Já faz um bom tempo, a educação brasileira entrou na mira do mercantilismo/capitalismo (selvagem, como diz aquela canção dos Titãs?) e se transformou numa farta fonte de recursos para malas e espertalhões de todos os quilates tanto no setor público quanto no setor privado, no ensino fundamental, médio e superior, ou nos chamados cursos livres, onde se encaixam as escolas de idiomas.

Nessas language schools (que existem aos milhares no país), duas informações são altamente confidenciais, top secret: o total de alunos que elas efetivamente têm e especialmente o percentual de desistência dos seus aprendizes no decorrer de cada semestre ou ano letivo. Dados negativos como esses são tratados como aquela sujeirinha que, uma vez juntada, é varrida para debaixo do tapete, a fim de manter a aparência de limpeza, ou de ‘normalidade’ das coisas.

Ocorre, porém, que no cotidiano dessas instituições, em meio às metas e exigências feitas a seus colaboradores, mormente aqueles que lidam diretamente com os alunos na sala de aula, não há argumento que convença o aluno-cliente a permanecer numa instituição em que ele é visto como um saco de dinheiro ambulante e não como um ser humano comum, com seus limites e suas limitações, bem como suas obrigações, seus sonhos e suas frustrações ou suas conquistas diárias. Uma criatura que às vezes realmente não tem tempo para frequentar as aulas com assiduidade, fazer as tarefas solicitadas ou até mesmo ao menos folhear o material em casa, no trabalho ou na rua. Incapaz de seguir o ritmo espartano ditado pela modernidade e pela fugacidade do tempo tanto dentro quanto fora da sala de aula. E o mais grave: ele é geralmente alguém que não conhece o próprio perfil de aprendizagem!

Claro que desemprego e problemas emocionais também ajudam a explicar porque um enorme contingente de pessoas se tornam ex-alunos das escolas de idiomas, mas não podem servir de bodes expiatórios nessa nefasta equação. Primeiro porque desemprego nem sempre é sinônimo de falta de dinheiro e, segundo, problemas emocionais todo mundo parece ter atualmente, principalmente os language teachers, seja por causa dos baixos valores que eles recebem por hora-aula ou da carga horária pesada que eles têm que cumprir dentro e fora dessas instituições de ensino, muitos dias por semana.

Por outro lado, facilidades da vida moderna, como cursos via Internet ou semipresenciais, além da existência de centros de línguas ou centros de idiomas das faculdades ou universidades, dentre outras instituições existentes por aí, são fortes concorrentes das escolas de idiomas, que buscam no marketing intensivo (e às vezes invasivo) uma forma de captar (e manter) seus aprendizes nas suas salas de aula. Algo que nem sempre funciona como o esperado, baby, pois, na prática, semestre após semestre, o mesmo fenômeno acontece: um aluno após o outro vai saindo da lista dos matriculados e entra no rol dos ex-students desta ou daquela language school, deixando no ar um quê de desapontamento e mágoa em ambos os lados.

Sinceramente, embora eu já tenha ouvido falar que as escolas de idiomas estão com os seus dias contados, eu não creio que isso vai acontecer tão cedo. O que elas precisam, na verdade, é tão somente melhor se adaptar aos novos tempos, oferecendo preços mais acessíveis, material mais barato, metodologia mais flexível e profissionais que realmente gostam do que fazem (e não estão ali apenas pelo dinheiro). Como isso não deve acontecer tão cedo no Brasil, a tendência deve se manter a mesma: um considerável percentual de aprendizes desistindo de estudar inglês, a lingua franca do momento, não apenas por um motivo, mas uma sequência deles, que na maioria das vezes é negligenciada pela visão mercantilista/capitalista dos empresários do setor.

Food for thought.

Fonte | Jerry Mill -Mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras), associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis e autor do livro Inglês de Fachada

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