“O feto possuía várias malformações, o que ocasionou uma complicação obstétrica pouco frequente chamada distocia de ombro, na qual a cabeça fetal se exterioriza e o corpo não. Todas as manobras previstas na literatura científica foram realizadas com o intuito de despender o ombro fetal e assim liberar o restante do corpo do bebê. Mas a equipe não obteve sucesso com a realização do procedimento”, disse a nota.A complicação torna o parto vaginal mais difícil e requer cuidados específicos da equipe que trabalha durante a realização do procedimento. Na noite de sexta-feira, a mãe chegou a Belém, vinda de Ourém, em avançado trabalho de parto. Recebida na Santa Casa de Misericórdia, ela passou por um procedimento indicado para a realização do parto natural, mas durante o trabalho a cabeça do feto foi arrancada, segundo o testemunho de uma amiga da família que acompanhava o parto. “Uma (enfermeira) novinha puxou, puxou com força e a cabeça do bebê caiu no chão”, garantiu. O feto já foi levado para o exame cadavérico no Centro de Perícias Científicas Renato Chaves. O pai da criança, Roberto Lemos e uma amiga de Daira, Amanda Vieira Lima, que acompanhou o trabalho de parto, registraram Boletim de Ocorrência no posto da Polícia Civil que funciona dentro do Hospital Santa Casa. No começo da tarde, o governador Helder Barbalho usou sua conta no twitter para prestar condolências à família e informar que havia acionado a Polícia Civil para investigar o caso, assim como dizer que havia determinado o afastamento imediato dos profissionais envolvidos no caso. “Pedi também a Polícia Civil do Pará que apure com rigor o ocorrido.” Em nota curta, a Polícia Civil disse apenas que “já instaurou um inquérito que corre em sigilo para investigar, junto com o Renato Chaves, as causas e os responsáveis, para eventuais punições sobre o caso”. A Fundação Santa Casa também garantiu que uma investigação interna foi instaurada para apurar as condutas técnicas adotadas durante o parto e investigar se houve erro da equipe envolvida no parto do bebê, “dentro do processo de avaliação de riscos e de cumprimento dos protocolos de segurança do paciente estabelecidos pelo hospital”. O hospital confirmou que os profissionais – que não tiveram os nomes divulgados – foram afastados. “A Fundação Santa Casa do Pará lamenta profundamente a morte do bebê e se solidariza com seus familiares”, acrescenta a nota enviada pelo hospital.
A princípio, o casal Roberto Carlos Feitoza Lemos e Daira Oliveira de Souza vão levar o corpo da criança para sepultamento em Ourém, onde a família reside.
O bebê foi o segundo filho de Daira, de 26 anos de idade, que segue internada na Santa Casa. Ela já tem um menino de 10 anos.
Em depoimento, Amanda Lima conta em detalhes o desfecho trágico da tentativa de parto normal.
“…Depois vieram não sei se médicas ou enfermeiras. Uma, já senhora, ficava apertando a barriga da Daira para o bebê sair, a outra mandava ela fazer força para a cabecinha do bebê sair. A cabecinha do bebê não saiu toda para fora porque a Daira não conseguia fazer força. Ela fazia força, a cabeça saia um pouquinho, mas ela parava de fazer força e a cabeça entrava de novo.
Aí essas duas que estavam saíram. Não conseguiram. Veio outra. A sala encheu de enfermeiros e médicos, mais de 10 pessoas. Só que os médicos homens não mexeram com ela, só mulher.
Até que uma bem novinha veio e puxou, puxou, puxou, aí saiu com tudo. Caiu no chão a cabecinha do bebê. Elas pegaram rapidamente. Todos eles se assustaram. Eu saí gritando e a Daira desmaiou.
A Daira sabe que o bebê morreu, mas ela não sabe que ele teva a cabeça arrancada”, contou Amanda Lima.
Ela contou que esteve o tempo todo com Daira Souza, segurando na mão da jovem durante o trabalho de parto.
Segundo Amanda, a equipe que assistiu o trabalho de parto demorou a intervir e quando o fez insistiu no parto natural. “Eles nos deixaram sozinhas dentro da sala por muito tempo. Ela (enfermeira) falou: olha, a gente só vai vir aqui depois que a cabecinha já estiver saindo para fora”, disse Amanda Lima, referindo-se a situações comuns em trabalho de parto normal, pois que são as mães e as próprias crianças que protagonizam, de fato, o nascimento do bebê nessa modalidade.
Segundo o boletim de ocorrência, a jovem grávida esperou por mais de três horas até ser levada para a sala de parto.
Fonte | O Liberal