Primeiramente, dear reader, please leia com bastante atenção a afirmação que fazemos a seguir e, se possível, não nos entenda mal: a língua inglesa, provavelmente, nunca foi, não é e nunca será uma unanimidade no Brasil e no mundo. E isso é um bom sinal! Afinal, seja na época do chamado Inglês Antigo (meados do século V à metade do século XI), do Inglês Médio (a partir das invasões normandas) ou do Inglês Moderno (de 1600 aos nossos dias), o percurso histórico da língua inglesa tem se baseado em fenômenos sociais e econômicos, bem como em razões culturais e educacionais ou, por mais contraditório que isso possa soar aos olhares e ouvidos mais atentos, necessidades emocionais que quase sempre, para dizer o mínimo, beiram os limites do (in)imaginável ou do (in)compreensível.

Senão, vejamos: ano após ano, há séculos, de tudo um pouco pôde ser falado, ouvido, escrito e lido quando o assunto era (ou é) a língua inglesa, ou o inglês. Tudo isso obra não do acaso, mas de ações concretas pró e contra a sua ascensão territorial, cultural e midiática por parte de defensores e detratores do idioma bretão que, cegos e apaixonados pelos seus respectivos pontos de vista, foram, são e serão incapazes, talvez, de ver o óbvio: a existência, a presença e a influência da língua inglesa nos mais diferentes cenários (local, regional, nacional ou internacional) foi, é e (sempre?) será um dilema de dupla face, embora, na prática, mais ajude do que atrapalhe no mundo dos negócios, da educação e do entretenimento atualmente.

No entanto, se, em tese, como defendem alguns especialistas, nenhuma língua é superior a outra, a posição privilegiada da língua inglesa no mundo globalizado em que vivemos em muito contradiz essa afirmação/crença, e a sua posição hegemônica na hierarquia entre os idiomas é um ponto (relativamente) pacífico entre a maioria dos seus usuários e estudiosos, sendo inquestionável o fato de que, ao longo da história da humanidade, o uso/estudo/ensino da English language foi favorecido pelas mais diferentes razões, mas sempre com a interferência, direta ou indireta, daqueles que detinham/detêm o poder e estavam/estão dispostos a mantê-lo, ou até mesmo ampliá-lo.

Não foi por uma casualidade, portanto, que a língua inglesa foi pouco a pouco sendo conhecida e reconhecida como um idioma importante no cenário europeu (Inglaterra), internacional (Estados Unidos e demais ex-colônias britânicas) e “universal” (no mundo todo). Neste contexto, iniciativas como o Basic English, de Charles Kay Ogden (1889-1957), bem como o alto investimento em nichos tidos como essenciais para o Império, seja ele o Britânico ou o Americano (evidente já a partir do final do século XIX), como as grandes navegações, a escravidão e, mais recentemente, a mercantilização da educação e das inovações tecnológicas, ajudaram imensamente no processo de mundialização/universalização da cultura anglo-americana e, consequentemente, na aceitação da língua inglesa como a porta-voz do que há “do bom e do melhor” nos mais diferentes rincões do planeta. Em outras palavras, a English language, depois de séculos, acabou se transformando num bem comum, teoricamente capaz de ajudar (ou atrapalhar) na interação e compreensão entre os povos. Em outras palavras, numa espécie de commodity. Já nas palavras de Pierre Biplan (no livro A Geopolítica do Inglês, da Parábola Editorial), a língua inglesa virou “o esperanto dos negócios”, apesar dos maus-tratos infligidos a ela pelos não nativos, que não são/estão exatamente “livres” para escolher um segundo idioma, como eles próprios acreditam ser/estar.

Não obstante, longe de nós querermos aqui ou ali questionar a eficiência comunicativa da língua inglesa. Seria um reducionismo grosseiro da nossa parte. Cremos que nos cabe apenas ressaltar que a sua posição de língua estrangeira em solo brasileiro tem um valor simbólico e traz consigo tanto vantagens quanto desvantagens para aqueles que querem (ou não) ser proficientes/fluentes no idioma, com efeitos colaterais que vão muito além de imprecisões e gafes que, infelizmente, no inglês falado ou escrito, podem se transformar em julgamentos preconceituosos, segregação cultural e subalternidade intelectual na vida pessoal e profissional, dentre outras possibilidades. Portanto, longe de ser uma língua perfeita, cremos que o status do inglês no meio social brasileiro e planetário deve ser visto e revisto com considerável prudência e cautela, pois o humor dos tempos volta e meia nos ensina que sol ou chuva demais, bem como calor ou frio extremo, acaba por criar em nós hábitos estranhos e (não demora) alienantes.

Fonte | by Valéria Cristina Negrette da Nóbrega Buzatti & Jerry T. Mill -Pós-graduada em Ensino de Língua Inglesa (UFMT) e professora efetiva da rede municipal de ensino

-Mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras), associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis e autor do livro Inglês de Fachada

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