Transmissão do novo coronavírus, cuidados a serem tomados para conter a pandemia, uma possível segunda onda e a chegada das vacinas. Esses foram os temas tratados na Entrevista da Semana da Rádio TRT FM 104.3 com a infectologista e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Márcia Hueb. Ela atua no Hospital Júlio Müller, referência no estado no atendimento dos casos graves da doença.

Leia a entrevista a seguir; ouça neste link.

A TRT FM pode ser sintonizada na frequência 104.3 FM (região metropolitana de Cuiabá) ou ouvida pelo endereço www.trtfm.com.br e pelos sites/aplicativos CX Rádio, Tudo Rádio, entre outros serviços semelhantes.

A OMS alertou que os casos de covid-19 estão aumentando no Brasil. Estamos diante de uma segunda onda? Como está o cenário em Mato Grosso?

Quando voltamos o nosso olhar o hemisfério norte, vemos nitidamente uma segunda onda da covid-19 acontecendo e talvez até causando situações mais preocupantes do que na primeira, não tanto na proporção de óbitos por doentes, mas pela disseminação acentuada de casos.

O que a gente pode observar é que no Brasil nós estamos começando um processo que não é exatamente uma segunda onda porque nós não saímos da primeira. Não chegamos a ter uma redução tão acentuada para dizer que nós saímos da primeira onda. Nesse momento, talvez a gente esteja somando uma segunda onda a uma primeira que não deixou desistir.

Isso vale já para algumas regiões como o Sul e Sudeste. Em Mato Grosso, já sabemos que a tendência é de termos aumento de casos depois do aumento no Sudeste. Então temos que estar alertas porque os nossos casos podem estar aumentando. Se olharmos a ocupação de leitos de terapia intensiva em hospitais privados, no Estado e principalmente em Cuiabá, já podemos observar esse aumento sim.

As festas de fim de ano se aproximam. Qual é a recomendação?

Acredito que esse seja o Natal e uma passagem de ano que vai ser bastante especial. Especial no sentido da compreensão que devemos ter com a pandemia, que favoreceu essa convivência mais intensa com a nossa própria família, principalmente essa família núcleo, que reside no mesmo ambiente, na mesma casa.

Devemos agradecer por essa oportunidade desses momentos que tivemos, e até fazer uma reflexão sobre a vida. As nossas comemorações, de preferência, devem ser restritas ao ambiente da família, melhor ainda se for essa família que habita a mesma casa, mas se for para estender, estender só um pouco, não estamos no momento de grandes aglomerações. Esse deve ser um final de ano que deve ser comemorado com muita responsabilidade.

Que tipo de alerta é preciso ser feito para quem tem relaxado as medidas de prevenção?

Nós já sabemos que grande parte dessa disseminação que se dá hoje nos países da Europa e nos Estados Unidos e agora começa também no Brasil se deve à presença dos jovens em muitos eventos sociais, que levam a ter uma aglomeração de pessoas. Essa frequência em bares e restaurantes e mais ainda em festas e shows, inclusive, são de alto risco de transmissão, mesmo quando ao ar livre porque a proteção potencial de estarmos em ambiente aberto se perde quando estamos próximos, não mantendo o distanciamento e mais ainda se estivermos sem máscara.

O jovem deve estar alerta, primeiramente porque essa situação é de risco, segundo porque ele pode estar levando para dentro da sua casa o vírus e ali pode ter pessoas que desenvolvam uma doença grave e em terceiro que ele mesmo também está em risco de desenvolver uma doença mais grave. A consciência deve ser de toda a sociedade, não importa a faixa de idade que estejamos. 

Quais são as últimas novidades sobre a vacina?

As vacinas são capítulo à parte porque por um lado elas significam uma grande esperança, mas, ao mesmo tempo, aprovar uma vacina não significa que ela vai estar disponível para uso no dia seguinte.

É muito importante que a gente conte com mais de uma vacina porque nenhum laboratório vai conseguir produzir a quantidade de doses necessárias, lembrando que a maioria das vacinas vão ser em duas doses. Então a quantidade de doses necessárias para a população como um todo seria muito grande.

