Mas volume não é tudo. Recentemente, a Tesla ultrapassou a Toyota em valor de mercado, tornando-se a montadora mais valiosa do mundo com sua proposta de carros exclusivamente elétricos. O que só mostra que, para sobreviver, é preciso mais do que tradição.

Neste sentido, o grupo japonês vem preparando um plano agressivo para manter a liderança do mercado global. “Vamos continuar produzindo e vendendo carros, mas também estamos apostando nos serviços de mobilidade. O nosso modelo de negócio está evoluindo”, afirma Rafael Chang, presidente da Toyota do Brasil, em entrevista.

Uma das grandes apostas do grupo é o compartilhamento de veículos. Segundo o executivo, o futuro da mobilidade passa pela expansão do serviço de aluguel de carros: por dia, mês ou ano. “A Toyota já oferecia esse tipo de serviço, mas agora vamos ampliá-lo com o gerenciamento de frotas.”

No início do mês, a montadora lançou a Kinto, joint venture entre a Toyota serviços financeiros e a Mitsui. A nova empresa oferecerá desde o compartilhamento de carros (a partir de julho) até o gerenciamento de frotas corporativas (que deve começar até o final do ano). A Kinto assume o serviço de compartilhamento que já existia no país.

Diante da pandemia do novo coronavírus, a montadora acredita que muitos consumidores devem evitar o transporte público e, por isso, a Kinto chega em um momento estratégico. A operação é feita por aplicativo e o cliente tem à disposição todo o portfólio da Toyota – incluindo o sedã híbrido flex Corolla – e da marca de luxo Lexus.

Smart cities

Ainda no início deste ano, a montadora anunciou a construção de uma cidade inteligente, batizada de Woven City (“cidade entrelaçada”), na base do Monte Fuji, no Japão. O espaço será um ecossistema totalmente conectado, que funcionará a base de hidrogênio.

Segundo a Toyota, a população será composta de residentes e pesquisadores e, no local, serão desenvolvidas diversas tecnologias, como carros autônomos, robótica, casas inteligentes e inteligência artificial, tudo em tempo real. A ideia é começar com 2.000 pessoas e aumentar a população conforme o andamento do projeto, cuja inauguração está prevista para o início de 2021.

Paralelamente, o grupo trabalha para eletrificar todo o seu portfólio até 2025. A Toyota foi uma das primeiras montadoras a oferecer, em escala comercial, um veículo híbrido no mercado global, o Prius.

“Acreditamos que esta é a primeira etapa da eletrificação, pois um carro híbrido não precisa de tomada. O Brasil ainda não tem infraestrutura para elétricos em massa e a combinação com o etanol é a mais limpa possível”, diz Chang.

Conforme o executivo, a transformação da indústria automotiva foi acelerada pela pandemia, mas já vinha acontecendo de forma intensa. “As empresas terão que formar parcerias. A Toyota tem parceiras em nível global, sobretudo na área de tecnologia. O conceito de concorrência está mudando.”

Mercado brasileiro

Para se adaptar ao isolamento social durante a quarentena, a montadora acelerou os projetos de digitalização e o único item que ficou “offline” é a entrega dos carros. “Aproveitamos o momento para digitalizar a rede”, afirma Chang.

As vendas da Toyota tiveram um recuo mais expressivo no segmento de entrada, por outro lado, as categorias de maior valor agregado sofreram menos. A marca é líder absoluta em sedãs com o Corolla e tem vendas importantes em picapes médias com a Hilux.

A montadora projeta para 2020 um volume de vendas de 130.000 unidades no Brasil, 40% menos do que o registrado no ano passado. “A retomada deve ser gradativa, estamos acompanhando com cuidado o comportamento do mercado”, diz Chang.

Ele acredita que a recuperação da economia brasileira virá da iniciativa privada, mas o governo precisa proporcionar um ambiente de negócios que facilite a competitividade. Enquanto isso, além das medidas para evitar a propagação da covid-19 entre os funcionários de suas quatro fábricas no Brasil, a montadora trabalha na saúde financeira de seu ecossistema.

“Nosso foco também é garantir fluxo de caixa à empresa e aos parceiros. Adiantamos alguns pagamentos para dar fôlego aos fornecedores. Estamos atravessando um momento difícil, mas resolvendo os problemas aos poucos.”

Fonte | Revista Exame

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