Você tem fome de quê? “Fome de justiça, de respeito”. Essa foi a resposta dada ao Ministério Público do Estado de Mato Grosso, de forma quase que unânime, pelos participantes da primeira Escuta Social realizada na manhã desta quinta-feira (29) pelo Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos, Diversidade e Segurança Alimentar. Representantes de diversas entidades participaram da discussão e apontaram a ausência de políticas públicas em todos os níveis de governo para promoção da inclusão e de combate à fome.

Alan Teixeira de Lima, membro do Movimento de População de Rua, foi até a uma sala do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Cuiabá para ter acesso à internet e ter direito à voz. “Temos que ter a nossa casa. Até quando vamos viver de doação de cobertores? Até quando vamos viver de marmitas? Somente com endereço fixo poderemos arrumar emprego, poderemos ir ao colégio. Até hoje nenhuma política pública conseguiu nos alcançar”, desabafou.

Clamores também vieram de integrantes de movimentos que atuam na zona rural. Representantes dos Quilombolas, de povos indígenas e de outras comunidades tradicionais reforçaram a necessidade de implementação de políticas públicas para reverter o cenário atual de desigualdades e de exclusão social. “Sem terra não há o que se falar em agricultura familiar. Precisamos promover mais debates para enfrentamento dessa maldita política do governo federal de arrendamento das nossas terras”, destacou Hiparidi Toptiro, indígena no município de Diamantino.

Não somos uma mão estendida em busca de esmola. Temos, sim, mãos cheias de soluções. Contamos com essa parceria do Ministério Público na perspectiva de respaldo e socorro por direito à justiça”, acrescentou a representante dos Quilombolas, Aurinete Vieira Lima.

De acordo com a promotora de Justiça Maria Coeli, a Escuta Social servirá de base para elaboração do projeto “Cibus – Você tem fome de quê?”, voltado à segurança alimentar. “É uma escuta prévia que direcionará a execução do projeto. O espírito democrático é fundamental para o respeito aos direitos humanos”, destacou.

O procurador-geral de Justiça, José Antônio Borges Pereira, enalteceu a importância da discussão e elogiou o formato utilizado, que colocou de lado o aspecto formal das audiências públicas para promover a escuta social. “O Ministério Público precisa saber ouvir. O envolvimento da sociedade é fundamental para enfrentarmos os problemas nas diversas áreas de atuação. Infelizmente, as organizações não governamentais têm sofrido um desprestígio enorme por parte do governo federal. A união de forças é essencial para combatermos as mazelas da sociedade, entre elas a fome. Essa é uma questão de humanidade, comida é direito e não pode ser tratada como esmola, com olhar politiqueiro”, afirmou o procurador-geral de Justiça.

Condutor das discussões, o promotor de Justiça Emanuel Filartiga comparou a sala virtual organizada para a Escuta Social ao gabinete do chefe do MPMT. “Queremos que vocês se sintam dentro do gabinete do procurador-geral de Justiça. Estamos aqui com coragem e amor para falar de uma situação muito dolorosa, que é a forme. A indiferença globalizada é parte da fome do mundo. Queremos ser uma instituição essencial à fome”, afirmou.

O coordenador do CAO dos Direitos Humanos, Diversidade e Segurança Alimentar, promotor de Justiça Henrique Schnneider, enfatizou que pela primeira vez o Ministério Público discute o problema da fome como uma pauta prioritária. “Temos um déficit histórico para com essa pauta. Estamos buscando, por meio do CAO, primeiramente ouvir a população para em seguida criamos em parceria com todos vocês uma estratégia de enfrentamento à fome. O desafio é ambicioso, difícil, mas disposição e engajamento não faltam. Voltaremos a dialogar em momento oportuno quando o nosso projeto, o Cibus, alcançar a sua maturidade”, assegurou o coordenador.

A primeira Escuta Social, realizada nesta quinta-feira (29), contou com a participação de aproximadamente 50 pessoas, representantes de mais de 20 entidades.

PROJETO – Cibus é uma palavra em Latim, que na língua portuguesa significa comida, alimento. O projeto está entre as prioridades do Planejamento Estratégico Institucional do Ministério Público do Estado de Mato Grosso.

Via | Assessoria MPMT   Foto | Banco de imagens
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