No desfile da Gucci na Semana da Moda de Milão, Ayesha Tan Jones desfilou com uma peça com semelhanças aos coletes-de-forças. Como protesto, levantou as mãos para mostrar uma mensagem: “A saúde mental não é moda.” A marca justifica que a colecção é referente a “humanidade e uniformes”.

Quando Ayesha Tan Jones entrou na passarela este domingo, 22 de Setembro, na Semana da Moda de Milão, mostrou as palmas das mãos em sinal de protesto: “A saúde mental não é moda”, lia-se, enquanto caminhava num tapete rolante. O protesto aconteceu em pleno desfile da colecção Primavera/Verão 2020 da Gucci, que apresentou algumas peças inspiradas em uniformes utilizados em hospitais psiquiátricos e em coletes-de-forças.

Na sua conta de Instagram, Ayesha, que nasceu no Reino Unido, partilhou um vídeo e uma fotografia com o momento, acompanhado de um texto onde agradece o apoio do público e das suas colegas que, escreve, sentem também que “o estigma à volta da saúde mental deve acabar”. “Como artista e modelo que já passou por problemas relacionados com saúde mental, bem como com familiares que já sofreram de depressão, ansiedade, bipolaridade e esquizofrenia, é doloroso e insensível ver uma marca como a Gucci a usar estas referências como um conceito para um momento de moda”, lê-se.

Após o desfile, Alessandro Michele, director criativo da Gucci, disse numa conferência de imprensa que tinha pensado sobre “a humanidade e uniformes” aquando da criação da colecção. “Um uniforme é algo que te bloqueia e restringe — que te torna anónimo. Que te faz seguir uma direcção”, justificou, citado pelo The Guardian. E o colete-de-forças é “o principal tipo de uniforme”, referiu. Um porta-voz da marca disse, citado no mesmo texto, que os uniformes e coletes-de-forças eram uma “tomada de posição do desfile” e que não serão comercializados.

Mas Ayesha, que se assume como pessoa não-binária, é peremptória: “Os coletes-de-forças são um símbolo de uma altura cruel da medicina, quando as doenças mentais não eram entendidas, os direitos dos doentes eram-lhes retirados e eram abusados e torturados em instituições.” Ayesha escreveu também que, juntamente com algumas colegas, doou uma parte do seu salário para organizações que ajudam pessoas com doenças mentais. “É de mau gosto que a Gucci use estas imagens em alusão a pacientes com doenças mentais, enquanto deslizamos num tapete rolante como um pedaço de carne fabricada.”

Esta não é a primeira vez que a Gucci está no centro de uma polémica. Em Fevereiro último, a marca descontinuou a venda de uma camisola preta com uma gola que chegava até meio da cara e tinha o recorte de lábios grossos à volta da boca, por ter sido acusada de racismo pela semelhança à blackface.

Fonte | publico.pt

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