Empatia e solidariedade. São esses os exercícios e valores praticados pelo agente aeroportuário Raphael Cavaleiro, de 35 anos. No começo de fevereiro, ele não pensou duas vezes e resolveu complementar do próprio bolso o restante de novos bilhetes para uma família que havia sido golpeada com passagens falsas. Mais que profissionalmente, cuidou da situação de forma pessoal: foi ele o responsável para que todos ali embarcassem no avião, rumando ao novo endereço de suas vidas.

Os pais, que são um casal de surdos, venderam tudo o que tinham no interior para viajar ao Nordeste e recomeçar do zero ao lado dos filhos. Mas como seria possível, se o então direito ao voo que tinham em mãos se tratava de uma farsa? Aí que entrou a ação inesperada e proativa de Raphael. No Aeroporto Internacional de Campo Grande, ele era o atendente de companhia aérea daquele balcão que a família se encontrava. O que para uns seria “sorte”, para ele significa ter consideração.

“Me coloquei no lugar deles. Além de me emocionar com a situação, senti em meu coração que deveria ajudar, uma vez que eles não tinham nem mais pra onde ir, muito menos condições integrais de pagar novas passagens. Fiz aquilo que sei que era o certo”, justifica.

Assim que se deu conta da maldade que fizeram com aquela família – os pais, duas crianças de colo e uma menina de 9 anos – Raphael pediu licença, se encaminhou até a área restrita para funcionários e foi chorar. “Simplesmente precisava”. Quando voltou, sabia o que tinha que ser feito.

Sem saber se comunicar em linguagem de sinais, foi a filha mais velha de 9 anos a responsável por traduzir o gesto do bem de Raphael para seus pais. “Ela quem intermediou tudo. Na verdade, foi até lindo de ver porque ela se apresentou e conduziu todo o processo comigo como se fosse uma adulta. Via no semblante dela o tom de boa moça, ajuizada, acostumada a fazer aquilo”, diz.

E como o casal recebeu as duas notícias? “Primeiro, ficaram extremamente chateados, sem saber o que fazer quando descobriram o golpe que caíram. Inclusive, contando dinheiro para novas passagens. Em seguida, os tranquilizei e falei que eles poderiam ir sim para o destino”, relembra. A família estava de mudança para o Recife, aproveitando para visitar o avô que se encontrava em estado terminal.

Para Raphael, gestos falam mais que as próprias palavras. “Com certeza as ações precedem o caráter. Tem uma frase que gosto muito do filósofo Edmund Burke que diz: ‘para que o mal triunfe basta que os bons fiquem de braços cruzados’. O que fazemos com o nosso próximo é aquilo que realmente faz a diferença. Quer mudar o mundo? Comece por você”, finaliza.

O presidente da companhia aérea e Raphael durante vídeo-chamada (Foto: Arquivo Pessoal)
O presidente da companhia aérea e Raphael durante vídeo-chamada (Foto: Arquivo Pessoal)

Gesto recompensado – Na sexta-feira (19), até o presidente da companhia aérea Azul, John Rodgerson, ficou sabendo do feito de Raphael. Nas suas redes sociais, assim como nas da própria empresa, o CEO elogiou o profissional campo-grandense.

“Quando tomei conhecimento do caso, fiz questão de ligar pro Raphael e agradecê-lo. Alguns tripulantes, assim como eu, ficaram comovidos com a história e nós da Azul fizemos questão de reembolsar integralmente o valor gasto por ele. Fica aqui o nosso muito obrigado e parabenizações à sua atitude!”, escreveu John.

Via | Campo Grande News
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