Por isso é importante que a gente tenha mais de uma vacina, pensando que algumas podem ser usadas talvez em ambientes mais urbanos e de cidades maiores e outras podem ser usadas em condições mais adversas. Um exemplo é a Coronavac, que pode ser conservada em geladeira comum e isso é muito importante para poder ser usada em locais mais distantes, onde não é compatível ter um freezer, que o atinja a -80 graus e mesmo -18.

O Governo Federal anunciou uma proposta para vacinação, que é coerente porque começa com profissional em saúde, com idosos acima de 75 anos ou com mais de 60 se estiverem em casas que compartilhem com outras pessoas, casas de apoio, em casas de recolhimento. Depois disso começam a imunização de outras faixas de idade.

Eu vejo que nós vamos ter no mínimo esse ano todo que vem, talvez avançando em 2022 para estarmos vacinando todos.

O Governo Federal incorre em um grande erro quando desconsidera algumas vacinas, por exemplo a da Pfizer. É um erro porque para algumas situações, em centros maiores ela é perfeitamente possível porque temos condição de armazenamento na temperatura adequada.

E outras são ignoradas por questões ideológicas/políticas, como por exemplo a Coronavac, que nem é citada como opção sendo que é a vacina mais próxima de estar pronta. Ao fazer isso, não estão ofertando para a população o que há de melhor.

Cuiabá tem duas vacinas em estudo no Hospital Júlio Muller, uma que serve para a população em geral e outra para profissionais de saúde. O estudo da Coronavac está em pleno andamento, eu sou uma das participantes voluntárias e temos ainda a vacina da Jansen, com outro grupo de professores, para a população em geral. Estamos participando dessa luta.

Podemos confiar na vacina?

Nós podemos considerar as vacinas confiáveis, primeiramente porque elas são feitas em laboratórios, recebem o selo de aprovação, seja do órgão regulatório e também passa pelo crivo da Organização Mundial de Saúde. Mais do que isso, todos os estudos de interesse populacional, interesse mundial são monitorados por comitês externos internacionais independentes que verificam qualquer possibilidade de desvios do estudo. Estão atentos a qualquer ausência de segurança no processo.

Não devemos temer a vacina, não devemos entrar em discussões políticas daquilo que é da ciência. As discussões políticas interessam a políticos que têm seus interesses próprios. Nós temos que estar atentos aquilo que pode de fato favorecer a todos.

Nós não estaríamos onde estamos, atingindo idades muito avançadas, se não fosse o desenvolvimento da ciência e o desenvolvimento de vacinas que impediram que grande parte da humanidade morresse cedo por doenças que hoje são consideradas preveníveis. Temos sempre que confiar nas vacinas, elas são a nossa esperança de um futuro melhor.

Quais as principais orientações e cuidados neste momento de pandemia?

O primeiro cuidado é o distanciamento, isso significa isolamento o máximo possível. Vamos sair para trabalhar, para fazer atividades necessárias, mas vamos permanecer em casa sempre que não for necessário estar na rua. E quando estivermos na rua devemos manter o distanciamento e uso de máscara para proteção pessoal e principalmente para a proteção do outro. Vidas são preciosas, não só a nossa vida, mas a vida do outro também, devemos ter essa consciência.

Precisamos lembrar que tem duas maneiras importantes de transmissão, uma através de gotículas e isso é que leva à nos prevenirmos com mãos limpas sempre, com água e sabão ou com o uso do álcool 70% e evitar colocar as mãos no rosto boca, nariz e olhos. A máscara vai nos proteger daquela outra forma de transmissão que é por aerossóis, que são as partículas menores que ficam suspensas no ar e hoje sabemos que são muito importantes na transmissão.

Então, os cuidados são distanciamento/isolamento sempre que possível, uso de máscara sempre que estivermos com outras pessoas que não aquelas da nossa casa. Além de evitar colocar as mãos no rosto, manter as mãos sempre limpas, lavar as mãos com água e sabão e, se não for possível, com álcool, e evitar aglomerações, sem festas, no máximo confraternizar com pouquíssimas pessoas da nossa convivência, principalmente familiares. Essas são as recomendações mais importantes.

Fonte | Assessoria TRT-MT

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