Franciely é casada e tem dois filhos, de 1 e 4 anos. Ela trabalhava como maquiadora antes da pandemia, mas depois começou a vender pulseiras para se manter.

A maquiadora Franciely Silva dos Santos de Mello, de 27 anos, que mora em Cuiabá, enfrenta um drama em meio à pandemia da Covid-19. Ela está desempregada e com câncer. Diante das dificuldades financeiras durante o tratamento, está fazendo uma vaquinha online com a ajuda dos amigos para comprar um remédio importado.

Em julho de 2020 ela começou a sentir fortes dores no estômago, falta de ar e enjoo e buscou ajuda em uma policlínica. Na consulta, a médica pediu exames de sangue e urina. Após alguns dias, ela desenvolveu icterícia, ficando com os olhos e pele amarelados.

Os resultados dos exames ficaram prontos em sete dias e apontou alteração no fígado. Nesse tempo em que esperava os resultados, ela não conseguia comer e nem beber água e emagreceu 18 quilos.

“A médica pediu os exames e eu estava desempregada. Na pandemia não tinha como fazê-los pelo SUS e tive que realizar particular”, afirma.

A médica que analisou os resultados disse que Franciely precisaria fazer uma cirurgia com urgência. Foram feitas solicitações para a realização do procedimento cirúrgico na Santa Casa de Cuiabá e no Hospital Metropolitano (HMC). A Santa Casa negou o pedido alegando a lotação do hospital e o HMC aceitou fazer a cirurgia porque ela precisava operar a vesícula de imediato.

“Eu fiquei na sala de medicação por sete dias dormindo. A cada dia chegava um médico e falava uma coisa diferente do meu caso. Eu pedi para ir para a cama porque não aguentava de dor nas costas”, afirma.

Um dos médicos que estavam cuidando do caso de Franciely solicitou um exame chamado colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE), capaz de identificar doenças do sistema digestivo e disse que ela só teria alta do hospital após o resultado desse exame.

O SUS não estava realizando o exame devido à pandemia e Franciely pediu ao médico um exame com custo mais baixo, porque ela e o marido estão desempregados.

“Eu estava há 10 dias no hospital, sendo sete dias sentada na cadeira. No hospital tinha gente com todos os tipos de doenças,”, afirma.

Por não conseguir fazer o exame, decidiu sair do hospital mesmo sem alta do médico. No caminho para casa fez uma denúncia ao Ministério da Saúde relatando o que aconteceu. No mesmo dia recebeu uma ligação do HMC pedindo desculpas pelo que ela havia passado e disse que o hospital ia custear a ressonância e o CPRE que ela precisava.

Ela então voltou ao hospital para fazer o exame e o resultado saiu um dia depois. Depois do resultado, outro médico disse que ela não precisaria fazer o CPRE e que ela tinha uma infecção e um nódulo no fígado.

Foi feito encaminhamento para o tratamento do nódulo no Hospital Universitário Júlio Muller e tomar medicamentos em casa. O hospital não estava atendendo pacientes no consultório devido à pandemia, mas uma médica abriu uma exceção pela gravidade do caso.

Franciely conta que a médica passou outros exames e que toda semana ela voltava no hospital para uma avaliação médica. Com os remédios houve uma melhora na infecção do fígado, mas eram muito caros. Foram 5 meses de tratamento com a compra de remédios a cada 15 dias.

No final de outubro começou a nascer vários nódulos no pescoço e ela começou a ter tosses frequentes. Com o uso dos novos remédios, ela conseguiu voltar a comer, mas não conseguia dormir. Os nódulos cresceram ainda mais ocasionando uma falta de ar e o médico decidiu interná-la.

Novos exames apontaram que os linfonodos estavam inflamados e impediam a passagem de ar. Ela ficou isolada dois dias até fazer a biópsia dos nódulos. Os resultados ficaram prontos depois de 7 dias e descobriu que ela tem linfoma no sistema linfático. Ela então foi encaminhada para o Hospital de Câncer de Cuiabá para começar o tratamento.

O Hospital do Câncer também não tinha vaga e ela ficou 17 dias internada no Hospital Júlio Muller à espera de uma vaga. Com o uso da medicação, os nódulos e a icterícia diminuíram.

Franciely teria que fazer três exames: um para saber o tipo do câncer, outro para identificar o tratamento adequado e outro chamado PET/CT que analisa o estágio do tumor. Nesse tempo, amigos e ex-colegas de trabalho descobriram que ela estava doente.

A ex-chefe entrou em contato com ela sugerindo que fizesse uma rifa, mas ela não tinha condições de comprar e depositou R$2 00,00 para ela comprar leite e fralda dos filhos.

“Pessoas que eu nunca imaginei que pudesse contar, que pudessem se importar comigo, foram as pessoas que mais me ampararam e isso me motivou mais ainda a ficar firme”, afirma.

Os amigos começaram a divulgar as rifas nas redes sociais e o marido de Franciely teve a ideia de fazer a vaquinha online. Os amigos criaram e começaram a divulgar nas redes sociais.

O plano de saúde aceitou a quimioterapia, mas um dos medicamentos, o Bleomycin, que faz parte do tratamento não foi aceito, ela precisaria de 12 ampolas. Esse medicamento está em falta no Brasil e para conseguir o remédio teria que importar o que demorar 15 dias para chegar em Cuiabá.

“Só quem passa sabe o que é. O que mais me preocupa é saber que por falta de um medicamento mesmo tendo plano eu posso ter o resultado não esperado e não voltar para casa, não ver meus filhos crescerem”, afirma.

Franciely é casada e tem dois filhos, de 1 e 4 anos. Ela trabalhava como maquiadora antes da pandemia, mas depois começou a vender pulseiras para pagar as despesas.

“Vendi o carrinho do bebê, roupas seminovas deles, joias de ouro pra nao deixar faltar nada para meus filhos”, afirma.

Via | G1

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