A Covid-19 atingiu o Brasil quando estávamos começando a emergir de quase uma década de retração, agravando um quadro que já era difícil. O fato comprova não ser prudente postergar soluções para os problemas que travam o desenvolvimento, pois, além do baixo crescimento econômico e suas consequências sociais, o País fica muito fragilizado ante os incidentes e percalços do mundo, como a atual pandemia. Em maior ou menor proporção, outros episódios da história recente nos abalaram muito, como o crash do subprime desencadeado nos Estados Unidos em 2007 e, à mesma época, o abismo fiscal escancarado em algumas nações da União Europeia, abalando o Euro. Sofremos por situações deflagradas no Hemisfério Norte, sobre as quais não tínhamos qualquer controle. A verdade é que a baixa competitividade nacional, o anacronismo do marco legal, insegurança jurídica, burocracia, impostos exagerados e fluxos desconexos de câmbio, juros e baixa disponibilidade de crédito são comorbidades agudas de nossa economia ante qualquer crise global. É o que ocorre agora, em dimensões mais contundentes, em meio à pandemia. Por isso, teremos de realizar em plena crise o que negligenciamos por décadas, a começar pelas reformas estruturais, principalmente a tributária e administrativa, na sequência da trabalhista e previdenciária, já efetivadas. Também é uma prioridade resgatar a competitividade da indústria, pois seu fortalecimento é um dos fatores decisivos para a recuperação nacional e o ingresso num ciclo duradouro de crescimento do PIB acima de quatro por cento ao ano, mínimo necessário para se promover amplo fluxo de inclusão e ascender a um patamar mais elevado de renda per capita. Os números são incontestáveis quanto ao significado da manufatura: apesar de representar 21,4% do PIB, o setor responde por mais da metade das exportações de bens, 69,2% do investimento empresarial em P&D, 33% da arrecadação de tributos federais e 31,2% da arrecadação previdenciária patronal; emprega 20,4% dos trabalhadores brasileiros e paga, na média, os melhores salários; é a atividade que mais recolhe impostos e promove a difusão de tecnologia e produtividade, segundo dados do IBGE. Porém, a indústria nacional enfrenta grave perda de competitividade. Estudo do Movimento Brasil Competitivo (MBC) revelou que produzir no Brasil custa anualmente R$ 1,5 trilhão a mais, cerca de 22% de nosso PIB, do que na média dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Não é sem razão que, nos últimos seis anos, 36,6 mil fábricas, de distintos setores, tenham encerrado atividades no Brasil. Em 2020, foram 17 por dia. Precisamos reagir de imediato, num mundo onde o novo coronavírus está fazendo recrudescer o protecionismo e aumentando os riscos da dependência, como evidencia neste momento, por exemplo, a carência no Brasil de vacinas contra a Covid-19, um produto da indústria farmacêutica. É premente uma política industrial eficaz. Para isso, todas as representações do ramo precisam unir forças e se mobilizar com foco na competitividade, melhoria do ambiente de negócios, desoneração da produção e redução do “Custo Brasil”. São Paulo tem papel relevante nesse processo, pois representa 29,8% do PIB manufatureiro nacional (fonte: CNI). As empresas do setor, somando forças no âmbito de suas entidades de classe, que precisam estar mais unidas e sinérgicas do que nunca, ganham musculatura e densidade para enfrentar esse desafio tão relevante para o País e o seu povo.
Via | Rafael Cervone é vice-presidente da Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
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