Você utiliza muito a internet? Fica nervoso quando o pacote de dados acaba ou não consegue olhar as redes sociais? Prefere o mundo virtual em vez de interação social? Saiba que essa necessidade excessiva já foi diagnosticada como vício não químico e se chama Transtorno de Dependência a Internet (TDI). Conceito novo, ele teve seu primeiro registro ainda em 1995, e cresceu à medida que a internet avançou.

Silencioso e agressivo, o vício pode gerar graves sequelas no desenvolvimento cognitivo de crianças e no comportamento social de adultos, propiciando o desenvolvimento e agravamento da ansiedade e depressão. Além do desempenho no trabalho, no convívio familiar e com amigos.

A psicóloga Larissa Zimmerman explica que a pessoa que sofre do transtorno dificilmente identifica que precisa de ajuda, assim como muitos outros desequilíbrios, por isso o apoio e atenção de quem está próximo são de suma importância para a identificação e controle do vício.

“Tudo que é usado de maneira excessiva se torna um vício. Como compras, algo que você não tinha e depois começa a usar de maneira exagerada é prejudicial. A internet veio para nos ajudar e isso depende da maneira que cada um usufrui dela”, explica.

O uso excessivo da internet é um vício? Sim. É um vício descrito no Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais. Um Transtorno de dependência com a internet, é uma dependência não química que tem o mesmo formato da dependência química.

Quais os sinais do transtorno? O isolamento social, conflitos familiares. A pessoa não consegue mais controlar o próprio uso da internet. Começa mentir sobre o quanto fica no smartphone ou mesmo assistindo séries e todo tipo de tecnologia. Tudo que passa a gerar problemas e se torna um uso excessivo na vida da pessoa caracteriza um transtorno patológico. Tudo que é exagerado e traz prejuízo para as áreas da vida passa a ser um vício. Quando causa sofrimento, preocupação demais quando fica sem celular, sem internet, usar celular como fonte de prazer ou de fuga.

Isso pode causar ou agravar quadros de ansiedade de depressão que o internauta já tenha? Sim. Ela pode sim causar e piorar o quadro de uma pessoa que tem quadros de ansiedade e depressão. Como o instagran, que tem muitas fotos, se ela tem a necessidade de atualizar sempre o feed, ver o que estão publicando, incentiva o imediatismo e ansiedade. A pessoa não tem paciência, não consegue esperar ela não desenvolve a empatia. Trabalha muito mais o egocentrismo. Ela estimula a depressão na medida que estimula a comparação do feed perfeito, tem o isolamento, atrofia as habilidades sociais, se a gente não treina essas habilidades convivendo com outras pessoas, ela se perde. Há também uma busca excessiva por aprovação a cada vez que algo é publicado. Tem um prazer a curto prazo que acaba logo. Isso traz prejuízos a longo prazo e prejudica as pessoas a desenvolverem o autoconceito, que pode acarretar na depressão.

Esse excesso de interação virtual também tem impacto nas crianças? Impactos enormes. A Sociedade Brasileira de Pediatria diz que as crianças podem ter contato com as telas a partir dos dois anos. O acesso precoce atrapalha o sono, o apetite, o desenvolvimento cognitivo. A gente aprende por meio das interações sociais, se não há esse contato a criança perde muita coisa. Uma criança que fica muito tempo nos jogos, desenho e celular tem maior probabilidade de desenvolver transtornos de ansiedade e depressão. Sem a interação física, o prazer dela passa a estar ligado à tela e os prejuízos são gigantes.

É comum observar em rodas de amigos as pessoas focadas no celular e não interagindo entre si, quando foi que as relações se tornaram mais virtuais que reais?

Não há um marco, mas hoje as pessoas estão muito imediatistas e não querem (algumas delas) empenhar energia naquilo que não interessa tanto. São muitas opções e tudo se tornou um tanto descartável. As pessoas estão juntas, mas pensando no que vai acontecer, no problema, na família, no que tem que resolver no trabalho e não se dedicam aquele momento presente, porque estão muito preocupadas em resolver tudo no celular. É muita informação, muito imediatismo e muito pensamento de ansiedade no futuro. É uma carga de estresse e ansiedade muito maior.

A pessoa que é viciada em internet tem consciência dessa dependência? As pessoas que têm transtornos em geral se acostumam com algo que é disfuncional e acreditam que é funcional. Pensam que a atitude não faz mal a ninguém e não tem problema. Só estou jogando meu jogo ou vendo minha série e não faço mal a ninguém. Mas quais são os prejuízos na funcionalidade da sua vida?

É muito difícil identificar isso sozinha. Nós precisamos de ajuda. É interessante que pessoas próximas observem e alertem sobre isso.

Como quebrar o círculo do vício? É preciso pensar em responsabilidade, tanto com as crianças quanto com nós mesmos. É preciso ter consciência quanto ao uso da tecnologia e regulação emocional. Sou defensora de que as pessoas deveriam ser educadas dos próprios sentimentos. Há adultos que não sabem lidar com a tristeza, frustração. Todas as emoções são funcionais, é preciso entender o que o uso das redes sociais trazem. Se percebo que aquilo não está me fazendo bem, diminuo meu uso. Se estou em uma reunião familiar e espero alguma mensagem o trabalho ou qualquer outra e aquilo está me causando ansiedade, é preciso rever, diminuir isso para que eu possa aproveitar minha reunião, estar com as pessoas. Se conseguirmos ter essa regulação emocional, podemos fazer uso de tudo o que é bom, porque a tecnologia ajuda muito.

Fonte | Gazeta Digital

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