – OMS), que apresenta recomendações para profissionais de mídia sobre a divulgação de suicídios. Segundo a publicação, recomenda-se, por exemplo, não divulgar o método empregado, fotos ou cartas de despedida, bem como evitar coberturas sensacionalistas, com glamourização da pessoa, julgamentos morais e visões simplistas sobre a motivação.
“O Sistema Conselhos de Psicologia tem envidado todos os esforços para que a categoria esteja preparada para contribuir ética e tecnicamente na contenção da pandemia, e não irá se furtar a trazer informações e orientações à sociedade”.

O dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e o Conselho Federal de Psicologia (CFP) aproveita a data para chamar a atenção para o papel fundamental da Psicologia na prevenção ao suicídio. Ao ser considerado como problema individual, o suicídio não é reconhecido como questão de saúde pública, e por isso, algumas ações preventivas não são adequadas, porque desconsideram a natureza multideterminada do fenômeno e garantia de aporte transdisciplinar.

Por esta razão, o CFP reforça a importância de que a prevenção, assim como o debate sobre as questões relacionadas ao suicídio, depressão e demais ações de saúde metal, devem ocorrer durante todo o ano, e não apenas em meses temáticos, justamente por abarcarem questões de saúde pública da população. Para o Conselho Federal, a atuação de psicólogas e psicólogos na prevenção ao suicídio deve extrapolar as intervenções estritamente individuais e buscar a compreensão das condições de vida que podem contribuir para produzir sofrimentos mentais intensos. O papel da Psicologia é acolher e ressignificar esses sofrimentos, a partir do entendimento de como são produzidos nas instâncias sociais, históricas e culturais, sempre em diálogo com outros campos do saber. Ao debater o suicídio, não se pode desconsiderar o atual cenário político brasileiro, de retrocessos na Política de Saúde Mental, com o retorno à lógica manicomial e a alteração na Lei de Drogas, que permite a internação involuntária de usuárias(os) de drogas sem a necessidade de autorização judicial, reforçando o modelo de abstinência e das comunidades terapêuticas em detrimento da Política de Redução de Danos e dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD). O CFP alerta que tais práticas de exclusão social em curso nas políticas públicas devem ser consideradas no contexto do sofrimento mental e prevenção aos suicídios.

Números da OMS

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que a cada ano, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida e um número ainda maior de indivíduos tenta suicídio. O suicídio foi a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos em todo o mundo no ano de 2016. Os números apontam o Brasil como oitavo país do mundo em suicídios. Também se constatam taxas elevadas de suicídio em grupos vulneráveis, que sofrem discriminação. Mesmo diante desses números, o tema do suicídio ainda é tratado como tabu pela sociedade, o que acaba impedindo a prevenção aos fatores que levam ao problema. Segundo o relatório da OMS, apenas alguns países incluíram a prevenção ao suicídio entre suas prioridades de saúde e só 38 países relatam possuir uma estratégia nacional para isso. Sensibilizar a comunidade e quebrar o tabu são ações importantes aos países para alcançar progressos na prevenção do suicídio.

Grupos Vulneráveis

As especificidades da população brasileira devem ser consideradas quando observados os casos de suicídio. Isso porque as taxas de suicídio também são elevadas em grupos vulneráveis que sofrem discriminação, como refugiados e migrantes, indígenas, população LGBTI e pessoas privadas de liberdade. Fatores como a rejeição, o preconceito, a violência e as vulnerabilidades sociais contribuem para que essas populações corram mais riscos. Portanto, a saúde mental deve fazer parte da agenda de luta da Psicologia e de toda sociedade em prol das populações vulneráveis.

A Psicologia na saúde mental

Como uma das formas de prevenção, o CFP incentiva o debate sobre saúde mental, que exige uma abordagem permanente e integrada em todos os níveis de cuidados. Para a conselheira do CFP, Ana Sandra Fernandes, a saúde mental do indivíduo está intimamente ligada ao acesso a direitos. “É impossível falar de saúde mental se não temos acesso a serviços básicos, como saúde, educação, lazer, esporte e cultura”, explica.  Ou seja, falar e desenvolver políticas de promoção da saúde mental é fundamental para proporcionar à população o alcance aos serviços de tratamento e apoio social. “Saúde mental tem a ver com o bem estar físico e psíquico, mas também tem a ver com o bem estar social. É um tema que devemos debater falando sobre políticas públicas”, conclui.
Via | CFP.org
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